Trotsky e o Trotskismo


Nota de Edição Francesa(1)


capa

Os velhos militantes marxistas russos conhecem Trotsky e é inútil falar-lhes dele...
Mas a jovem geração operária não o conhece e é necessário falar-lhe dele... É preciso que a jovem geração saiba com quem tem de se haver quando certas pessoas erguem pretensões inacreditáveis... Lenine

As preocupações que nos incitarem a publicar esta recolha de textos e documentos são as mesmas que ditavam a Lenine as linhas que acabamos de ler no frontispício.

Fomos, por outro ledo, encorajados a fazê-lo pelos numerosos e insistentes pedidos que nos chegaram de leitores pertencentes às mais diversas tendências do movimento operário.

Antes de mais precisemos que, se se trata de uma escolha, não há nesta nada de arbitrário. Tomámos simplesmente os problemas essenciais que, desde há mais de trinta anos têm dividido leninismo e trotskismo e demos, a propósito de cada um, os extractos mais característicos. Poderíamos dar o dobro destes, todos tão humilhantes para Trotsky, para a sua doutrina e para a sua acção.

Da leitura abundante das obras de Lenine, Staline, Trotsky, etc., que nos foi necessário voltar a fazer, ressaltou, à medida que avançávamos no nosso trabalho uma conclusão incontestável. No decurso dos quarenta anos da sua vida política, o acordo e a colaboração de Trotsky com Lenine e o Partido Bolchevique foram apenas excepcionais e acidentais, a regra foi, pelo contrário, a sua oposição ao leninismo. A Revolução de Outubro arrastou no seu turbilhão muitos elementos incertos, a que emprestou um pouco da sua glória e da sua auréola, e que a deixaram quando o seu fluxo passou e as primeiras dificuldades da construção do mundo novo surgiam. Trotsky foi o mais típico destes «companheiros de viagem», chegados tarde e apeados cedo.

Quarenta anos de atividade política, dez anos apenas (1917-1927) no Partido Bolchevique, e dois terços desta década ocupados em lutas fraccionistas incessantes contra a maioria do Comité Central do PC da URSS. Estes números são sugestivos.

Não se pode reprovar a Trotsky uma falta de constância. Na realidade, há nele uma persistência singular no erro, que sempre o afastou do marxismo consequente, e depois do movimento operário revolucionário.

Seguir-se-á, lendo estes extractos, o caminho que ele percorreu e que o conduziu do menchevismo à contra-revolução, à colaboração mais desavergonhada com o fascismo mais declarado. Portanto, as vias de Lenine e de Trotsky não apareciam como paralelas, mas como incessantemente e cada vez mais divergentes.

Depois de tudo isto, o que é que resta das «pretensões inacreditáveis», de que já Lenine falava, de Trotsky e dos seus adeptos, pequenas seitas de conspiradores contra-revolucionàrios sem apoio nas massas operárias? De que valem as etiquetas demagógicas, mentirosas e enganadoras com que se encapotam para passar de contrabando a sua mercadoria putrefacta: «bolchevique-leninista», «partido comunista internacionalista», «partido operário internacionalista?» Queriam cobrir-se com a bandeira de Lenine para trair o leninismo, como outrora outros se reclamaram de Marx para rever o marxismo.

Esperamos que este rápido trabalho ajude o esclarecer esta questão das relações do trotskismo com o marxismo-leninismo. Ele constitui apenas uma primeira e modesta tentativa, e continua por escrever uma obra mais completa.

Tal como está, pensamos que vai ter alguma utilidade, pois é necessário que todos os trabalhadores, todos os militantes do comunismo e da Frente Popular «saibam com quem têm de se haver».

1937


Notas de rodapé:

(1) Bureau d’Éditions, Paris, 1937. As Éditions Norman Béthune (76, Boulevard Saint-Michel, Paris 6*) publicaram, em 1971, uma edição fac-similada desta 1.ª edição francesa. (retornar ao texto)

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Inclusão 01/03/2014