Peniche, 1960
O folhetim continua

Francisco Martins Rodrigues


Primeira Edição: sem data

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida — consta com o título: Fuga da cadeia de Peniche, 3 de Janeiro

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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capa

Um camarada veio dar-me os parabéns, de Avante na mão. Num artigo sobre a evasão do forte de Peniche, de Janeiro de 1960, constava pela primeira vez o meu nome! De facto, é caso para registar, já que, durante mais de 40 anos, a direcção do PCP teimou em sanear-me da lista dos evadidos de Peniche. “Questão de princípio”, claro: os que “renegam” o Partido deixam de existir.

Por fim, o ridículo já era tanto que lá se resolveram a meter o meu nome, mas vê-se que foi a custo. Daí a pequena infâmia de escrever, logo a seguir, que “todos os outros retomaram, na clandestinidade, o seu posto de luta contra o fascismo e pela liberdade”, levando o leitor a concluir que eu não teria “retomado o meu posto de luta.” Mas retomei. E fui cooptado depois disso para o Comité Central e para a Comissão Executiva do PCP, na clandestinidade. Saí do partido em Dezembro de 1963, quase quatro anos depois da fuga de Peniche, e não para abandonar a luta contra o fascismo, como muito bem sabem os redactores do Avante, visto que voltei para a clandestinidade, aí já como membro do Comité Marxista-Leninista, e de 1966 até ao 25 de Abril voltei a estar preso.

De qualquer modo, é de saudar a incrível coragem dos redactores do Avante, que conseguiram, ao fim de todo este tempo, pôr termo ao difícil malabarismo de fazer, com apenas nove nomes, dez fugitivos de Peniche.

O mais cómico é que o reflexo dos 9 = 10 está tão arreigado na sua mente que, ao incluírem pela primeira vez o meu nome, acabaram por eliminar o nome de um outro fugitivo. Calhou desta vez a Joaquim Gomes dos Santos ser riscado para se cumprir a norma dos 10 presos que só têm nove nomes. Se o ridículo matasse, os bonzos que governam o PCP há muito estariam empalhados.


Inclusão 26/08/2019