A Imprensa(1)

J. V. Stálin

20 de Julho de 1908


Primeira Edição: “Bakinski Proletari” (“O Proletário de Baku”), n.° 5. 20 de julho de 1908.
Fonte:J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 127-131, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

Os “socialistas” servis

Ao lado dos outros jornais publicados em Tiflís, existe também um jornal georgiano chamado Napertskali(2). É um jornal novo, mas ao mesmo tempo demasiado velho, porque é a continuação de todos os jornais mencheviques que houve até agora em Tiflís, a começar pelo Skhivi de 1905. O Napertskali é redigido por um velho grupo de oportunistas mencheviques. Mas não se trata naturalmente só disso. Trata-se sobretudo do fato de que o oportunismo desse grupo tem qualquer coisa de particular, de fabuloso. Oportunismo é falta de princípios, falta de caráter político; e nós afirmamos que em nenhum dos grupos mencheviques se pôde observar uma tão descarada falta de caráter como no de Tiflís. Em 1905, este grupo reconhecia a função do proletariado como cabeça da revolução (vide Skhivi). Em 1906 trocou de “posição”, declarando que “não se pode esperar coisa nenhuma dos operários... a iniciativa pode partir somente dos camponeses (vide Skhivi). Em 1907 modificou mais uma vez a sua “posição”, dizendo que “na revolução a hegemonia cabe à burguesia liberal” (vide Azri(3) ), etc., etc.

Mas jamais a falta de caráter do grupo supradito havia atingido a desfaçatez a que chegou hoje, no verão de 1908. Pretendemos falar sobre o juízo expresso nas colunas do Napertskali acerca do assassinato do opressor espiritual dos deserdados, o chamado exarca. A história desse homicídio é conhecida de todos. Alguns indivíduos, após haverem matado o exarca, mataram também o brigadeiro dos gendarmes que voltava com a ata do “local do crime” e atacaram depois a procissão de malandros que acompanhava o cadáver do exarca. Aqueles indivíduos não constituíam evidentemente um grupo de malandros, mas nem tampouco um grupo revolucionário, porque nenhum grupo revolucionário ter-se-ia decidido, num momento como este, enquanto se reúnem as forças revolucionárias, a cometer semelhante ato, arriscando-se a fazer malograr o trabalho de união do proletariado. A posição da social-democracia nos choques desses grupos é conhecida de todos: ela explica as condições que dão origem a esses grupos e os combate e, ao mesmo tempo, luta ideologicamente e de maneira organizada contra esses grupos, desacreditando-os aos olhos do proletariado, do qual os distingue nitidamente. Mas o Napertskali não procede assim. Sem nenhuma explicação, sem nenhuma argumentação, vomita algumas banais frases liberais contra o terrorismo em geral e dá então conselhos aos leitores sobre o modo de denunciar tais grupos à polícia, de entregá-los à polícia (e não dá só conselhos, mas exige nem mais nem menos que uma obrigação)! É uma vergonha, mas desgraçadamente é um fato. Ouvi o Napertskali:

“Arrastar à barra do tribunal os assassinos do exarca : este é o único meio de nos lavarmos para sempre dessa mancha... Tal é o dever dos elementos avançados” (vide Napertskali, n.° 5).

Os social-democratas no papel de delatores voluntários: eis a que nos reduziram os oportunistas mencheviques de Tiflís!

A falta de caráter político dos oportunistas não cai do céu. Deriva da irrefreável aspiração de adaptar-se às preferências da burguesia, ao gosto dos “senhores”, de arrancar-lhes um elogio. Essa é a base psicológica da tática oportunista da adaptação. E eis que, para fazerem-se belos perante os “senhores”, para agradá-los, para evitarem pelo menos sua cólera provocada pela morte do exarca, os nossos oportunistas mencheviques entregam-se a mesuras servis diante deles, assumindo o papel de investigadores da polícia!

A tática da adaptação atingiu os limites extremos!

Os zubatovistas fariseus(4)

Baku forma ao lado das outras cidades do Cáucaso que fornecem variantes originais do oportunismo. Também em Baku existe um grupo mais à direita — e por isso com uma falta de princípios ainda mais destacada — que o grupo de Tiflís. Não aludimos ao Promislóvi Viéstnik que está flertando com o burguês Sevódnia: sobre isso se escreveu bastante em nossa imprensa. Pretendemos falar do grupo Chendríkov do Právoie Diélo(5), progenitor dos mencheviques de Baku. É verdade que esses grupo há muito tempo não reside mais em Baku: perseguido pelos operários dessa cidade e pelas suas organizações, foi forçado a transferir-se para Petersburgo. Mas continua a enviar seus escritos a Baku, escreve unicamente sobre os assuntos de Baku, busca apoio justamente em Baku, tenta “conquistar” o proletariado de Baku. Não seria pois supérfluo falar dele. Então, temos diante de nós o Právoie Diélo, n.os 2-3. Folheamo-lo, e diante de nós revela-se o velho quadro: a velha e inseparável companhia dos Chendríkov. Eis Iliá Chendríkov, mestre na arte das intrigas de corredor, conhecido pelos seus “apertos de mão” ao senhor D. Junkóvski. E eis Gleb Chendríkov, ex-social- revolucionário, ex-menchevique, ex-zubatovista e agora aposentado. E eis a famosa tagarela, a “imaculada” Cláudia Chendríkova, senhora amável sob todos os pontos de vista. E não faltam nem sequer os vários “sequazes”, como os Gróchev e os Kalínin, que durante algum tempo desempenharam um papel no movimento e que hoje ficaram para trás com relação à vida e vivem unicamente cie recordações. Até a sombra do falecido Liova ergue-se à nossa frente... Numa palavra, o quadro está completo!

Mas quem tem necessidade de tudo isso, por que se impõem aos operários as sombras inglórias de um passado obscuro? São talvez os operários convidados a pôr fogo nos poços de petróleo? Ou a insultar o Partido e a arrastá-lo na lama ? Para comparecer à conferência sem os operários e depois fazer os próprios negócios imundos com o senhor Junkóvski?

Não! Os Chendríkov querem “salvar” os operários de Baku! Eles “veem” que depois de 1905, isto é, depois que os operários expulsaram os Chendríkov, os “operários encontraram-se à beira do abismo” (vide Právoie Diélo, pág. 80); e eis que os Chendríkov escreveram o Právoie Diélo para “salvar” os operários, para fazê-los sair do “beco sem saída”. E para fazer isso propõem voltar ao passado, renunciar às conquistas dos últimos três anos, virar as costas ao Gudók e ao Promislóvi Viéstnik, desinteressar-se dos sindicatos existentes, mandar ao diabo a social-democracia e, após ter expulso das comissões operárias todos aqueles que não seguem os Chendríkov, reunir-se em torno da junta de conciliação. Não é preciso mais greves, não é preciso nem sequer as organizações ilegais: aos operários é necessária uma só coisa, a junta de conciliação onde os Chendríkov e os Gukássov(6) “resolverão os problemas” com a permissão do senhor Junkóvski ...

Assim eles querem fazer sair do “beco sem saída” o movimento operário de Baku.

Exatamente como o camaleão do Nieftianóie Diélo, o senhor K-zá (vide Nieftianóie Diélo, n.° 11).

Mas não é talvez dessa maneira que Zubátov em Moscou, Gapon em Petersburgo, Chiaievitch em Odessa “salvaram” os operários? E não resultou talvez que esses senhores estavam todos entre os mais encarniçados inimigos dos operários?

Quem desejam então enganar à luz do dia esses “salvadores” fariseus?

Não, senhores Chendríkov, se bem que afirmeis, juntamente com K-zá, que o proletariado de Baku ainda “não está maduro”, que ele deve ainda “passar no exame (perante quem?) para o certificado de maturidade” (vide Právoie Diélo, pág. 2), não conseguireis todavia enganá-lo!

O proletariado de Baku é bastante consciente para arrancar-vos a máscara e pôr-vos no devido lugar!

Quem sois, donde vindes?

Vos não sois social-democratas, porque crescestes na luta contra a social-democracia e viveis dessa luta, da luta contra o espírito de partido!

E não sois sindicalistas, porque arrastais na lama os sindicatos, por sua natureza compenetrados do espírito da social-democracia!

Sois justamente os sequazes de Gapon e de Zubátov ocultos sob a máscara de “amigos do povo”!

Sois inimigos no seio do proletariado, e portanto os mais perigosos!

Abaixo os sequazes dos Chendríkov! Voltemos as costas aos Chendríkov!

Eis como respondemos ao vosso Právoie Diélo, senhores Chendríkov!

Eis como responde o proletariado de Baku aos vossos farisaicos namoros!...

Assinado: Ko...


Notas de fim de tomo:

(1) O artigo A imprensa foi escrito por Stálin durante o verão de 1908, no cárcere de Baku. (retornar ao texto)

(2) Napertskali (A Centelha), diário georgiano menche­vique que se publicou em Tiflis de maio a julho de 1908. (retornar ao texto)

(3) Azri (O Pensamento), jornal georgiano menchevique que se publicou em Tiflis de 29 de janeiro a 2 de março de 1908. (retornar ao texto)

(4) Zubatovistas: de Zubátov, chefe da Okhrána (polícia secreta) de Moscou e fundador de organizações que se diziam operárias, controladas pela polícia. (retornar ao texto)

(5) Os irmãos Chendríkov (Leão, Elias, Gleb) criaram em 1904, em Baku, uma organização zubatovista chamada “Orga­nização dos operários de Balakhani e de Bibi-Eibat” (mais tarde rebatizada “União dos operários de Baku”). Os Chen­dríkov e seus agentes moviam uma campanha na base de calú­nias contra os bolcheviques. Com sua agitação em prol da cria­ção de “juntas de conciliação”, de cooperativas artesãs, etc. e suas palavras de ordem econômicas estritamente corporativas, visavam a desorganizar as greves e a sabotar a preparação da insurreição armada. Embora fosse notório que os Chendríkov recebiam subvenções dos industriais do petróleo e das autorida­des tzaristas, os mencheviques reconheceram oficialmente a or­ganização deles como uma organização do P.O.S.D.R. Os bolche­viques de Baku os desmascararam e os liquidaram, demons­trando que eram agentes da Okhrána. A revista Právoie Diélo (A Justa Causa) era publicada em Petersburgo pelos Chendríkov. O n.° 1 saiu em novembro de 1907, o n.° 2-3 em maio de 1908. Gróchev e Kalínin, menciona­dos mais adiante, eram dois mencheviques apoiadores dos Chen­dríkov. (retornar ao texto)

(6) A. Gukassov era um dos mais importantes industriais de Baku, presidente do Conselho do congresso dos industriais do petróleo. (retornar ao texto)

Transcrição
pcr
Inclusão 19/10/2019