Discurso Pronunciado no Congresso do Partido Operário Social-Democrata Finlandês em Helsinki

J. V. Stálin

14 de Novembro de 1917


Primeira Edição: "Pravda" ("A Verdade"), n.° 191, 16 de novembro de 1917.
Fonte: J.V. Stálin – Obras – 4º vol., Editorial Vitória, 1954 – traduzida da edição italiana da Obras Completas de Stálin publicada pela Edizioni Rinascita, Roma, 1949.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
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Fernando A. S. Araújo, setembro 2006.
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Camaradas!

Fui eleito delegado para vir até vós, a fim de trazer-vos uma saudação em nome da revolução operária russa que abalou desde os alicerces as bases do regime capitalista. Vim para saudar o vosso Congresso em nome do governo dos operários e dos camponeses da Rússia, em nome do Conselho dos Comissários do Povo, surgido no fogo dessa revolução.

Mas não vim somente para saudar-vos. Desejo, antes de mais nada, dar-vos a feliz notícia das vitórias da revolução russa, da desorganização dos seus inimigos. Desejo dizer-vos que nesta atmosfera, em que a guerra imperialista agoniza, as possibilidades de vitória para a revolução aumentam dia a dia.

O jugo dos latifundiários esfacelou-se, porque no campo o Poder passou para as mãos dos camponeses. Esfacelado está o poderio dos generais, porque o Poder no exército foi centralizado nas mãos dos soldados. Os capitalistas foram dominados porque é rapidamente instituído o controle operário nas fábricas, nas oficinas, nos bancos. Em todo o país, nas cidades, no campo, na retaguarda e na frente, são cada vez mais numerosos os comitês revolucionários dos operários, dos soldados e dos camponeses, que tomam em suas mãos as rédeas do Poder.

Tentaram intimidar-nos com Kerenski e com os generais contra-revolucionários, mas Kerenski foi escorraçado e os generais estão bloqueados pelos soldados e pelos cossacos, que também se solidarizaram com as reivindicações apresentadas pelos operários e camponeses.

Tentaram intimidar-nos com a ameaça da fome, profetizaram que o Poder Soviético haveria de cair como presa do caos alimentar. Mas foi bastante pôr freio aos especuladores e dirigirmo-nos aos camponeses, para que o trigo começasse a afluir para as cidades às centenas de milhares de puds.

Tentaram intimidar-nos com a ameaça de desorganização do aparelho estatal, com a sabotagem dos funcionários do Estado, etc. Nós mesmos sabíamos que o novo governo, o governo socialista, não poderia simplesmente tomar em suas mãos o velho aparelho estatal burguês e transformá-lo em coisa sua. Mas foi bastante dispormo-nos a renovar o velho aparelho, a depurá-lo dos elementos anti-sociais, para que a sabotagem começasse a desaparecer.

Tentaram intimidar-nos com a ameaça das eventuais "surpresas" da guerra, das complicações que a camarilha imperialista poderia fazer surgir em conseqüência da nossa proposta de uma paz democrática. E efetivamente corremos perigo, um perigo mortal. Isso aconteceu, porém, depois da tomada de Õsel[1N], quando o governo de Kerenski se preparava para fugir para Moscou e ceder Petrogrado, enquanto os imperialistas anglo-alemães entabulavam negociações para a conclusão da paz às expensas da Rússia. Com uma paz assim feita os imperialistas, realmente, teriam conseguido comprometer os destinos da revolução russa e talvez da revolução internacional. Mas a Revolução de Outubro chegou a tempo. Tomou em suas mãos a causa da paz, arrancou das mãos do imperialismo internacional as mais perigosas armas e desse modo salvou a revolução do perigo mortal que a ameaçava. Os velhos lobos imperialistas viram-se diante do dilema: ou ceder ao movimento revolucionário que irrompia em todos os países aceitando a paz, ou então perseverar na luta continuando a guerra. Mas continuar a guerra em seu quarto ano, quando o mundo inteiro sufoca em suas garras, quando a "iminente" campanha de inverno provoca nos soldados de todos os países uma tempestade de indignação, quando os suspeitos acordos secretos já foram publicados, continuar a guerra nestas condições quer dizer condenar-se a um malogro certo. Os velhos lobos imperialistas fizeram mal seus cálculos desta vez. E é justamente por isso que as "surpresas" dos imperialistas não nos fazem medo.

Tentaram por fim intimidar-nos com a ameaça do desmembramento da Rússia, de seu fracionamento em numerosos Estados independentes; a este propósito disseram que a proclamação do Conselho dos Comissários do Povo sobre o direito das nações à autodeterminação era um "erro fatal". Mas eu devo declarar da maneira mais categórica que não seríamos democratas (já não digo socialistas!) se não reconhecêssemos aos povos da Rússia o direito à livre autodeterminação. E sustento que trairíamos o socialismo se não tomássemos todas as medidas adequadas ao estabelecimento de uma confiança fraterna entre os operários da Finlândia e os da Rússia. Mas todos sabem que se não reconhecermos decididamente ao povo finlandês o direito à livre autodeterminação, não se poderá pensar em estabelecer uma confiança tal. É preciso sobre este ponto reconhecer não só por palavras, mesmo em forma oficial, esse direito. É preciso que esse reconhecimento verbal seja confirmado pelos fatos no Conselho dos Comissários do Povo, o qual o traduzirá sem hesitação, em ato. A época das palavras efetivamente passou. É chegado o momento em que a antiga diretiva: "Proletários de todos os países, uni-vos!", deve ser levada, à prática.

Completa liberdade de organizar a própria vida para o povo finlandês, como para os outros povos da Rússia! Voluntária e sincera união do povo finlandês com o povo russo! Nenhuma tutela, nenhum controle sobre o povo finlandês! São estes os princípios sobre os quais se inspira a política do Conselho dos Comissários do Povo.

Somente uma tal política poderá criar confiança mútua entre os povos da Rússia. Somente na base de tal confiança poder-se-á realizar a fusão dos povos da Rússia num único exército. Somente uma tal fusão tornará possível a consolidação das conquistas da Revolução de Outubro e o progresso da causa da revolução socialista internacional.

Por esse motivo sorrimos toda vez que se vem falar em derrocada da Rússia devido à aplicação do princípio do direito das nações à autodeterminação.

São essas as dificuldades com as quais os nossos inimigos tentaram e continuam tentando amedrontar-nos, dificuldades que superaremos à medida que se desenvolve a revolução.

Camaradas!

Chegaram-nos notícias segundo as quais vosso país está atravessando mais ou menos a mesma crise que a Rússia atravessou às vésperas da Revolução de Outubro. Chegaram-nos notícias de que se tenta atemorizar também a vós com a fome, a sabotagem, etc. Permiti-me dizer-vos, na base da experiência resultante da prática do movimento revolucionário na Rússia, que, ainda que esses perigos fossem reais, não é verdade, em absoluto, que não possam ser superados. Esses perigos podem ser superados se se agir com decisão e sem hesitações. Numa atmosfera de guerra e de desagregação, numa atmosfera em que o movimento revolucionário se inflama no Ocidente e as vitórias da revolução operária russa se multiplicam, não existem perigos e dificuldades que possam paralisar vosso ímpeto. Nessa atmosfera só se pode manter e só pode vencer um único poder, o Poder socialista. Nessa atmosfera só uma tática é adequada, a tática de Danton: audácia, audácia e mais audácia!

E se se tomar necessário o nosso auxílio, nós o daremos, estendendo-vos a mão com espírito fraterno. Disso podeis estar seguros.


Notas de fim de tomo:

[1N] As tropas alemãs iniciaram as operações de desembarque em Ösel, Dagö e outras ilhas do Mar Báltico, na entrada do golfo de Riga, em 29 de setembro de 1917. (retornar ao texto)

pcr
Inclusão 15/11/2007