Ruptura, precisa-se

Francisco Martins Rodrigues

Setembro/Outubro de 2007


Primeira Edição: Política Operária nº 111, Set-Out 2007

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Flexigurança, o nome rebuscado que os comissários europeus inventaram, quer dizer, muito simplesmente, a liberdade total para o patronato contratar e despedir trabalhadores, fixar salários, horários, funções, conforme lhe convier. É o que os capitalistas americanos, com a sua brutalidade, chamam hire and fire, contratar e despedir. As promessas de “segurança” são só esmolas ou poeira para os olhos, para desarmar a resistência das vítimas.

Hoje, um em cada três portugueses ou está desempregado, ou trabalha a prazo ou a recibos verdes, ou é temporário. Mas isto, para os capitalistas, ainda é pouco. Querem ver-se livres dos milhares de trabalhadores tornados "excedentários” pelas novas tecnologias, a mundialização, a concorrência.

O capitalista só investe se tiver boas perspectivas de lucro. Na lógica deles, cabe aos trabalhadores oferecerem condições apetecíveis. Quem se vender por menos é o preferido. Em Portugal ou na Patagónia, tanto faz.

Compreende-se que à burguesia não convenha dizer isto abertamente. Mas aqueles que falam em nome dos trabalhadores — porque não chamam as coisas pelos nomes? Porque invocam com toda a seriedade a "solidariedade social", as “garantias democráticas” e outra tretas semelhantes?

Os sindicatos estão a enfrentar este ataque com a moleza própria dos aparelhos burocráticos, enrolados nos seus compromissos. A jornada de 18 de Outubro, convocada para cumprir o calendário de acções durante a presidência portuguesa da UE, corre o risco de ser mais uma demonstração inócua.

A “ruptura com a política actual” que reclama o PCP não será possível enquanto não rompermos com a hipocrisia que amarra o espírito de luta e a revolta dos trabalhadores. É por aí que há que começar.


Inclusão 18/08/2019