Carta ao Comitê Central do Partido Comunista da China

Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética

21 de Fevereiro de 1963


Fonte: As Divergências no Movimento Comunista Mundial, Editorial Vitória, 1963.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.


Ao Comitê Central do Partido Comunista da China

Queridos camaradas:

Partindo dos superiores interesses de nossa causa comum, o Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética decidiu dirigir-lhes esta carta a fim de expor suas considerações sobre a necessidade de realizar esforços conjuntos para fortalecer a unidade do movimento comunista mundial de acordo com os princípios do marxismo-leninismo, do internacionalismo proletário e das duas Declarações das Conferências de Moscou. Escrevemos-lhes a presente carta com a profunda convicção de que para os partidos marxista-leninistas, nas condições atuais, não há tarefa mais importante do que a luta pela unidade de nossas fileiras e pelo fortalecimento da unidade de todos os partidos socialistas.

Todos os que prezam a grande causa da paz e do socialismo não podem deixar de sentir uma séria preocupação diante da situação recentemente surgida no movimento comunista. A polêmica pública, cada dia mais intensa, abala a unidade entre os partidos irmãos e prejudica, seriamente, nossos interesses comuns. As disputas surgidas nas fileiras do movimento comunista internacional dificultam o êxito da luta contra o imperialismo, debilitam os esforços dos países socialistas na arena internacional e exercem uma influência negativa sobre as atividades dos partidos irmãos, especialmente naqueles países capitalistas onde a situação política é complexa.

Os inimigos do socialismo esforçam-se por aproveitar as divergências que surgiram no movimento comunista, para dividir os países socialistas, cindir o movimento de libertação nacional e fortalecer suas próprias posições.

Nas condições da nova correlação de forças no mundo, os agressões imperialistas não podem, por meio da guerra, vencer a comunidade socialista unida. Por isso, cifram suas principais esperanças em solapar nossa unidade. Se não tivermos unidade na luta contra o inimigo comum, se atuarmos separadamente ante o imperialismo, isto só debilitará nossos esforços e, conseqüentemente, reforçará as posições dos inimigos do socialismo. A tarefa imediata dos partidos marxista-leninistas, sobretudo dos partidos maiores como o PCUS e o PCC, consiste em não permitir que os acontecimentos se desenvolvam numa direção que acarrete graves dificuldades para o movimento comunista, fazer todo o possível para acabar com a situação anormal que agora existe e lograr a unidade das fileiras do movimento comunista e a unidade da comunidade socialista.

Temos a profunda convicção de que as dificuldades que o movimento comunista experimenta no momento são transitórias e absolutamente superáveis. Dispomos do necessário para reforçar nossa unidade e nossa coesão. Se se aprecia a situação em curso do ponto de vista da perspectiva histórica do desenvolvimento do socialismo mundial, não se pode senão chegar à seguinte conclusão: o comum, o essencial, que une o PCUS, o PCC e todos os partidos marxista-leninistas, é incomparavelmente mais elevado e mais importante que as divergências existentes. Ligam-nos a identidade dos interesses de classe do proletariado e dos povos trabalhadores de todo o mundo e os grandes ensinamentos do marxismo-leninismo. Por mais graves que sejam nossas atuais divergências, é preciso não esquecer que, na grande luta histórica das forças do socialismo contra o capitalismo, estamos com os camaradas, no mesmo lado da barricada.

Conscientes de toda a complexidade da situação que se criou, afirmamos, ao mesmo tempo, que não se deve exagerar nem estimular as divergências existentes. Uma análise objetiva da discussão no seio do movimento comunista demonstra que, durante a polêmica, as divergências que surgiram foram, em muitos casos, artificialmente exageradas e agravadas e que se deu demasiada atenção aos problemas em litígio. O calor da polêmica, às vezes, impede um exame sereno e sensato da natureza dos problemas surgidos, encobrindo o fundamental que serve de base a nossa unidade. Os partidos marxista-leninistas dispõem de dois documentos programáticos elaborados em comum: as duas Declarações das Conferências de Moscou, às quais todos eles hipotecaram, conseqüentemente, sua lealdade. O Partido Comunista da União Soviética, aplicando conseqüentemente a linha comum aprovada, unanimemente, pelo movimento comunista mundial, luta, ativamente, contra o imperialismo e pela vitória dos grandes ideais do socialismo e do comunismo em todo o mundo. Nosso Partido não poupou esforços na luta para conjurar uma nova guerra mundial, pela consolidação da paz e pela segurança dos povos. O PCUS e o governo soviético apóiam o movimento de libertação nacional por todos os meios, econômicos e políticos, inclusive com armas. Fiel ao internacionalismo proletário, o PCUS se atém sempre à palavra de ordem combativa "Proletários de todos os países, uni-vos!" O PCUS empenha-se em consolidar a comunidade socialista mundial e reforçar sua influência sobre todo o curso do desenvolvimento histórico. Os êxitos da edificação comunista na União Soviética constituem uma contribuição do nosso povo à causa do fortalecimento do socialismo mundial e do crescimento do seu prestígio e de sua força de atração.

De sua parte, o Partido Comunista da China declara também, constantemente, que se conserva fiel às posições das duas Declarações de Moscou, que se atém às conclusões e teses formuladas nesses documentos e que seu objetivo principal é lutar contra o imperialismo e pela vitória do socialismo e do comunismo no mundo inteiro. O PCC deu ênfase a sua lealdade à política de coexistência pacífica entre países de regime social diferente e assinalou a justeza da conclusão da Declaração de Moscou de 1960, sobre a possibilidade de se evitar uma nova guerra mundial. O Comitê Central do Partido Comunista da China reconhece que o princípio do internacionalismo proletário é o princípio essencial que rege as relações mútuas entre os partidos comunistas e entre os países socialistas e afirma sua fidelidade à palavra de ordem "Proletários de todos os países, uni-vos!".

A unanimidade de posições quanto a esses problemas fundamentais é uma boa base para o fortalecimento da unidade e a superação das dificuldades que surgiram. Se se seguem, rigorosamente, os documentos das Conferências de Moscou, não existe, então, nenhum motivo sólido para o aguçamento das divergências existentes, porque estas podem ser corretamente solucionadas. É natural que no movimento comunista possam surgir, e estão surgindo, diferentes pontos de vista na compreensão de certos problemas do desenvolvimento do mundo contemporâneo. Isto pode explicar-se pelas diferentes condições em que atua este ou aquele destacamento do movimento comunista internacional. No entanto, se essas divergências de opiniões não são artificialmente exageradas, não devem tomar de modo algum a forma de conflito profundo e podem ser totalmente superadas através de consultas conjuntas entre camaradas.

Partindo de tudo isto, o CC do PCUS considera que é especialmente importante tomar com urgência medidas concretas e práticas destinadas a assegurar nossa unidade e melhorar a atmosfera nas relações recíprocas entre todos os partidos irmãos. Foram precisamente estas considerações que motivaram a proposta feita em nome de nosso Partido pelo camarada N. S. Kruschiov, primeiro-secretário do Comitê Central do PCUS, no VI Congresso do Partido Socialista Unificado da Alemanha, sobre a cessação da polêmica entre os partidos comunistas e das críticas no seio de um partido contra outros partidos. Esta proposição, como se sabe, encontrou ampla repercussão e apoio no movimento comunista mundial. Com a presente carta, o CC do PCUS deseja dar um novo passo no sentido de superar as dificuldades surgidas. No interesse do fortalecimento de nossa amizade e com o objetivo de lograr uma melhor compreensão mútua, propomos ao CC do PCC que se realizem conversações bilaterais entre representantes do PCUS e do PCC. Dada a importância de tais conversações e visando a obter uma confiança maior na conquista do objetivo estabelecido, preferiríamos que elas se realizassem em alto nível. Durante as conversações podem ser discutidos, ponto por ponto, todos os problemas mais importantes que interessem a ambos os Partidos, sobretudo os problemas concernentes às tarefas comuns de nossa luta. Quanto aos problemas sobre os quais se confirmar a existência de pontos de vista diferentes, seria necessário ajustar certas medidas que contribuíssem para aproximar nossas posições. Se os camaradas estão de acordo com a realização de tais conversações, podem-se acordar, além disso, o lugar e a data de sua realização. As conversações entre os representantes do PCUS e do PCC, cujo significado é evidente para todos, desempenhariam também um importante papel na preparação de uma conferência dos partidos marxista-leninistas e na criação de uma situação favorável sem a qual é impossível que se alcance êxito.

Como muitos outros partidos irmãos, o PCUS era e é pela convocação de uma Conferência, considerando que existem suficientes e sérias razões para isto. A nosso ver, o centro de atenção dessa Conferência deve ser posto nas tarefas comuns da luta contra o imperialismo e seus planos agressivos, pelo ulterior desenvolvimento do movimento de libertação dos povos, pela unidade e pelo desenvolvimento multilateral da comunidade socialista mundial, pelo crescimento de sua influência em todo o mundo e pelo fortalecimento da unidade do movimento comunista. Em nossa carta de 31 de maio de 1962 já manifestamos aos camaradas nossa opinião sobre a necessidade da convocação de tal Conferência e agora a reafirmamos. Nosso dever comum é envidar todos os esforços para que a Conferência leve à coesão dos partidos marxista-leninistas e ao fortalecimento de sua unidade. Estamos dispostos a estudar cuidadosamente e apoiar todas as iniciativas destinadas a superar as dificuldades existentes. O principal, agora, é demonstrar boa-vontade para resolver os problemas existentes à base do marxismo-leninismo e não permitir nenhuma ação que impeça o fortalecimento de nossa unidade.

Queridos camaradas!

Todos os partidos marxista-leninistas compreendem que, hoje, o movimento comunista mundial em seu desenvolvimento chegou a um ponto extremamente crucial. Depende de nós, de nossos partidos e da justeza de nossa política, que marchemos juntos nas mesmas fileiras ou nos deixemos arrastar a uma árdua e desnecessária luta que só pode levar ao isolamento mútuo, ao debilitamento das forças do socialismo e à destruição da unidade do movimento comunista mundial.

Sobre nossos dois Partidos recai a responsabilidade histórica de fazer com que os povos soviético e chinês vivam como irmãos. A unidade dos Partidos Comunistas da União Soviética e da China tem uma imensa importância para a comunidade socialista e para o movimento comunista em seu conjunto. As futuras gerações não nos perdoariam se na presente situação, em que uma aguda luta se trava entre os dois sistemas, não pudéssemos encontrar o valor e a força para superar as divergências existentes de acordo com os princípios do marxismo-leninismo e do internacionalismo proletário. A história encarregou os primeiros destacamentos do movimento revolucionário, que libertaram seus países do jugo do capitalismo, da grandiosa tarefa de estabelecer e desenvolver um novo tipo de relações, relações de fraternidade e amizade dos povos, e criar o protótipo da futura sociedade socialista para toda a humanidade. Nossos dois Partidos estão obrigados a encontrar uma saída para a atual situação e a varrer valente e resolutamente tudo quanto estorvar nossa amizade. Este é o único caminho que os marxistas-leninistas podem e devem seguir.

Estamos profundamente convencidos de que o aplainamento das divergências que surgiram, corresponderia, não só aos interesses dos Partidos Comunistas da União Soviética e da China, como também ao objetivo básico da luta comum do movimento comunista internacional pela paz, a independência nacional, a democracia e o socialismo. É preciso, apenas, demonstrar boa-vontade e alta consciência do objetivo e dos interesses de nossa luta, e, então, nenhum obstáculo poderá impedir-nos de fortalecer e desenvolver nossa amizade e a unidade do movimento comunista internacional.

Com saudações comunistas,
Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética
Moscou, 21 de fevereiro de 1963


capa
Inclusão 05/04/2012