Trotsky e o Trotskismo


O Trotskismo e a Espanha


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O trotskismo tornou-se hoje um fenómeno internacional na luta contra a União Soviética e a revolução proletária.

Para o caracterizar de uma maneira completa e exata, seria preciso dar exemplos da sua atividade nos mais diversos países. Vê-lo-íamos então, erguer-se contra a Frente Popular em França e nos outros países onde esta formação de luta contra o fascismo está na ordem do dia; vê-lo-íamos tornar-se na China o colaborador dos elementos mais reacionários, dos inimigos mais encarniçados do movimento de emancipação nacional; vê-lo-íamos beneficiar na Alemanha da indulgência cúmplice dos carrascos hitlerianos.

Aparece-nos por todo o lado, sob um palavreado de «esquerda». «ultra-revolucionário», como um fator de divisão e de desmoralização do movimento operário e da união antifascista, dirigindo sempre e por todo o lado os seus principais golpes contra a União Soviética e os Partidos Comunistas, tornando-se assim o auxiliar do fascismo e da reação mais negra, justificando a todos os títulos a etiqueta aviltante com que Staline o marcou para sempre, de «vanguarda da contra-revolução mundial».

Uma tal escolha de extratos, se poderia ser interessante, ultrapassaria contudo singularmente os quadros desta obra. Limitar-nos-emos por isso a citar dois artigos que apareceram na Correspondência internacional, desmascarando as atuações do trotskismo em Espanha.

Relativamente aos outros países, o leitor poderá documentar-se na imprensa operária internacional. Aí encontrará quase quotidianamente fatos que corroboram tudo o que acabámos de dizer.


A Atividade dos Trotskistas em Espanha


O interesse principal do fascismo na Espanha republicana é a destruição da Frente Popular. Desde 16 de Fevereiro de 1936, quando a Frente Popular obteve a maioria esmagadora nas eleições parlamentares, ela tornou-se o pior inimigo do fascismo, o mais odiado, precisamente porque é o melhor instrumento para impedir que o fascismo se apodere do poder num país.

Todos os dias, em todas as ocasiões, nos seus discursos e na sua imprensa, os trotskistas atacam violentamente a Frente Popular e os seus representantes e encarregam-se de semear a discórdia entre os operários e outras camadas antifascistas da Frente Popular.

A política da Frente Popular — escreve a Batalla, órgão trotskista, no seu número de 29 de Maio — conduz, como havíamos previsto, ao enfraquecimento dos partidos e das organizações operárias que a praticam.

E mais adiante, num artigo intitulado «A Frente Popular conduz-nos ao fascismo»:

Fala-se de fortificar a Frente Popular com a qual se enfraquecem as energias e se paralisam as ações combativas das massas operárias e camponesas. Em lugar de se frear a decomposição dos partidos republicanos, deve-se precipitá-la o mais possível. É também necessário precipitar a experiência democrática das massas. Para isso, uma condição indispensável é a ruptura de toda a ligação orgânica com a burguesia republicana. Em lugar da Frente Popular, Aliança Operária Nacional.

Agora, durante a guerra civil» tentam ainda por todos os meios romper a Frente Popular, lançando reivindicações de aparência radical, e semear a divisão entre as diferentes forças que a compõem. Servem assim os carrascos fascistas dos trabalhadores, os assassinos de mulheres e de crianças indefesas.

Contra o governo da República

A tarefa seguinte do fascismo é enfraquecer por todos os meios possíveis o governo da República assim como o governo da Generalidad da Catalunha. Também neste sentido, os trotskistas lhes prestam serviços maravilhosos. Vejamos alguns exemplos concretos.

Quando se constitui em Madrid o governo Largo Caballero. o partido trotskista em Espanha, «partido operário de unificação marxista» (POUM) e o seu órgão, a Batalla, dirigiram furiosos insultos contra o que chamaram «traição dos interesses do proletariado» protestando contra o governo, ao grito de: «Abaixo os ministros burgueses!»

Mais tarde, depois de se haver constituído na Catalunha o governo da Generalidad, com a participação de um conselheiro trotskista, o POUM e o seu órgão, a Batalla, atacaram duramente o governo, qualificando-o diariamente de contra-revolucionário. Quando as forças representadas neste conselho fazem esforços para lhe facilitar a tarefa de unificação de todas as vontades do povo catalão, os trotskistas que estão representados e participaram na redação da declaração do Conselho, atacam na sua imprensa a composição e a declaração do Conselho.

A 12 de Dezembro reuniu-se o Comité Executivo do POUM e o seu secretário, Nin, apresentou um relatório. Declarou que o governo de Valência, apesar da participação das organizações operárias, defendia mais os interesses da República burguesa do que os interesses da revolução. Comentando a crise do governo da Catalunha provocada pelas manobras criminosas do POUM e no decurso da qual o ministro trotskista foi afastado do governo, acrescentou, procurando sempre separar a CNT (central sindical anarco-sindicalista) das outras forças representadas no governo:

A crise do governo da Catalunha é motivada pelo fato de que o nosso partido e a CNT não querem permitir a perda das conquistas-da revolução. Trata-se de duas tendências, a tendência revolucionária representada pela CNT e pelo POUM e a tendência, contra-revolucionária representada pelo Partido Socialista Unificado e pelos dirigentes da UGT (central sindical socialista), assim como pelos republicanos de esquerda.

Nin indicou a bancarrota do Parlamento burguês e declarou que o POUM:

defenderá a palavra de ordem da substituição do Parlamento por uma outra organização composta de delegados dos comités de operários e de representantes dos sindicatos e do campesinato.

Por último, os trotskistas conduziram uma campanha desenfreada a respeito da questão do abastecimento do povo catalão, semeando o pânico entre a população e dirigindo duros ataques contra o Conselheiro do Abastecimento, Comorera, secretário do Partido Socialista Unificado, acusando-o de especular com a fome do povo.

Contra a unidade proletária

O fascismo procura por todos os meios, utilizando os seus agentes trotskistas, impedir, em primeiro lugar, a unidade, e se isto não resultar, utiliza todas as ocasiões para romper a unidade.

Na altura da fusão das Juventudes Socialistas e Comunistas em Abril de 1936, os trotskistas conduziram uma campanha encarniçada contra esta unificação assim como contra a unificação da UGT e da CGTU (sindicatos vermelhos).

No domínio da juventude como no domínio sindical, os socialistas absorvem os comunistas oficiais. Um partido que fica sem movimento sindical e dos jovens é apenas uma caricatura de partido. Os seus dias estão contados.

Utilizando o fato de todas as organizações populares e operárias estarem envolvidas, na luta contra a sublevação fascista, os trotskistas criaram a dita «Juventude Comunista Ibérica». Enquanto os proletários honestos e os antifascistas convictos lutam na frente, os trotskistas fazem um trabalho de desorganização e de cisão contra-revolucionário na retaguarda.

Por ocasião da assinatura de um acordo de unidade de ação entre a UGT, a CNT, a FAI (Federação Anarquista Ibérica) e o Partido Socialista Unificado da Catalunha, assinatura acolhida com grande entusiasmo por todo o povo catalão, a Batalla ataca violentamente este pacto de unidade ao mesmo tempo que o esconde aos seus leitores.

Contra a União Soviética

A ajuda que o proletariado internacional dá, do exterior. ao povo espanhol e principalmente a solidariedade e o amor dos trabalhadores da União Soviética é um fator muito importante para o triunfo da Espanha antifascista. Consequentemente o fascismo espanhol utiliza lacaios, os trotskistas, para atentar contra a vida dos dirigentes do governo e do Partido da União Soviética, para fazer atos de sabotagem, para praticar a espionagem. Na Espanha, o fascismo utiliza os trotskistas para realizar uma luta feroz contra o país do socialismo triunfante e contra os que o conduziram ao triunfo.

Vejamos alguns exemplos.

Os chefes do POUM escreviam que os dirigentes da União Soviética e da Internacional Comunista não se interessavam pela luta do povo espanhol. As ações diplomáticas da União Soviética a favor do povo espanhol, toda a campanha de solidariedade realizada pelos Partidos Comunistas em todos os países seriam apenas a expressão do desejo de não intervir direta e concretamente ao lado dos antifascistas.

Na ocasião da chegada a Barcelona do navio soviético Sirianine, que provocou um entusiasmo delirante entre a população catalã, os trotskistas escreviam: «Sim, são os cidadãos soviéticos que nos ajudam, mas não o governo soviético.» E, enquanto a solidariedade soviética fazia vibrar de entusiasmo o povo espanhol, estimulando-o para a luta e reanimando a sua fé no triunfo, acrescentavam, continuando deste modo a campanha internacional conduzida pelo fascismo:

Se Staline cedeu e dá a sua solidariedade, é porque pensa que desta forma enfraquecerá as posições do fascismo nazi, que Staline considera o seu principal inimigo.

Segundo a Batalla, resulta que Staline ajuda a Espanha republicana para enfraquecer a Alemanha sua inimiga. Daí se tira a conclusão fascista que os provocadores da guerra são os comunistas.

Os ataques dos trotskistas contra a União Soviética tornaram-se tão agressivos e tão caluniosos que o cônsul-geral da URSS em Barcelona teve que os denunciar publicamente. Numa nota, o consulado-geral da URSS em Barcelona disse:

Uma das manobras da Imprensa fascista internacional consiste em caluniar declarando que o representante da União Soviética creditado junto do governo dirige de fato a política interna e externa da República Espanhola. Os objetivos dos lacaios do fascismo, difundindo uma semelhante insinuação, são bem claros. Em primeiro lugar, querem prejudicar o prestígio do governo da República Espanhola. Em segunda lugar, enfraquecer o sentimento de solidariedade fraternal que se torna cada dia mais forte entre o povo de Espanha e o da União Soviética, base moral principal da luta antifascista. Em terceiro lugar, ajudar e reforçar as tendências de diferentes, grupos incontrolados e irresponsáveis para a desorganização da Frente Única Republicana. E eis que, entre os órgãos da imprensa catalã, aparece um que empreendeu a tarefa de ajudar esta campanha fascista. No seu número de 27 de Novembro, a BatalIa encarrega-se de fornecer material às mencionadas insinuações fascistas.

Contra as Brigadas Internacionais

Na guerra, o papel dos trotskistas é utilizar os pequenos grupos que organizaram para trair, para se retirarem nos momentos mais decisivos da luta.

Eles dirigem ao mesmo tempo ataques contra a reconstrução do exército operário, exigindo um Exército Vermelho, e não um Exército Popular.

As gloriosas Brigadas Internacionais são também objeto do ataque dos trotskistas. Eles dizem que elas estão ao serviço do Partido Comunista oficial e da URSS, que estão ao serviço de Staline, que são um grande perigo para a Espanha antifascista.

Eis o que escreve ao mesmo tempo o jornal de Franco, Heraldo de Aragon:

Staline propõe-se amplificar e consolidar a sua influencia em Madrid e Valência, depois de ter assegurado a sua dominação na Catalunha. Para este efeito, Staline tem diariamente longas conferências com Rosenberg, o seu delegada junto do governo Largo Caballero, ao qual dá instruções correspondentes.

Esta atitude foi claramente confirmada pelo ministro vermelho, Jésus Hernandez, comunista, que disse: «Agora, devemos começar o trabalho definitivo da eliminação do POUM que é uma organização traidora e anti-soviética. Depois, aniquilaremos a CNT. Se eles oferecerem resistência, contamos com o apoio incondicional da Brigada Internacional.»

Para quem é que as Brigadas Internacionais constituem um perigo? Para o fascismo. É por isso que são atacadas pelos trotskistas, seus aliados. As Brigadas Internacionais não são Brigadas Comunistas. Nas fileiras das Brigadas Internacionais lutam lado a lado socialistas, anarquistas, comunistas, democratas, intelectuais, homens de todas as correntes antifascistas. As Brigadas Internacionais foram formadas precisamente pela Frente Popular mundial para ajudar o heroico povo da Espanha democrática. Elas são efetivamente um grande perigo para o fascismo. Eis porque é que os trotskistas as atacam.

Janeiro de 1937.
IRÊNE FALCOIM: «A atividade dos trotskistas em Espanha»,
Correspondência Internacional, n.º 5, 1937.


Os Trotskistas em Espanha


As forças mais importantes dos trotskistas encontram-se em Barcelona e em Lárída (Catalunha).

De inicio, fundaram aqui, quase sem problemas, a organização trotskista denominada partido operário de unificação marxista, ou, abreviadamente, POUM, que começou no início da guerra civil a desenvolver uma agitação muito viva, mas de carácter estranho. Ligaram-se a esta organização um pequeno número de aderentes, pessoas de diferentes partidos que, por terem cometido atos de sabotagem, roubos ou vigarices, haviam sido expulsos das suas organizações. Criaram igualmente o seu próprio pequeno «exército».

Contudo, os acontecimentos não tardaram a tomar um aspecto muito grave. Trás comandantes das colunas do POUM habituaram-se a abandonar a frente da sua secção no momento em que se tratava de começar a luta.

O destacamento trotskista abandonou uma importante posição estratégica justamente antes do início das operações na frente de Aragão. O pequeno destacamento Thaelmann foi forçado a ocupar o lugar dos desertores para reprimir o ataque inimigo, o que lhe custou metade dos seus combatentes.

Num outro sector da mesma frente, uma ofensiva desencadeada pelos republicanos foi impedida por a formação trotskista ter abandonado as suas posições no momento do ataque.

Do mesmo modo numa outra frente do centro, no sector de Siguenza, os trotskistas retiraram subitamente os seus efetivos, apesar dos protestos dos milicianos. Um batalhão de ferroviários ocupou o seu lugar e cobriu heroicamente a retirada dos legais neste sector.

Na folha Le Combattant Rouge — ignora-se quem é o editor do jornal — é assegurado que os trotskistas lutam nas fileiras da Brigada Internacional pela República.

Dirigi-me, a esta respeito, aos comandantes das 1.ª e 2.ª Brigadas Internacionais; disseram-me categoricamente que entre os seus combatentes não se encontravam combatentes deste género. Os destacamentos POUM foram dissolvidos e os seus comandantes expulsos da frente.

Neste país em que a Frente Popular se encontra à cabeça da luta armada pela liberdade e pela independência, num pais cheio de veneração e de amor pela União Soviética, Trotsky tinha dado duas diretivas aos seus partidários:

  1. Opôr-se à Frente Popular;
  2. Levantar-se contra a União Soviética.

Contudo, estas diretivas foram acolhidas de má vontade por membros do POUM arrastados pela cólera e roídos pelo espírito de vingança.

Desde este momento, Trotsky sancionou a organização trotskista POUM, que estava dividida em dois campos. No primeiro figura Nin, antigo secretário de Trotsky, atualmente secretário do POUM e alguns dos seus aderentes, que se apresentam nas reuniões para vociferar contra a Frente Popular e para, apoiados em calúnias contra o governo da República, se oporem igualmente à transformação das milícias populares num Exército Popular.

Tendo todos os partidos e organizações políticas da Catalunha reclamado a destituição da Nin devido à sua duplicidade, este último foi excluído do novo governo catalão.

A folha do POUM, Batalla, não conhece senão um único objeto do seu ódio e dos seus ataques quotidianos: a União Soviética.

Ela anuncia diariamente que teria rebentado uma rebelião em Moscovo, que a Internacional Comunista teria sido liquidada e que o camarada Dimitrov teria sido preso para ser enviado para a Sibéria, que a imprensa soviética se ergue contra a Frente Popular, que reina a fome em Leninegrado...

Não há um único jornal dos rebeldes fascistas que não tenha reproduzido nas suas colunas extratos da Batalla.

Entretanto, os funcionários subordinados do POUM, que não compreendiam correr o risco de ser desancados pelos operários devido à sua agitação anti-soviética, pensam primeiro em «renegar» Trotsky, de um modo conforme à duplicidade trotskista, para trabalhar na sombra, quer dizer, para organizar golpes de mão e expedições. As pessoas do POUM empregam cada vez mais processos terroristas.

Tendo o jornal Treball desmascarado a agência trotskista em Espanha, um grupo de jovens apresentou-se na redação para dizer que «Treball teria de suportar as mais graves consequências pela sua conduta».

Alguns dias mais tarde foi cometida uma tentativa de assassinato na pessoa de Juan Comorera, secretário do Partido Socialista Unificado da Catalunha, do qual Treball é o órgão central.

Eis o que prova que por todo o lado onde anda a mão criminosa de Trotsky, há apenas mentira, traição e assassinatos.

Janeiro de 1937.
MICHEL KOLTSOV: «Os criminosos trotskistas em Espanha»,
Correspondência internacional, n.° 5, 1937.


Inclusão 15/08/2014