Os Industriais do Petróleo e o Terrorismo Econômico

J. V. Stálin

21 de Abril, 4 e 18 de Maio de 1908


Primeira Edição: “Gudók” (“A Sirena”), n.º 28, 30 e 32, 21 de abril, 4 e 18 de maio de 1908.
Fonte:J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 114-126, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951.
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML: Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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A questão do terrorismo econômico continua a ocupar o “público”.

Já exprimimos nossa opinião a respeito, condenando o terrorismo econômico por ser prejudicial à classe operária e, portanto, inadaptado como método de luta.

Também nos poços e nas oficinas os operários exprimiram aproximadamente a mesma opinião.

Naturalmente emitiram também o seu juízo os industriais do petróleo. Mas resulta que suas “opiniões” discordam radicalmente das dos operários, uma vez que, ao tratarem do terrorismo econômico exercido pelos operários, nada dizem contra o mesmo terrorismo posto em prática pelos industriais. Aludimos ao conhecido editorial sobre o assunto, estampado no conhecido órgão dos industriais do petróleo (vide Nieftianóie Diélo, n.° 6, artigo do senhor K-zá(1)).

Falemos pois sobre este editorial. Ele é interessante não só como explicação das “opiniões” dos industriais do petróleo, mas também como expressão de seu estado de ânimo nesta fase da luta operária. Para comodidade, é necessário dividi-lo em três partes: a primeira, onde o senhor K-zá cita algumas particularidades para condenar os operários e suas organizações; a segunda, sobre as causas do terrorismo econômico; e a terceira, sobre medidas para combatê-lo.

Comecemos pelas particularidades. Antes de mais nada, os operários da Mirzóiev. É conhecido de todos que, logo após o assassinato do administrador de Surakhani e o incêndio da seção de caldeiras, a comissão unificada dos operários da Mirzóiev, em nome de 1.500 operários, protestou unanimemente contra esses método de luta, desmentindo que o incêndio e o assassínio tivessem relação com a greve.

Não há motivo, ao que parece, de se pôr em dúvida a sinceridade desse protesto. Porém, K-zá pensa de maneira diferente. Como “crítico” caviloso, acha, contudo, necessário pôr em dúvida a sinceridade dos operários, dizendo que “a comissão se engana”, que o incêndio e o assassinato têm relação direta com a greve. E isso depois do protesto unânime dos representantes de 1.500 operários. De que se trata senão do desejo de adulterar os fatos, de difamar os operários, de “pô-los na berlinda”, nem que seja recorrendo à calúnia? E é possível depois disso acreditar na sinceridade do senhor K-zá, que tanto fala no seu artigo de “elevar os homens acima de seus instintos criminosos”?

Dos operários da Mirzóiev o senhor K-zá passa ao nosso sindicato. Ninguém ignora que nosso sindicato desenvolve-se rapidamente. Para julgar de sua enorme influência entre os operários bastaria considerar que toda a campanha em torno da conferência se desenvolve sob sua direção imediata. E o Gudók não fez senão ressaltar um fato conhecido por todos quando disse que “a influência e a importância do sindicato crescem dia a dia, que ele adquire gradativamente, mesmo aos olhos das camadas mais atrasadas, mais ignorantes da massa operária, a função de dirigente natural de sua luta econômica”. Sim, tudo isso é um fato universalmente conhecido. Mas o nosso inexorável “crítico” não leva em conta os fatos, “põe em dúvida” qualquer coisa, está pronto também a negar os fatos a fim de comprometer aos olhos do leitor o prestígio e a dignidade do sindicato operário! E o senhor K-zá tem a audácia, depois de tudo isso, de declarar-se a favor de nosso sindicato e da necessidade de elevar a luta econômica”!

Quem deu o primeiro passo, dará também o segundo, quem insulta o nosso sindicato, insultará também o nosso jornal. E eis que o senhor K-zá passa ao Gudók. E daí resulta que o Gudók “não faz tudo quanto está a seu alcance para purificar a atmosfera da luta econômica do ressentimento inútil, da irritação prejudicial, do excessivo nervosismo e dos revides próprios de ignorantes”, que o Gudók não faz senão “atacar as outras organizações, os outros partidos, classes, jornais, indivíduos isolados e até o próprio confrade, o Promislóvi Viéstnik”.

Assim deblatera o senhor K-zá. Poderíamos não ter dado ouvidos a essa arenga do famoso “crítico”: pouco nos importam as tolices que um lacaio do capital diz na esperança de vir a ser agradável ao seu patrão! Que seja, porém; dediquemos desta vez algumas palavras ao grande crítico de Baku. Então, o Gudók “não purifica a atmosfera da luta do ressentimento inútil, da irritação perigosa”. .. Admitamos que tudo isso seja verdade. Mas dizei, em nome do sagrado capital, que é que pode suscitar mais ressentimento e irritação: a palavra impressa do Gudók ou o comportamento efetivo dos industriais do petróleo, os quais despedem sistematicamente os operários, aplicam a retenção de 10 copeques para os hospitais, tiram dos operários as casas do povo, recorrem aos Kótchi(2), às pancadas, etc. Por que o senhor K-zá, esses “devoto” defensor da “elevação da luta econômica”, não julga necessário dizer uma única palavra sobre o que fizeram os industriais do petróleo, suscitando irritação e ressentimento? Mas aqueles elementos “vesgos” que podem decidir-se a recorrer ao terrorismo econômico não leem o nosso jornal; podem antes estar irritados e cheios de ressentimento pelas repressões e os abusos dos industriais do petróleo. Por que então o senhor K-zá, que fala tão mal do Gudók, silencia completamente quando se trata dos “assuntos vesgos” dos senhores industriais? E não fica evidente, depois disso, que o descaramento do senhor K-zá não conhece limites?

Em segundo lugar, onde viu o senhor K-zá que o Gudók não procurou “purificar a atmosfera da luta econômica do ressentimento inútil e da irritação prejudicial”? E a agitação do Gudók contra o terrorismo econômico e a greve branca; contra as greves de rebeldes anárquicos, e a favor das greves organizadas; contra as ações parciais, e a favor da defesa dos interesses gerais de classes? Que é isso senão “purificação, da atmosfera da luta, do ressentimento inútil e da irritação prejudicial?” É possível que o senhor K-zá não saiba tudo isso? Ou então, talvez, julga necessário fingir não sabê-lo para fazer o papel de pregoeiro do capital? Para que servem então todos esses belos discursos sobre a “moral” e a “consciência humana”?

O Gudók “ataca as outras organizações, os outros partidos, classes, jornais, pessoas isoladas, até mesmo o Promislóvi Viéstnik” — continua a acusar o senhor K-zá, É absolutamente exato, senhor K-zá, dissestes inadvertidamente a verdade: o Gudók dirige efetivamente a luta contra as outras classes e seus jornais! Mas é possível que se possa exigir outra coisa de um jornal dos operários, explorados por todas as outras classes e grupos? Deixai de fazer o papel de “anjo inocente” e dizei claramente, sem tanta pose: será possível que não saibais que o órgão dos industriais do petróleo, o Nieftianóie Diélo, e o seu patrono, o conselho do congresso, foram criados justamente para “atacar” a classe operária, o partido dos operários, o jornal dos operários? Será possível que não vos lembreis de como o conselho do congresso resolveu ultimamente aplicar a retenção de 10 copeques, aumentar os preços das refeições, reduzir as escolas e os alojamentos, tirar dos operários as casas do povo, etc.? E o órgão dos industriais do petróleo, o Nieftianóie Diélo, não procurará talvez justificar essas disposições asiáticas? Ou talvez isso tudo não significa “atacar” os operários, mas “elevá-los acima dos seus instintos criminosos”, disciplinar a luta econômica, etc.? Mas como quereríeis então que agisse um jornal operário diante das manobras dos industriais do petróleo que exploram os operários, de suas organizações que enganam os operários, de seus jornais que corrompem os operários, e de K-zá, por exemplo, o qual envida esforços ridículos para fundamentar de “maneira filosófica” medidas bárbaras, asiáticas, dos industriais do petróleo? Será possível que o próprio senhor K-zá não compreenda a necessidade da luta de classes entre os operários e os patrões ? Oh, por certo ele compreende perfeitamente tudo isso: não dirige talvez ele mesmo a luta contra o proletariado e suas organizações? Mas, antes de mais nada, ele fala contra a luta que movem os operários e não contra a luta em geral; em segundo lugar, os industriais do petróleo não lutam, não fazem senão “elevar a luta”; em terceiro lugar, K-zá não é contra os operários, ele é todo pelos operários, a favor... dos industriais do petróleo; em quarto lugar, K-zá “salva a situação”: como sabeis, é preciso levar isso em conta...

É evidente que a audácia do senhor K-zá é digna de competir com a sua “consciência” pela faculdade, comum a ambas, de se ampliarem segundo a necessidade.

Assim estão as coisas no editorial do senhor K-zá no concernente às particularidades de que se vale contra o proletariado e as suas organizações.

★ ★ ★

Passemos agora à segunda parte do seu artigo.

Nessa parte o autor fala acerca das causas do terrorismo econômico. De suas palavras “resulta” que a causa está nos “intelectos obtusos” e nos “instintos criminosos” das camadas atrasadas da classe operária. E a “obtusidade” e a “criminalidade” se explicam com o fato de que os sindicatos e os jornais operários não dirigem com suficiente energia um trabalho de educação e de elevação da luta entre os operários. Certamente, acrescenta o senhor K-zá, “os programas (dos sindicatos?) não aprovam o terrorismo econômico”, porém unicamente a “desaprovação estatutária não é suficiente quando vemos que a vida se pôs num caminho errado. Aqui é necessária uma luta ativa de todos... os partidos e sindicatos” “contra o mal que nasceu”. “ Só quando... todos os amigos dos operários — diz o senhor K-zá, explicando o seu pensamento — sem distinção de filiação partidária, moverem uma enérgica luta ao terrorismo econômico, só então cessarão os homicídios”, etc.

Portanto, os operários são ignorantes e por isso frequentemente decidem matar, mas são assim porque os seus sindicatos e jornais não procuram “educá-los e elevá-los”: toda a culpa é pois dos sindicatos e dos jornais operários.

Assim deblatera o senhor K-zá.

Não nos deteremos, em matéria de terrorismo econômico, sobre a confusão que reina na cabeça do senhor K-zá. Aludimos à sua insensata declaração, segundo a qual o terrorismo econômico é uma questão de programa. Uma única coisa queremos notar: 1.°) — se o senhor K-zá, mencionando o “terrorismo incluído no programa”, alude aos sindicatos, como pode então ignorar que na Rússia, em geral, os sindicatos não têm programa? Contudo, qualquer operário o sabe! 2.°) — se, ao invés, alude aos partidos, será então possível que ele não saiba o que qualquer estudante ginasial sabe: que o terrorismo econômico é uma questão tática e não programática ? Para que servem pois todas essas divagações sobre o programa? Estamos estupefatos de ver que os senhores industriais do petróleo não tenham sabido recrutar um “ideólogo” melhor ou pelo menos não tão ignorante.

Não nos deteremos igualmente sobre uma outra declaração do senhor K-zá, essa de todo em todo absurda (e não só própria de ignorantes!), na qual, a respeito do terrorismo econômico, se diz que a “vida se pôs num caminho errado” e que “nós” devemos lutar contra a vida. Observemos somente que as nossas coisas andariam mal se justamente a vida — e não homens isolados, retardados em relação à vida — se tivesse posto num caminho errado. A força de nossa agitação está exatamente nisto: a vida mesma, a vida onipotente, a vida que se desenvolve, exige a luta contra o terrorismo econômico. Se o senhor K-zá não compreende isso, aconselhamo-lo a transferir-se para um outro planeta; lá, talvez, conseguirá aplicar a sua absurda teoria da luta contra a vida que se desenvolve ...

O melhor é passar à “análise” do senhor K-zá.

E primeiro que tudo desejaríamos perguntar: será possível que o senhor K-zá pense de verdade que justamente os sindicatos e os jornais operários sejam a causa do terrorismo econômico?

Que significa “educar” os operários? Não significa talvez ensinar-lhes a luta consciente, sistemática? (Sobre isto o senhor K-zá está de acordo!) Mas quem pode ocupar-se desse trabalho, senão os sindicatos e os jornais operários com sua agitação oral e escrita, por uma luta organizada ?

Que significa “elevar” a luta econômica? Não significa talvez orientá-la contra uma ordem social e não, em nenhum caso, contra indivíduos isolados? (Sobre isso K-zá também está de acordo!). Mas quem deveria ocupar-se disso, senão os sindicatos e os jornais operários?

E não são talvez os industriais do petróleo que reduzem a luta contra a classe operária a uma luta contra operários isolados, jogando para fora, dispensando os operários mais conscientes?

E se o senhor K-zá está realmente convencido de que sua acusação contra os sindicatos e os jornais operários é justa, por que estende seus conselhos justamente a esses sindicatos e jornais? Como pode ele ignorar que organizações, “as quais atacam as outras classes, os outros jornais e as outras pessoas”, etc., não agirão conforme o conselho do senhor K-zá? Com que objetivo, portanto, mói a água no pilão?

Evidentemente, ele próprio não acredita na sua acusação. E se K-zá, não obstante isso, fala ainda contra os sindicatos, o faz para desviar a atenção do leitor da causa efetiva, para esconder os verdadeiros “culpados”.

Mas não, senhor K-zá! Não conseguireis esconder do leitor as causas efetivas do terrorismo econômico!

Causa efetiva dos “homicídios econômicos” não são os operários nem suas organizações, mas o modo de agir dos senhores industriais do petróleo, que irritam e provocam ressentimento.

Indicais a “falta de cultura” e a “ignorância” de certas camadas proletárias. Mas onde lutar contra a “falta de cultura” e a “ignorância” senão nas escolas e nas conferências? Por que então os magnatas do petróleo reduzem o número das escolas e das conferências? E por que vós, “sincero” promotor da luta contra a “falta de cultura”, não levantais a voz contra os industriais, os quais privam os operários de escolas e de conferências?

Falais de “elevar” os costumes. Por que então, egrégio senhor, calastes quando os senhores industriais do petróleo tiraram dos operários as casas do povo, esses centros de diversões populares?

Celebrais a “elevação da luta econômica”. Mas por que calastes quando os sicários do capital assassinaram o operário Khanlar(3) (sociedade Naftalan); quando a “Born”, a sociedade do Cáspio, a Chibaiev, a Mirzóiev, a Mólot, a Motovilikha, a Biéring, a Mukhtárov, a Málnikov, etc., despediram os operários mais avançados; quando a Chibaiev, a Mukhtárov, a Mólot, a “Runo”, a Kokóriev em Bibi-Eibat e outras firmas tratavam os operários a cacetadas?

Falais dos “instintos criminosos” dos operários, do “ressentimento inútil”, etc. Mas onde estáveis quando os senhores industriais do petróleo exasperavam os operários, pondo à prova os nervos dos mais sensíveis, dos mais inflamáveis dentre eles, dos empregados provisoriamente e dos desempregados? E sabeis, egrégio senhor, que justamente essa parte dos operários foi condenada à fome pelo conselho do congresso com a conhecida retenção de 10 copeques para os hospitais e pela alta dos preços das refeições ?

Mostrais horror pelo “sangue e lágrimas” que o terrorismo econômico fez derramar. Mas sabeis quanto sangue e quantas lágrimas são derramados pela massa dos operários mutilados que não encontram lugar nos hospitais do conselho do congresso ? Por que os senhores industriais do petróleo reduzem o número dos alojamentos? E por que não lançais por isso altos brados como os lançais contra os sindicatos e os jornais operários?

Decantais a “consciência”, etc. Mas por que a vossa consciência cristalina se cala ante essas repressões dos magnatas do petróleo?

Falais... mas basta! É claro, parece-me, que a causa fundamental dos “homicídios econômicos” não são os operários nem suas organizações, mas o modo de agir dos senhores industriais, que irrita e exaspera.

O senhor K-zá, e isso também é claro, é um miserável mercenário dos magnatas do petróleo, que descarrega tudo nas organizações operárias e procura assim justificar aos olhos do “público” o modo de agir dos seus patrões.

★ ★ ★

Passemos agora à terceira parte do artigo do senhor K-zá.

Nesta parte o senhor K-zá refere-se a medidas de luta contra o terrorismo econômico, e suas “medidas” correspondem perfeitamente à sua “filosofia” “acerca das causas” desse mesmo terrorismo.

Ouçamos o grande filósofo de Baku.

“É necessária uma luta ativa contra o mal que se manifestou e é preciso lançar a palavra de ordem dessa luta. Tal palavra de ordem, para todos os partidos e todas as organizações, para todos os sindicatos e todos os círculos, deve ser, no momento atual: “abaixo o terrorismo econômico!”. Só quando for ousadamente hasteada a branca, a pura bandeira com esta palavra de ordem, só então... cessarão os homicídios”.

Essa é a filosofice do senhor K-zá.

Como vedes, ele permanece até ao último momento fiel ao seu deus, o capital.

Em primeiro lugar, ele anulou toda a “reponsabilidade” dos industriais do petróleo quanto aos “homicídios econômicos” (anulou-a filosoficamente!), para fazê-la recair sobre os operários, seus sindicatos e jornais. Com isso ele “justificou plenamente”, aos olhos da chamada “alta sociedade”, a tática ofensiva asiática dos magnatas do petróleo.

Em segundo lugar — e esta é a coisa mais importante para os industriais do petróleo — ele “inventou” contra os “homicídios” o meio mais barato, que não requer nenhuma despesa da parte dos industriais: uma intensa agitação dos sindicatos e dos jornais contra o terrorismo econômico. Assim sublinhou mais uma vez que os industriais não devem ceder frente aos operários, não devem “afrouxar”.

Custa pouco e é elegante! — podem exclamar os magnatas do petróleo ouvindo o senhor K-zá.

Com certeza, estes poderiam “comodamente fazer pouco caso” da opinião da chamada “alta sociedade”. Porém que podem ter em contrário se um tal de K-zá, no interesse da “consciência humana”, põe-se a justificá-los aos olhos da “alta sociedade”?

E vice-versa, como não alegrarem-se, quando, após essas justificativas, o mesmo K-zá propõe o meio mais “seguro” e barato contra o terrorismo econômico? Dirijam pois os sindicatos e os jornais sua agitação de maneira absolutamente livre e sem obstáculos, a fim de que se encham os bolsos dos industriais do petróleo. Bem, não é isso talvez um modo liberal de agir?... E depois disso, como poderiam os industriais do petróleo não fazer entrar na arena literária o seu “rouxinol-bandido”(4), o senhor K-zá?

De resto, basta meditar um pouco, basta somente pôr-se no ponto de vista dos operários conscientes para compreender imediatamente quão ridículas são as medidas propostas pelo senhor K-zá.

Não se trata absolutamente só dos sindicatos e dos jornais: há muito tempo que estes dirigem uma agitação contra o terrorismo econômico; e não obstante isso, os “homicídios” não cessam. Trata-se, em escala bem maior, da maneira de proceder dos senhores industriais do petróleo, que irrita e exaspera, das repressões econômicas, dos abusos, da tática ofensiva asiática adotada pelos senhores industriais, coisas todas essas que alimentam e alimentarão o “terrorismo econômico” de que nos ocupamos .

Dizei-nos, peço-vos: que pode fazer por si só a agitação dos sindicatos e dos jornais, por mais influentes que sejam, quando os senhores industriais do petróleo exasperam com o seu modo de proceder os operários, tirando-lhes uma conquista após outra e impelindo assim os menos conscientes a cometer “homicídios econômicos”! É claro que a agitação antiterrorista por si só, mesmo que com uma “bandeira pura, branca”, não está em condições de fazê-los cessar.

Evidentemente, para “fazer cessar” os “homicídios econômicos” são necessárias medidas mais profundas que a simples agitação, e primeiro que tudo é necessário que os industriais do petróleo renunciem aos abusos e às repressões e satisfaçam às justas reivindicações dos operários. .. Só quando os industriais do petróleo renunciarem à sua tática ofensiva asiática que se concretiza na diminuição do salário, na abolição das casas do povo, na redução das escolas e dos alojamentos, na aplicação da retenção de 10 copeques para os hospitais, no aumento dos preços das refeições, na despedida sistemática dos operários de vanguarda, nas surras a pauladas, etc.; só quando os senhores industriais do petróleo se puserem com decisão no caminho de civilizadas relações europeias com a massa operária e seus sindicatos, reconhecendo nestes últimos uma força que tem os “mesmos direitos deles”, só então se criarão as premissas necessárias a “pôr um paradeiro” “nos homicídios”.

Tudo isso é de tal maneira claro que não vale a pena demonstrá-lo.

Mas o senhor K-zá não o compreende, e de resto não pode, não quer compreendê-lo, porque não “convém” aos senhores industriais do petróleo, porque exigiria para eles uma certa despesa, porque revelaria toda a verdade sobre os “culpados” dos “homicídios econômicos”...

A conclusão é uma só: K-zá é um lacaio do capital.

Mas qual é a consequência do fato de que K-zá é um lacaio do capital?

Eis aqui: o que diz o senhor K-zá não se refere a ele, mas aos industriais do petróleo que o “inspiram”. O artigo de K-zá não é, portanto, filosofia sua, mas filosofia dos senhores industriais do petróleo. É evidente que pela boca de K-zá são eles que falam: K-zá reflete somente os “pensamentos, desejos, estados de alma” deles.

Nisto, e só nisto, consiste o interesse do artigo do senhor K-zá analisado por nós.

K-zá como Kozá(5), K-zá como “personalidade” é para nós uma entidade menosprezível, matéria imponderável, sem nenhum valor. E em vão o senhor K-zá se lamenta do Gudók, que “atacaria” a sua “personalidade”: podemos assegurar-lhe que o Gudók nunca se interessou pela sua chamada “personalidade”.

Mas K-zá, como nulidade impessoal, K-zá, como ausência de personalidade, como simples expressão das opiniões e dos estados de alma dos senhores industriais do petróleo, tem indubitavelmente para nós um certo valor. É deste ponto de vista que levamos em consideração tanto o próprio K-zá como o seu artigo.

Evidentemente o senhor K-zá não deblatera por prazer pessoal. Se na primeira parte de seu artigo ele ataca furiosamente os sindicatos, procurando desacreditá-los; se na segunda parte acusa-os de cultivarem o terrorismo econômico, sem lembrar com uma única palavra as providências asiáticas dos senhores industriais do petróleo; se na terceira parte diz que a agitação antiterrorista é a única medida contra os “homicídios”, deixando de lado a tática ofensiva de seus patrões, isso significa que os industriais do petróleo não têm intenção de colocar-se no caminho das concessões à massa operária.

Os industriais do petróleo atacarão, os industriais do petróleo devem atacar, e vós, operários e sindicatos, peço-vos, retirai-vos: eis o que nos dizem os industriais do petróleo pela boca do seu “rouxinol-bandido”.

Esta é a moral do artigo do sr. K-zá.

A nós, operários, às nossas organizações e aos nossos jornais não resta senão vigiar os senhores industriais do petróleo, não topar suas provocações, e seguir, com a firmeza e a calma já demonstradas, o caminho da transformação de nossa luta espontânea numa luta rigorosamente classista, sistemática, que conduza a uma finalidade bem precisa.

Quanto aos clamores hipócritas dos diversos mercenários do capital, podemos não lhes prestar atenção alguma.

Assinado: K. Kato


Notas de fim de tomo:

(1) K-zá (P. Kara-Murza), membro do partido cadete, redator do órgão dos industriais do petróleo de Baku, o Nieftianóie Diélo. (retornar ao texto)

(2) Kotchi, bandidos. (retornar ao texto)

(3) Khanlar Safaraliev, operário bolchevique, organizador genial dos operários do Azerbaidjão. Após uma greve bem sucedida dos poços da Naftalan, na noite de 19 para 20 de setembro de 1907 foi mortalmente ferido por um sicário dos industriais e morreu poucos dias depois. Seguindo o convite do comitê do P.O.S.D.R. do distrito de Bibi-Eibat, os operários efetuaram uma greve geral de quarenta e oito horas, exigindo que fossem afastados dos poços o assassino de Khanlar, um tal de Djafar, mestre perfurador, e o administrador Abusarbek. Os funerais de Khanlar transformaram-se numa poderosa demonstração de protesto de que participaram 20.000 operários. Stálin pronunciou um discurso no túmulo do companheiro assassinado. (retornar ao texto)

(4) Protagonista de um conto popular russo. (retornar ao texto)

(5) Kozá significa em russo “cabra”. (retornar ao texto)

Transcrição
pcr
Inclusão 19/10/2019