A Revolução de Outubro e o Problema Nacional(1)

J. V. Stálin

19 de Novembro de 1918


Primeira Edição: “Pravda", números 241 e 250, 6 e 19 de novembro de 1918.
Fonte: Editorial Vitória Ltda., Rio, 1946. Tradução de Brasil Gerson. Pág: 93-103.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: A cópia ou distribuição deste documento é livre e indefinidamente garantida nos termos da GNU Free Documentation License.

capa

O problema nacional não é algo que exista por si mesmo, algo fixo de uma vez para sempre. Como simples parte do problema geral da transformação do regime dominante, o problema nacional é determinado, de maneira integral, pelas condições do meio social, pelo caráter do Poder vigente no país e, em termos gerais, pela marcha do desenvolvimento social no seu conjunto. Isto se manifesta com uma nitidez especial no período da revolução na Rússia, onde o conteúdo do problema nacional e o movimento nacional na periferia se modificam rapidamente a olhos vistos e de acordo com a marcha e o resultado da revolução.

I - A revolução de fevereiro e o problema nacional

Na época da revolução burguesa na Rússia (iniciada em fevereiro de 1917) o movimento nacional da periferia se apresenta com um caráter de movimento burguês de libertação. As nacionalidades da Rússia, oprimidas e exploradas durante séculos pelo “velho regime”, se sentem fortes pela primeira vez e se lançam ao combate contra os opressores. “Acabar com o jugo nacional”: eis a palavra do movimento. Num abrir e fechar de olhos, a periferia da Rússia se encheu de instituições “comuns a toda a nação”. A frente do movimento marchavam os intelectuais nacionais democrático-burgueses. Os “Conselhos nacionais” na Letônia, na região Estônia, na Lituânia, na Geórgia, na Armênia, no Azerbaidzhan, no Cáucaso, na Quirguizia e na região central do Volga; a “Rada” na Ucrânia(2) e na Rússia-Branca(3) ; o “Sfatul Tserii”(4) na Bessarábia; o “Kurultaí” na Crimeia(5) e na Bashkiria(6); o “Governo autônomo” no Turquestão:(7) eis as instituições “comuns a toda a nação”, em torno das quais se agrupavam as fôrças da burguesia nacional. Tratava-se de libertar-se do czarismo fomo “causa fundamental” da opressão nacional, e de formar Estados nacionais burgueses. O direito das nações à autodeterminação se interpretava como o direito da burguesia nacional das regiões da periferia de ficar com o poder nas mãos e aproveitar-se da revolução de fevereiro para criar “seus” Estados nacionais. O desenvolvimento ulterior da revolução não entrava nem podia entrar nos cálculos das instituições burguesas. Além disso, perdia-se de vista o fato de que um imperialismo cru e descarado vinha substituir o czarismo e de que esse imperialismo era o mais forte e perigoso inimigo das nacionalidades, a base de uma nova opressão nacional.

A destruição do czarismo e a subida ao Poder da burguesia não provocaram, contudo, a destruição da opressão nacional. A velha e grosseira forma de opressão nacional foi substituída por uma forma nova e refinada, mais perigosa, porém. O governo de LvovMiliukovKerenski não só não rompeu com a política de opressão nacional, como organizou uma nova campanha contra a Finlândia (dissolução do Seim finlandês no verão de 1917) e contra a Ucrânia (supressão total das instituições culturais ucranianas). Mas ainda: este governo, imperialista por natureza, convocou a população para prosseguir na guerra pela dominação de novos territórios, de novas colônias e nacionalidades. A isto era ele levado não só pelo caráter interno do imperialismo, como também pela existência no Ocidente do velhos Estados imperialistas que ansiavam de modo irresistível por subjugar novos territórios e nacionalidades e ameaçavam restringir, assim, sua esfera de influência. A luta dos Estados imperialistas pela submissão das pequenas nacionalidades, como condição da sua própria existência: eis o panorama que se descortinou no transcurso da guerra imperialista. A destruição do czarismo e o aparecimento do governo MiliukovKerenski não melhoraram em coisa alguma o triste quadro. Era natural que, à medida que as instituições “comuns a toda a nação” da periferia manifestassem tendência para uma atuação estatal independente, encontrassem uma resistência insuperável, por parte do governo imperialista da Rússia. E ao mesmo tempo, dedicando-se a consolidar o Poder da burguesia nacional, permaneciam elas alheias aos interesses cardeais dos “seus” operários e camponeses, provocavam neles murmurações e descontentamento. Os chamados “regimentos nacionais” não faziam mais que jogar lenha na fogueira: eram impotentes contra o perigo de cima e acentuavam e aprofundavam o perigo de baixo. As instituições “comuns a toda a nação” se mantinham indefesas contra os golpes de fora do mesmo modo que contra as explosões de dentro. Os Estados nacional-burgueses nascentes começaram a esgotar-se antes de haver tido tempo de florescer.

Deste modo, a velha interpretação democrático-burguesa do princípio da autodeterminação se convertia numa ficção, perdia seu sentido revolucionário. É evidente que nestas condições não se podia falar nem da destruição da opressão nacional nem da independência dos pequenos Estados e dos Estados nacionais. Viu-se de maneira palpável que a libertação das massas trabalhadoras das nacionalidades oprimidas e a destruição da opressão nacional eram inconcebíveis sem o rompimento com o imperialismo, sem a derrubada da “própria” burguesia nacional e a tomada do Poder pelas massas trabalhadoras.

Isto se manifestou com a maior nitidez depois da Revolução de outubro.

II - A revolução de outubro e o problema nacional

A Revolução de fevereiro trazia no seu bojo contradições internas irreconciliáveis. Tinha sido levada a efeito graças aos esforços dos operários e camponeses (soldados), e o Poder passou para as mãos, não dos operários e camponeses, mas da burguesia. Fazendo a revolução, os operários e camponeses quiseram acabar com a guerra e conseguir a paz, ao passo que a burguesia instalada no Poder tinha por aspiração explorar o entusiasmo revolucionário das massas para prosseguir na guerra, para evitar a paz, A ruína econômica do país e a crise de artigos alimentícios exigiam a expropriação dos capitais e das empresas em proveito dos trabalhadores, a confiscação das terras dos latifundiários em proveito dos camponeses, ao passo que o governo de MiliukovKerenski montava guarda aos interesses dos latifundiários e capitalistas, protegendo-os resolutamente contra as tentativas dos operários e camponeses. Era esta uma revolução burguesa levada a efeito pela mão dos operários e camponeses em proveito dos exploradores.

O país continuava, entretanto, dessangrando-se sob o peso da guerra imperialista, da desintegração econômica e da ruína dos abastecimentos. A frente se ia desmoronando e dissolvendo. As fábricas paralisavam. A fome se estendia pelo país. A Revolução de fevereiro, com as suas contradições internas, demostrava fartamente ser insuficiente para “salvar o país”. O governo MiliukovKerenski demonstrava ser por completo incapaz de resolver os problemas cardeais da Revolução.

Para tirar o país do atoleiro da guerra imperialista e do desastre econômico era necessária uma nova Revolução, uma Revolução socialista.

E esta Revolução se produziu como resultado da insurreição de outubro.

Derrubado o Poder dos latifundiários e da burguesia e instaurado em seu lugar o governo dos operários e camponeses, a Revolução de Outubro resolveu de um golpe as contradições da Revolução de fevereiro. A abolição da onipotência do latifundiário e do kulaque e a entrega das terras em usufruto às massas trabalhadoras do campo; a expropriação das fábricas entregues à direção dos operários; o rompimento com o imperialismo e a liquidação da guerra de rapina; a publicação dos tratados secretos e o desmascaramento da política de anexação de territórios alheios; finalmente, a proclamação do direito de autodeterminação das massas trabalhadoras dos povos oprimidos e o reconhecimento da independência da Finlândia eis as medidas fundamentais que levou a cabo o Poder Soviético no transcurso da Revolução.

Foi esta uma Revolução realmente socialista.

A Revolução, iniciada no centro, não podia manter-se por muito tempo dentro dos marcos do seu reduzido território. Depois de vencer no centro, tinha de estender- se rapidamente à periferia. E, com efeito, partindo do Norte, a onda revolucionária avançou por toda a Rússia desde os primeiros dias, invadindo um território depois do outro. Mas aqui encontrou um dique, representado pelos “Conselhos nacionais” constituídos já antes de outubro e pelos “governos” regionais (Don, Kuban, Sibéria). O caso estava em que estes “governos nacionais” não queriam nem ouvir falar de Revolução socialista. Burgueses por natureza, não queriam de modo algum destruir o velho mundo burguês; pelo contrário, consideravam do seu dever conservá-lo e fortalecê-lo com todas as suas energias. Imperialistas por essência, não queriam de modo algum romper com o imperialismo; nunca tinham sido contrários à anexação e dominação de partes grandes e pequenas de nacionalidades “alheias”, se se apresentasse ocasião para fazê-lo. Nada tem de assombroso que os “governos nacionais” da periferia hajam declarado a guerra ao governo socialista do centro. E, naturalmente, ao declarar-lhe a guerra se converteram em focos de reação, que concentraram em torno todas as fôrças contrarrevolucionárias da Rússia. Não é segredo para ninguém que os contrarrevolucionários expulsos da Rússia para ali afluíam, para esses focos, e ao redor deles se organizavam em regimentos “nacionais” de guardas brancos.

Mas na periferia não existem só governos “nacionais”: existem também operários e camponeses nacionais. Organizados antes já da Revolução de Outubro nos seus Sovietes de deputados segundo o modelo dos do centro da Rússia, não romperam jamais os laços que os prendiam aos seus irmãos do Norte. Também eles pugnavam pela vitória sobre a burguesia, também eles lutavam pelo triunfo do socialismo. Não é de estranhar que o seu pleito com os “seus” governos nacionais se fosse agravando dia a dia. A Revolução de Outubro não fez mais que consolidar a aliança dos operários e camponeses da periferia com os operários e camponeses da Rússia, infundindo-lhes fé na vitória do socialismo. E a guerra dos “governos nacionais” contra o Poder Soviético levou seu conflito com esses “governos” até o completo rompimento com eles, até a insurreição aberta contra eles.

Assim foi como se formou a aliança socialista dos operários e camponeses de toda a Rússia contra a aliança contrarrevolucionária dos “governos” nacionais-burgueses da periferia da Rússia.

Outros apresentam a luta dos “governos” da periferia como uma luta pela libertação nacional contra o “centralismo desalmado” do Poder Soviético. Mas isto é falso. Não há no mundo nenhum Poder que tenha permitido uma descentralização tão ampla; não há no mundo nenhum governo que tenha dado aos povos uma liberdade nacional tão completa como o Poder Soviético na Rússia. A luta dos “governos” da periferia era e continua sendo a luta da contrarrevolução burguesa contra o socialismo. O pavilhão nacional entra em causa simplesmente para enganar as massas, como um pavilhão popular, bom para encobrir os desígnios contrarrevolucionários da burguesia nacional.

Mas a luta dos “governos nacionais” e regionais acabou sendo uma luta desigual. Atacados por dois lados — do lado de fora pelo Poder Soviético e de dentro pelos “seus próprios” operários e camponeses — os “governos nacionais” não tiveram mais remédio senão bater em retirada depois dos primeiros combates. A insurreição dos trabalhadores e jornaleiros agrícolas finlandeses e a fuga do “Senado” burguês; a insurreição dos operários e camponeses ucranianos e a fuga da “Rada” burguesa; a insurreição dos operários e camponeses do Don, do Kuban, da Sibéria, e a bancarrota de Kaledin, de Kornilov e do “governo” siberiano; a insurreição dos camponeses pobres do Turquestão e a fuga do “governo autônomo”; a revolução agrária do Cáucaso e a impotência total dos “Conselhos nacionais” da Geórgia, Armênia e Azerbaidzhan — são fatos conhecidos de todos e que demonstram o completo isolamento dos “governos” da periferia diante das “suas” massas. Desarticulados, os “governos nacionais” se viram “obrigados” a pedir ajuda contra “seus” operários e camponeses aos imperialistas do Ocidente, aos opressores e exploradores seculares das pequenas nacionalidades do mundo inteiro.

Assim começou a etapa da intervenção e da ocupação estrangeira da periferia, etapa que positiva uma vez mais o caráter contrarrevolucionário dos “governos nacionais” e regionais.

Só então para todos se tornou evidente que a burguesia nacional não deseja libertar o “seu povo” do jugo nacional, porque o que deseja é a liberdade de tirar dele -vantagens, .a liberdade de conservar seus privilégios e capitais.

Só então se evidenciou que a libertação das nacionalidades oprimidas é inconcebível sem o rompimento com u imperialismo, sem a derrubada da burguesia das nacionalidades oprimidas, sem que o Poder passe para as mãos das massas trabalhadoras dessas nacionalidades.

E assim a própria marcha da revolução se encarregou de desmascarar e destruir a velha interpretação burguesa do princípio da autodeterminação, com o seu estribilho de “Todo o poder à burguesia nacional!”. E a interpretação socialista do direito da autodeterminação, com a fórmula de “Todo o poder às massas trabalhadoras das nacionalidades oprimidas”, foi reconhecida na sua plenitude de direitos e teve a possibilidade de ser posta em prática.

Deste modo, a Revolução de outubro, acabando com o velho movimento nacional burguês-libertador, inaugurou a era do novo movimento, o movimento socialista dos operários e camponeses das nacionalidades oprimidas, dirigido contra toda opressão, e por conseguinte também contra a opressão nacional, contra o Poder da burguesia, da “própria” e da estranha, contra o imperialismo em geral.

III - Significação mundial da revolução de outubro

Depois de vencer no centro da Rússia e de ganhar para si uma série de regiões da periferia, a Revolução de Outubro não podia circunscrever-se aos marcos territoriais do país. Na atmosfera da guerra imperialista mundial e do descontentamento geral dos de baixo, não podia senão saltar aos países vizinhos. O rompimento com o imperialismo e a libertação da Rússia da guerra de rapina; a publicação dos tratados secretos e o solene abandono da política de anexação de territórios alheios; a proclamação da liberdade nacional e o reconhecimento da independência da Finlândia; a proclamação da Rússia como “Federação de Repúblicas Nacionais Soviéticas” e o grito combativo da luta contra o imperialismo, lançado ao mundo pelo Poder Soviético — tudo não podia deixar de influir consideravelmente no escravizado Oriente e no dessangrado Ocidente.

Com efeito, a Revolução de Outubro foi a primeira revolução no mundo que sacudiu do seu estado letárgico secular as massas trabalhadoras dos povos oprimidos do Oriente e as arrastou para a luta contra o imperialismo mundial. A criação dos Sovietes de operários e camponeses na Pérsia, na China e na índia, a exemplo dos Sovietes da Rússia, é testemunho por demais eloquente disto.

A Revolução de Outubro foi a primeira revolução no mundo que serviu de exemplo salvador aos operários e soldados do Ocidente e os levou ao caminho que conduz à libertação efetiva diante da opressão da guerra e do imperialismo. A insurreição dos operários e soldados na Áustria-Hungria e na Alemanha, a criação de Sovietes de deputados operários e soldados, a luta revolucionária dos povos atrasados da Áustria-Hungria contra a opressão nacional o testemunham com demasiada eloquência.

O importante não é que a luta no Oriente, e também no Ocidente, não tenha logrado ainda libertar-se das estratificações nacionalistas burguesas; o importante é que a luta contra o imperialismo tenha começado, continue e tenha necessariamente de prosseguir até seu desenlace lógico.

A intervenção estrangeira e a política de ocupação dos imperialistas “de fora” não fazem mais que agravar a crise revolucionária, atraindo para a luta novos povos e dilatando o espaço dos encontros revolucionários com o imperialismo.

E assim a Revolução de Outubro, estabelecendo laços entre os povos do Oriente atrasado e os do adiantado Ocidente, o que faz é uni-los estreitamente no campo comum da luta contra o imperialismo.

E assim o problema nacional cresce e se converte, de problema particular de luta contra a opressão nacionalista, em problema geral de libertar do imperialismo as nações, as colônias e as semi-colonias.

O pecado mortal da Segunda Internacional e da sua cabeça, Kautsky, é — entre outras coisas — o de se haver desviado constantemente no sentido da interpretação burguesa do princípio da autodeterminação nacional, o de não haver compreendido o sentido revolucionário deste princípio, o de não haver sabido cu não haver querido expôr o problema nacional numa base revolucionária de luta aberta contra o imperialismo, o de não haver sabido ou não haver querido enlaçar o problema nacional com o problema da libertação das colônias.

A torpeza dos social-democratas da Áustria tipo Bauer e Renner está, precisamente, em não haverem compreendido a conexão indissolúvel que existe entre o problema nacional e o problema do Poder,esforçando-se por separar da política o problema nacional e por encaixá-lo nos limites dos problemas da cultura e da ilustração, esquecendo-se de “pequenices” tais como a existência do imperialismo e das colônias por ele escravizadas.

Diz-se que os princípios da autodeterminação e da “defesa da pátria” foram abolidos pela própria marcha dos acontecimentos, nas condições da revolução socialista em ascenso. Na realidade o que se aboliu não foi a autodeterminação nem a“ defesa da pátria”, mas a sua interpretação burguesa. Basta ver os territórios ocupados, que enfraquecem sob o jugo do imperialismo e clamam pela sua libertação; basta ver a Rússia, que sustenta uma guerra revolucionária para a defesa da pátria socialista contra os bandoleiros do imperialismo; basta refletir sobre os acontecimentos que se estão desenrolando na Áustria-Hungria; basta olhar para as colônias e semi-colonias escravizadas, nas quais já se organizaram Sovietes (índia, Pérsia. China) ; basta olhar tudo isso para compreender toda a significação revolucionária do princípio da autodeterminação, na sua interpretação socialista.

A grandiosa significação mundial da Revolução de Outubro consiste principalmente:

  1. em que ampliou os limites do problema nacional, convertendo-o, de problema particular da luta contra a opressão nacional, no problema geral de libertar do imperialismo os povos oprimidos, as colônias e as semi-colonias;
  2. em que deu possibilidades amplas e abriu caminhos efetivos a essa libertação, com o que facilitou consideravelmente aos povos oprimidos do Ocidente e do Oriente a sua libertação, trazendo-os para a frente comum da luta vitoriosa contra o imperialismo;
  3. em que estendeu uma ponte entre o Ocidente socialista e o Oriente escravizado, formando uma nova frente revolucionária contra o imperialismo mundial, que vai desde os proletários do Ocidente, passando pela Revolução russa, até os povos oprimidos do Oriente.

Isto explica, precisamente, o indescritível entusiasmo com que se situam hoje diante do proletariado da Rússia as massas trabalhadoras e exploradas do Oriente e do Ocidente.

Isto explica, principalmente, a fúria bestial com que se abatem sobre a Rússia Soviética os bandoleiros imperialistas de todo o mundo.

(veja outra tradução da Editorial Vitória para este texto)


Notas de rodapé:

(1) O seguinte trecho do Prólogo do autor à Coletânea de artigos, de Stálin, sobre o problema nacional, editada em 1920 pelo Comissariado do Povo para as nacionalidades, é dedicado ao artigo A Revolução de Outubro e o problema nacional: "... O artigo reflete o período que se segue à Revolução de Outubro, quando, após vencer a contrarrevolução na Rússia central, o Poder Soviético se chocou com os governos nacionalistas burgueses da periferia, verdadeiros núcleos da contrarrevolução; quando a Entente, alarmada com a crescente influência do Poder Soviético sobre as suas colônias (da Entente), começou a apoiar abertamente os governos nacionalistas burgueses com o fim de afogar a Rússia Soviética; quando, no curso da luta vitoriosa contra os governos nacionalistas burgueses, se colocou diante de nós o problema prático das formas concretas da autonomia regional soviética, da organização de Repúblicas soviéticas autônomas da periferia, o problema da extensão da influência do Poder Soviético aos países oprimidos do Oriente, através das regiões periféricas do oriente da Rússia, o problema da formação de uma frente revolucionária única do Ocidente e do Oriente contra o imperialismo mundial. O artigo indica a conexão indissolúvel que existe entre o problema nacional e o problema do Poder e trata a política nacional como parte do problema geral dos povos oprimidos e das colônias, isto é, aquilo contra que costumavam protestar a “escola austríaca”, os mencheviques, os reformistas, a II Internacional, e que se confirmou mais tarde em todo o curso dos acontecimentos”. (retornar ao texto)

(2) A Rada Central da Ucrânia organizou-se no Congresso dos partidos pequeno-burgueses e das organizações nacionalistas da Ucrânia, reunido em Kiev, em abril de 1917. A Rada tinha frequentemente graves conflitos com o Governo Provisório, o qual tomava medidas repressivas para liquidar os movimentos nacionais. Depois da Revolução de Outubro, a Rada converteu-se no baluarte da “contrarrevolução burguesa, disfarçada sob uma forma democrática nacional” (Stálin).
Em seu informe ao III Congresso dos Sovietes (janeiro de 1918), Stálin caracterizou do seguinte modo os “socialistas” pequeno-burgueses e culaques (Vinnitchenko e outros) que dirigiam a Rada:
“Em palavras, no manifesto, proclamaram-se partidários da entrega de toda a terra ao povo: entretanto, mais tarde, tornaram público um esclarecimento que limitava essa entrega, proclamando que parte da terra dos latifundiários era inviolável e não estava sujeita à entrega ao povo.
Em palavras, proclamaram sua lealdade para com os Sovietes, mas na realidade travaram uma luta desesperada contra eles, desarmando as tropas soviéticas, detendo os funcionários soviéticos e fazendo de todo impossível a existência dos Sovietes.
Em palavras, falaram em fidelidade à revolução; mas na realidade demonstraram ser os piores inimigos da revolução. Falavam de neutralidade na luta contra o Don, mas na realidade prestaram uma ajuda direta e aberta ao general Kaledin, auxiliando a metralhar as tropas soviéticas e impedindo a remessa de pão para o norte”.
Em fevereiro de 1918 a Rada foi derrubada pelos operários e camponeses ucranianos rebelados, mas foi logo restabelecida pelas tropas austro-alemãs que avançavam sobre a Ucrânia. Em abril de 1918 deviam ter-se entabulado (em Kursk) negociações de paz entre os representantes da Rada e uma delegação do Conselho dos Comissários do Povo, à frente da qual se encontrava Stálin. Mas o golpe de Estado do kétman Skoropadski liquidou definitivamente, naqueles dias, a Rada Central.
A respeito da Rada vejam-se também os seguintes artigos e discursos de Stálin: O Conselho dos Comissários do Povo relativamente à Ucrânia (conversação com o camarada Sergei Barkinski), publicado no Izvestia, n. 234, de 7 de dezembro de 1917; A Secretaria Geral da Rada e a contrarrevolução cadete—kalediniana, Pravda, n. 209, de 21 de dezembro de 1917; Resposta aos camaradas ucranianos da retaguarda e da linha de frente, Pravda, n. 213, de 26 de dezembro de 1917; Sobre a Rada (discurso no Comitê Executivo Central Anglo-russo, pronunciado a 27 de dezembro de 1917); Que é a Rada? Pravda, n. 215, de 28 de dezembro de 1917; Sobre a Rada burguesa de Kiev, Pravda, n. 9, de 26 de janeiro de 1918. (retornar ao texto)

(3) A Rada da Bielo-Rússia: organização nacionalista pequeno burguesa, fundada no congresso das organizações nacionais bielorrussas, em julho de 1917, em Minsk. Após o triunfo da Revolução de Outubro, a Rada, dirigida por elementos nacionalístas-chovinistas, passou-se para as fileiras dos inimigos do Poder Soviético, declarou a dissolução dos Sovietes locais, proclamou a “independência” da Republica Popular da Bielo-Rússia e dirigiu-se a Guilherme II, agradecendo-lhe a ocupação da Bielo-Rússia pelas tropas alemãs. A 1 de janeiro de 1919, o governo provisório operário e camponês da Bielo-Rússia declarou a Rada fora da lei e proclamou a República Soviética da Bielo-Rússia. (retornar ao texto)

(4) O Staful-Tserii (Conselho Territorial): "parlamento” territorial na Bessarábia (Kishinev) ocupada pelos agentes do Estado Maior romeno e que durou de novembro de 1917 até fins de novembro de 1918. Era integrado por representantes nomeados (não eleitos) do “Partido Nacional” moldávio e de algumas ridículas organizações. Era boicotado por uma série de distritos e organizações. Em março de 1918, mesmo com a negativa de voto de grande parte de seus membros, o Staful-Tserii aprovou a ata de incorporação da Bessarábia à România, em bases de autonomia. Em novembro do mesmo ano de 1918, os invasores romenos fizeram o Staful-Tserii votar a incorporação total (sem qualquer espécie de autonomia) da Bessarábia à România. Como se sabe, tanto na época como posteriormente, a anexação da Bessarábia provocou uma luta enérgica da população contra os invasores, o que se manifestou mais de uma vez em insurreições afogadas em sangue (as sublevações de Hotin, Tatar-Bunar, etc.). (retornar ao texto)

(5) O Kurultai da Crimeia foi convocado a 10 de dezembro de 1917 em Bakhtchisarai (mais tarde fazia suas reuniões em Símferópol), e refletia, em sua maioria, as aspirações e os sentimentos da pequena burguesia tártara, que seguia o “Partido Popular” nacionalista tártaro (os “milli-firkovistas”). O Kurultai nomeou um “Governo Nacional” (um “Diretório”) crimeano-tártaro, com C. Tchelebiev e D. Saidamet à frente, que atuava apoiado em fôrças armadas (“esquadrões”) comandadas por antigos oficiais contrarrevolucionários russos. Em janeiro de 1918, quando o Kurultai tentou opor a sua fôrça armada ao Comitê Militar Revolucionário de Sebastopol, foi dispersado juntamente com o “Governo Nacional”, tendo voltado a aparecer por um breve período, durante a ocupação alemã da Crimeia. (retornar ao texto)

(6) O Kurultai da Basquíria foi convocado em novembro de 1917, em Orenburgo. O papel principal foi nele desempenhado pelos elementos nacionalistas acaudilhados por Zaki Valídov, que representavam os interesses da burguesia e dos setores culaques da população basquir. O Kurultai constituiu um governo basquir com Valídov à frente, que desenvolveu atividades antissoviéticas e se pôs em contacto com os generais Dutov e Koltchak. Entretanto, a essência imperialista da política de Koltchak, que, entre outras coisas, havia publicado um decreto liquidando a autonomia da Basquíria, obrigou o governo Valídov, sob a pressão das massas, a declarar, em 1919, a sua adesão ao Poder Soviético. Pouco tempo depois de estabelecer-se a República Soviética da Basquíria, os elementos nacionalistas burgueses, liderados por Valídov, insurgiram-se contra o Poder Soviético, mas a insurreição não foi apoiada pelas massas trabalhadoras basquires. (retornar ao texto)

(7) O governo autônomo do Turquestão, liderado por Tanyshbáiev, Shangí-Akhmétov e Tchokáíev, foi organizado em oposição ao Conselho dos Comissários do Povo existente em Tashkent, no chamado Congresso Pan-muçulmano das organizações nacionalistas burguesas, convocado em novembro de 1917 em Kokanda (daí o nome de “autonomia de Kokanda”). Apoiado pelos guardas-brancos russos, esse governo desencadeou a guerra civil no Turquestão, mas foi liquidado em fevereiro de 1918 pelos destacamentos de guardas-vermelhos de Tashkent e Samarcanda. (retornar ao texto)

Inclusão 03/11/2012