A História da PIDE

Francisco Martins Rodrigues

Novembro/Dezembro de 2007


Primeira Edição: Política Operária nº 112, Nov-Dez 2007

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

A História da PIDE, Irene Flunser Pimentel. Temas e Debates/Círculo de Leitores, Lisboa, 2007.

Contra uma certa campanha de banalização da repressão política em Portugal ao longo do meio século de fascismo, a autora define logo de entrada a PIDE como uma organização secreta que recorria à tortura, por mais coberturas legalistas que o ditador procurasse dar-lhe. Essa característica fascista só não fica documentada neste volume como seria desejável pelo facto de não serem aqui estudados o período anterior a 1945 e as guerras coloniais — justamente os dois períodos mais reveladores da real natureza da polícia secreta salazarista.

Num volume de quase 600 páginas, e depois de passar em revista a orgânica interna da PIDE, as suas relações com o Estado e a Igreja, a colaboração estreita que recebia da GNR, PSP e PJ, assim como do Exército (colaboração que depois do 25 de Abril se tratou de apagar), a autora faz uma recolha dos principais processos nos anos 1945-1974. Pena é que desta sucessão de acções de resistência, prisões, julgamentos, evasões, assassinatos, atentados, não se extraia uma análise de como funcionava a Oposição (nomeadamente o seu eixo, o PCP), das relações entre os activistas e a massa da população, da rede de espionagem da PIDE nas empresas e nos bairros, etc.

Porque isso ajudaria a responder à questão evocada pela autora nas Conclusões: o facto de a polida política salazarista ter podido praticar uma repressão selectiva, conseguindo, com uma inegável economia do terror; que não assumiu, nem de longe, as proporções de Espanha, Itália, etc., para já não falar do nazismo, manter controlada a oposição à ditadura ao longo de decénios. Esta é uma questão política que este volume naturalmente não explora mas que conserva o maior interesse para se compreender o país em que vivemos. Porque, se o fascismo português não foi forçado a recorrer a uma repressão indiscriminada e em massa, é necessário concluir que a oposição à ditadura não assumiu na maior parte do tempo a dimensão que muitas vezes lhe é atribuída; se o medo paralisou durante tanto tempo grande parte da população e das forças políticas — isso suscita reflexões interessantes quanto aos antagonismos reais que opunham a massa da pequena burguesia e do proletariado à ditadura. Assunto sobre o qual muito resta para dizer.


Inclusão 21/08/2019