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Prefácio à edição georgiana do Folheto de C. Kautsky - As Forças Motrizes e as Perspectivas da Revolução Russa

J. V. Stálin

10 de Fevereiro de 1907


Primeira Edição: (1)
Tradução: Editorial Vitória
Transcrição: Partido Comunista Revolucionário
HTML:
Fernando A. S. Araújo
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.

capa

O nome de Carlos Kautsky não é novo. Há muito tempo é ele conhecido como um insigne teórico da social-democracia. Porém, Kautsky não é notável só sob esses aspecto; é notável também como analisador sério e ponderado de questões táticas. Por essa sua atividade ele adquiriu grande prestígio não só entre os camaradas europeus, como também entre nós. E isso não causa admiração : hoje, enquanto as divergências sobre a tática cindem a social-democracia russa em duas frações, enquanto a crítica recíproca frequentemente aguça os contrastes, transformando-se em mexerico e tornando a pesquisa da verdade extremamente difícil, é muito interessante; escutar um camarada desapaixonado e experimentado como é o camarada C. Kautsky. Eis por que os nossos camaradas puseram-se a estudar com verdadeira paixão os seus artigos sobre tática: A Duma de Estado, A insurreição de Moscou, A questão agrária, Os camponeses russos e a revolução, Os progromos de judeus na Rússia, etc. Mas despertou uma atenção incomparavelmente maior entre os camaradas o presente folheto, e isso porque nele são tratadas todas as questões fundamentais que dividem a social-democracia em duas frações. O fato é que Plekhánov, o qual faz pouco tempo dirigiu-se aos camaradas estrangeiros para esclarecer os nossos problemas atuais, ao que parece também se dirigiu a Kautsky e pediu-lhe também o seu parecer sobre esses mesmos problemas; ao que o camarada Kautsky, como se depreende de suas palavras, respondeu com o presente folheto. Compreende-se por isso o enorme interesse que este último despertou entre os camaradas, e é claro que para nós isso tem uma grande importância. Faremos, pois, coisa muito útil se recordarmos, mesmo que seja em linhas gerais, as questões que nos dividem, e explicarmos, ao mesmo tempo, os pontos de vista de Kautsky sobre estas ou aquelas questões.

De que lado está Kautsky, a quem apoia, aos bolcheviques ou aos mencheviques?

A primeira questão que cinde em duas partes a social-democracia russa diz respeito ao caráter geral da nossa revolução. Que a nossa revolução é democrático-burguesa e não socialista, que acabará destruindo o feudalismo e não o capitalismo, é coisa clara para todos. Mas, perguntam-nos, quem dirigirá essa revolução e quem agrupará em torno de si os elementos descontentes do povo: a burguesia ou o proletariado? O proletariado marchará a reboque da burguesia, como sucedeu na França, ou será a burguesia a seguir o proletariado? Eis como se coloca a questão.

Os mencheviques dizem pela boca de Martínov que a nossa revolução é burguesa, que é a repetição da Revolução francesa, e como a Revolução francesa, na qualidade de revolução burguesa, foi dirigida pela burguesia, assim também a nossa revolução deve ser dirigida pela burguesia.

“A hegemonia do proletariado é uma utopia danosa...” “O proletariado deve seguir a oposição burguesa mais radical” (vide Duas ditaduras, de Martínov).

Os bolcheviques, ao invés, dizem: é verdade que a nossa revolução é burguesa, mas isso não significa absolutamente que ela seja uma repetição da Revolução francesa, que deva necessariamente ser dirigida pela burguesia, como aconteceu na França. Na França, o proletariado era uma força pouco consciente e desorganizada, de modo que a hegemonia na revolução permaneceu com a burguesia. Entre nós, pelo contrário, o proletariado é uma força incomparavelmente mais consciente e organizada, que não se contenta por isso com a função de apêndice da burguesia, e, uma vez que é a classe mais revolucionária, põe-se à frente do movimento atual. A hegemonia do proletariado não é uma utopia, é um fato real: o proletariado, de fato, agrupa em torno de si os elementos descontentes. Aconselhar o proletariado a “seguir a oposição burguesa” significa, no caso do proletariado da Rússia, privá-lo de sua independência e transformá-lo num instrumento da burguesia (vide Duas táticas, de Lênin)(2).

Como C. Kautsky considera esta questão?

“Frequentemente os liberais reportam-se à Grande Revolução francesa, e muitas vezes sem nenhum fundamento. As condições da Rússia atual são sob muitos aspectos absolutamente diferentes das que existiam na França em 1789” (vide o terceiro capítulo do folheto...). “O liberalismo russo é de tipo absolutamente diverso do da Europa ocidental, e também por essa única razão constitui erro muito grave considerar a Grande Revolução francesa como um autêntico modelo da atual revolução russa. Nos movimentos revolucionários da Europa ocidental, a classe dirigente era a pequena burguesia, especialmente a pequena burguesia das grandes cidades” (vide o quarto capítulo)... “Passou o tempo das revoluções burguesas, vale dizer, das revoluções em que a força motriz era a burguesia, e passou também para a Rússia. E na revolução o proletariado não é mais um simples apêndice e um instrumento da burguesia, como o foi durante as revoluções burguesas, mas uma classe independente, com objetivos revolucionários próprios” (vide o quinto capítulo).

Assim se exprime Kautsky ao definir o caráter geral da revolução russa; assim avalia Kautsky a função do proletariado na atual revolução russa: portanto o proletariado deve encabeçar a revolução.

A segunda questão que nos divide: pode a burguesia liberal ser pelo menos aliada do proletariado na revolução atual?

Os bolcheviques dizem que não pode. É verdade que na Revolução francesa a burguesia liberal teve uma função revolucionária, mas isso aconteceu porque a luta de classes não era tão aguda, o proletariado era pouco consciente e contentava-se com a função de apêndice dos liberais, ao passo que entre nós a luta de classes é extremamente aguda, o proletariado é muito mais consciente e não pode contentar-se com a função de apêndice dos liberais. Onde quer que o proletariado lute de maneira consciente, a burguesia liberal cessa de ser revolucionária. Exatamente por isso é que os cadetes e liberais, apavorados com a luta do proletariado, buscam proteção debaixo da asa da reação. Exatamente por isso é que eles lutam mais contra a revolução que contra a reação. Exatamente por isso é que os cadetes mais facilmente concluem uma aliança com a reação, contra a revolução, do que uma aliança com a revolução. Sim, a nossa burguesia liberal e os seus sustentáculos, os cadetes, são aliados da reação, são inimigos “iluminados” da revolução. Coisa completamente diversa são os camponeses pobres. Os bolcheviques dizem que somente os camponeses pobres estendem a mão ao proletariado revolucionário e só eles podem fazer uma sólida aliança com o proletariado para todo o período da revolução atual. O proletariado deve sem dúvida apoiá-los contra a reação e os cadetes. E se essas duas forças principais contraírem uma aliança, se os camponeses e os operários apoiarem-se reciprocamente, a vitória da revolução está garantida. De outro modo, será impossível. Exatamente por isso é que os bolcheviques não apoiam os cadetes, nem na Duma nem fora da Duma, nas eleições de primeiro grau. Exatamente por isso é que os bolcheviques, seja nas eleições, seja na Duma, apoiam somente os representantes revolucionários dos camponeses, contra a reação e os cadetes. Exatamente por isso é que os bolcheviques agrupam as grandes massas populares em torno da parte revolucionária da Duma e não em torno de toda a Duma. Exatamente por isso é que os bolcheviques não apoiam a reivindicação da nomeação de um ministério cadete (vide Duas táticas e A vitória dos cadetes(3), de Lênin).

Os mencheviques raciocinam de modo totalmente diverso. É verdade que a burguesia liberal oscila entre a reação e a revolução, mas bem no fim, segundo eles, ela aderirá todavia à revolução, terá todavia uma função revolucionária. Por que? Porque na França a burguesia liberal teve uma função revolucionária, porque a nossa burguesia está em oposição à velha ordem e, portanto, será obrigada a aderir à revolução. Segundo os mencheviques, a burguesia liberal e os seus sustentáculos, os cadetes, não podem ser chamados de traidores da atual revolução; seriam eles os aliados da revolução. Bis por que os mencheviques os apoiam, seja nas eleições, seja na Duma. Os mencheviques afirmam que a luta de classes não deve nunca ofuscar a luta geral. E justamente por isso convidam as massas populares a agruparem-se em torno de toda a Duma e não somente em torno de sua parte revolucionária; justamente por isso apoiam com todas as suas forças a reivindicação da nomeação de um ministério cadete; justamente por isso é que os mencheviques estão dispostos a pôr de lado o programa máximo, a mutilar o programa mínimo e a renunciar à república, a fim de evitar que os cadetes se afastem espavoridos. Talvez algum leitor venha a pensar que tudo isso seja uma calúnia lançada contra os mencheviques e exigirá que se mostrem os fatos. Eis, pois, os fatos.

Há pouco tempo, o conhecido literato menchevique Malichevski afirmava:

“A nossa burguesia não quer a república: entre nós, portanto, não pode existir a república..uma vez que “... a nossa revolução deve ter como resultado somente o surgimento de um regime constitucional e não de uma república democrática,” Malichevski aconselha, pois, os “companheiros” a dizerem adeus às “ilusões republicanas” (vide Primeira coletânea(4), págs. 288-289).

Isto em primeiro lugar.

Na véspera das eleições, um dos chefes mencheviques, Tcherevánin, escrevia:

“Seria absurdo e insensato para o proletariado tentar, como alguém propõe, travar a luta junto com os camponeses, seja contra o governo, seja contra a burguesia, por uma Assembleia Constituinte soberana e popular”. Aquilo que desejamos obter hoje, diz ele, é um acordo com os cadetes e um ministério cadete (vide Nache Diélo(5), n.° 1).

Isto em segundo lugar.

Mas isso foi somente escrito. Um outro dos chefes mencheviques, Plekhánov, não se limitava a isso e preconizava que o que fora escrito fosse posto em prática. Enquanto no Partido desenvolvia-se uma discussão acalorada sobre a questão da tática eleitoral, enquanto todos perguntavam se era admissível um acordo com os cadetes nas eleições de primeiro grau, Plekhánov julgava que não seria tampouco suficiente sequer o acordocom os cadetes e começou a pregar um verdadeiro bloco, uma fusão temporária com eles. Lembrai-vos do jornal Továrichtch(6), de 24 de novembro (1906), onde Plekhánov publicou o seu artiguete. Um dos leitores do Továrichtch perguntava a Plekhánov: é possível uma plataforma comum dos social-democratas e dos cadetes e, se é possível, “qual poderia ser... a plataforma eleitoral comum”? Plekhánov respondia que a plataforma comum é necessária e que tal plataforma deve ser a “Duma soberana”... “Não há e não poderia haver outra resposta”, (vide Továrichtch, 24 de novembro de 1906). Que significam as palavras de Plekhánov? Uma só coisa: durante as eleições, o partido do proletariado, isto é, a social-democracia, deve xmir-se de fato ao partido dos empregadores, isto é, aos cadetes; deve, juntamente com estes, publicar volantes de agitação dirigi

dos aos operários; deve, de fato, renunciar à palavra de ordem da Assembleia Constituinte popular, ao programa mínimo social-democrático e lançar, ao invés, a palavra de ordem cadete da Duma soberana. Na realidade, isso não é outra coisa senão a renúncia ao nosso programa mínimo para agradar aos cadetes e para adquirir reputação a seus olhos.

Isto em terceiro lugar.

Mas aquilo que Plekhánov disse com audácia insuficiente, um terceiro dos chefes mencheviques, Vassíliev, expressou-o com singular audácia. Escutai:

“Que antes de mais nada a sociedade, todos os cidadãos... instaurem um poder constitucional. Uma vez que este poder tenha se tornado popular, o povo, correspondentemente ao seu agrupamento por classes e interesses. .. pode preparar-se para a solução de todos os problemas. Então a luta das classes e dos grupos será não só oportuna, como necessária... Hoje, neste momento, ela é prejudicial e criminosa... As diversas classes e os diversos grupos devem, pois, “abandonar temporariamente todos os “melhores programas” e fundir-se num único partido constitucional..“A minha proposta é portanto a de uma plataforma comum que constituirá a base primeira de uma sociedade soberana como pode dar somente uma Duma soberana..“O conteúdo desta plataforma... é: ministério responsável perante a representação popular... liberdade de palavra e de imprensa...”, etc. (vide Továrichtch, 17 de dezembro de 1906). Quanto à Constituinte popular e, em geral, ao nosso programa mínimo, segundo Vassíliev é necessário “abandoná-los”...

Isto em quarto lugar.

É verdade que um quarto chefe dos mencheviques, Mártov, não está de acordo com o menchevique Vassíliev e censura-o altaneiramente pelo supradito artigo (vide Otkliki(7), n.° 2). Mas, em compensação, Plekhánov emite um juízo muito favorável a respeito de Vassíliev, o qual, em seu entender, é “um incansável e estimado organizador social-democrático dos operários suíços”, que “presta muitos serviços à causa operária russa” (vide Mir Bogi(8), junho de 1906). Em qual dos dois mencheviques acreditar, em Plekhánov ou em Mártov? Além disso, o mesmo Mártov não escreveu, faz pouco tempo, que “o conflito entre burguesia e proletariado reforça as posições do absolutismo e dificulta assim a libertação do povo”? (vide Elmar, O povo e a Duma de Estado, pág. 20). Quem ignora que exatamente esses ponto de vista não marxista constitui a verdadeira base da “proposta” liberal lançada por Vassíliev?

Como vedes, os mencheviques estão de tal maneira enfatuados com o “revolucionarismo” da burguesia liberal, depositam tantas esperanças no “revolucionarismo” desta última que para agradar-lhe estão dispostos a pôr de lado o próprio programa social-democrático.

Como considera Kautsky a nossa burguesia liberal, quem ele julga ser um verdadeiro aliado do proletariado, que é que diz sobre esta questão?

“No momento atual (isto é, na atual revolução russa) o proletariado não é mais um simples apêndice e um instrumento da burguesia, como o foi durante as revoluções burguesas, mas uma classe independente, com objetivos revolucionários próprios. Mas onde quer que o proletariado aja desse modo, a burguesia cessa de ser uma classe revolucionária. A burguesia russa, em geral, é liberal e conduz uma política de classe independente, odiando indiscutivelmente o absolutismo, mas odiando ainda mais a revolução. E se quer a liberdade política, a quer sobretudo porque vê nela o único meio de pôr fim à revolução. A burguesia, portanto, não faz parte das forças motrizes do atual movimento revolucionário na Rússia... Somente entre o proletariado e os camponeses existe uma sólida comunhão de interesses para todo o período da luta revolucionária. Toda a tática revolucionária da social-democracia russa deve basear-se precisamente nessa comunhão de interesses... Sem os camponeses não podemos hoje em dia alcançar a vitória na Rússia” (vide o capítulo quinto).

Assim fala Kautsky.

Pensamos que quaisquer comentários sejam supérfluos.

A terceira questão que nos divide: em que consiste a essência de classe da vitória da nossa revolução, ou em outras palavras, que classes devem alcançar a vitória em nossa revolução, que classes devem conquistar o poder?

Os bolcheviques afirmam que, desde que as forças principais da presente revolução são o proletariado e as camponeses, desde que sua vitória sem um apoio recíproco é impossível, justamente eles conquistarão o poder, e a vitória da revolução assumirá a forma de ditadura do proletariado e do campesinato (vide Duas táticas e A vitória dos cadetes, de Lênin).

Os mencheviques, ao revés, repelem a ditadura do proletariado e do campesinato, não acreditam que o proletariado e o campesinato conquistem o poder. Segundo eles, o poder deverá cair nas mãos da Duma cadete. Por conseguinte, apoiam com excepcional ardor a palavra de ordem cadete do ministério responsável. Em vez da ditadura do proletariado e do campesinato, os mencheviques nos propõem, portanto, a ditadura dos cadetes (vide Duas ditaduras, de Martínov, bem como os jornais Golos Trudá(9), Nache Diélo e outros).

Como considera C. Kautsky essa questão?

A este propósito diz ele claramente que

“a força revolucionária da social-democracia russa e a possibilidade de sua vitória estribam-se na comunhão de interesses do proletariado industrial e dos camponeses” (vide o capítulo quinto).

Vale dizer, a revolução vencerá somente no caso em que o proletariado e o campesinato lutem juntos pela vitória comum: a ditadura dos cadetes é antirrevolucionária.

A quarta questão que nos divide: durante as tempestades revolucionárias, é óbvio, surge espontaneamente um por assim dizer governo revolucionário provisório: é admissível a participação da social-democracia no governo revolucionário?

Os bolcheviques dizem que a participação em tal governo provisório não só é admissível do ponto de vista dos princípios, mas será necessária também do ponto de vista prático, e isso para que a social-democracia possa defender dignamente, no governo revolucionário provisório, os interesses do proletariado e da revolução. Se nas lutas de rua o proletariado, juntamente com o campesinato, abater a velha ordem, se, junto com os camponeses, derramar seu sangue, é natural que, conjuntamente com o campesinato, deva entrar no governo revolucionário provisório para levar a revolução aos resultados que deseja (vide Duas táticas, de Lênin).

Os mencheviques, ao invés, repelem a participação no governo revolucionário provisório. Isso, dizem eles, não é admissível para a social-democracia, não é próprio de social-democratas e arruinaria o proletariado (vide Duas ditaduras, de Martínov).

Que é que diz C. Kautsky a este respeito?

“É muito possível que no curso ulterior cia revolução a vitória caiba ao partido social-democrata... ” Mas isso não quer dizer que “a revolução, que a Rússia está atravessando, leve de imediato à instauração, na Rússia, dó método de produção socialista, mesmo que ela confiasse temporariamente o leme do poder à social- democracia” (vide capítulo quinto).

Como vedes, segundo Kautsky, a participação no governo revolucionário provisório não só é admissível, como pode também acontecer que “temporariamente o leme do poder” passe inteiramente às mãos da social-democracia.

Tais são as opiniões de Kautsky a propósito das principais questões que nos dividem.

Como vedes, um teórico verdadeiramente grande da social-democracia, Kautsky, e os bolcheviques, estão de inteiro acordo.

Não o negam nem sequer os mencheviques, excluídos naturalmente alguns mencheviques “oficiais”, os quais provavelmente nunca viram o folheto de Kautsky. Mártov, por exemplo, diz claramente que,

“em sua última conclusão, Kautsky está de acordo com o camarada Lênin e os seus seguidores, os quais propugnam pela ditadura democrática do proletariado e do campesinato” (vide Otkliki, n.° 2, pág. 19).

E isso significa que os mencheviques não estão de acordo com C. Kautsky ou, mais exatamente, que Kautsky não está de acordo com os mencheviques.

Quem, portanto, está de acordo com os mencheviques e com quem, enfim, os mencheviques estão de acordo?

Eis o que diz a esses respeito a história. Em 27 de dezembro (1906), 110 subúrbio de Solian (em Petersburgo), realizou-se uma reunião para discussão. Durante os debates, o chefe dos cadetes, P. Struve, declarou:

“Vós todos vos tornareis cadetes... Os mencheviques já são chamados semicadetes. Muitos já creem que Plekhánov seja um cadete, e, na realidade, muito daquilo que diz agora Plekhánov, pode ser aceito pelos cadetes; é pena porém que não o haja dito quando os cadetes estavam sós” ("vide Továrichtch, 28 de dezembro de 1906).

Eis quem está de acordo com os mencheviques.

Assim sendo, que há de surpreendente se os mencheviques entrarem em conchavo com os cadetes e puserem-se no caminho do liberalismo? ...

10 de fevereiro de 1907.
Assinado: Koba.


Notas de rodapé:

(1) O folheto de C. Kautsky (publicado na Neue Zeit, ano 25, 1.° volume, págs. 284-290 e 324-333), foi traduzido para o georgiano e publicado em Tiflís em março de 1907. (Pág. 11). Fonte: J.V. Stálin – Obras – 2º vol., pág: 11-21, Editorial Vitória, 1952 – traduzida da 2ª edição italiana G. V. Stalin - "Opere Complete", vol. 2 - Edizioni Rinascita, Roma, 1951. (retornar ao texto)

(2) Vide: Duas táticas da social-democracia na revolução democrática, em Lênin, A revolução de 1905. 1. La tattica dei bolscevichi nella rivoluzione democratica, Edições Rinascita, Roma, 1949, págs. 45-160. (retornar ao texto)

(3) Vide: A vitória dos cadetes e as tarefas do partido operário, em Lênin, Obras completas em língua russa, IV edição, vol. 10, págs. 175-250. Cadetes (K-D): membros do partido da burguesia liberal monárquica e, sucessivamente, da burguesia imperialista. Visavam transformar o tzarismo em monarquia constitucional. (retornar ao texto)

(4) Coletânea menchevique, publicada em Petersburgo em 1906. (retornar ao texto)

(5) Nache Diélo (A nossa causa), semanário menchevique que se publicou em Moscou de 24 de setembro a 25 de novembro de 1906. (retornar ao texto)

(6) Továrichtch (O companheiro), diário que se publicou em Petersburgo de março de 1906 a dezembro de 1907. Formalmente não era órgão de nenhum partido, mas de fato era o órgão dos cadetes de esquerda. Os mencheviques colaboraram nele. (retornar ao texto)

(7) Otkliki (Ecos), coletânea menchevique que se publicou em 1906 e 1907 em Petersburgo. Saíram três fascículos. (retornar ao texto)

(8) Mir Bógi (O mundo de Deus), revista mensal de orientação liberal que iniciou a sua publicação em 1892, em Petersburgo. Nos últimos anos do século XIX publicou artigos de “marxistas legais”. No período da revolução de 1905 os mencheviques colaboraram na revista. De 1906 a 1918 saiu com o título Sovrêmenni Mir (O mundo contemporâneo) (retornar ao texto)

(9) Golos Trudá (A voz do trabalho), jornal menchevique que se publicou em Petersburgo de 21 de junho a 7 de julho de 1906. (retornar ao texto)

Transcrição
pcr
Inclusão 29/09/2019