A Nova Ameaça

Francisco Martins Rodrigues

Setembro/Outubro de 2006


Primeira Edição: Política Operária, nº 106, Set-Out 2006

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Agosto foi o mês da campanha do Líbano. Em vagas de bombardeamentos, Israel arrasa bairros, pontes e portos, mata 1200 habitantes pacíficos, põe um milhão em fuga pelas estradas. É um dos crimes mais odiosos da nossa época. Não lhe acontece nada.

Aliás, o “Ocidente” tem mais em que pensar. É hora de recordar, em emocionado recolhimento, o aniversário do 11 de Setembro. A repetição obsessiva, hipnótica, das cenas dos atentados de Nova Iorque, cumpre a sua missão: fazer com que cada um interiorize a necessidade de “permanecer vigilantes perante a ameaça do terrorismo apocalíptico”. Os corpos das mulheres e crianças libanesas sob os escombros já estão esquecidos.

Há ainda quem hesite? O Papa dá a última palavra: a religião dos muçulmanos é “inumana”. Isto, mal passado um mês sobre a sangueira libanesa. Fingindo que não entendem a provocação intolerável, os paladinos da “liberdade de expressão” aplaudem: “Vamos sujeitar-nos a uma censura prévia com medo de ofender fanatismos? “Não nos dobramos à ditadura do medo”. Querem eles dizer: Reivindicamos o nosso direito sagrado de matar sem ter que ouvir os protestos das vítimas.

Tudo isto pode parecer uma cegueira suicida, mas tem motivações bem racionais. Uma vez que as campanhas do Iraque, da Palestina, do Afeganistão, se transformam em atoleiros sem fundo, há que prosseguir o avanço. O Líbano correu mal. Passemos a Síria, ao Sudão, ao Irão ...A engrenagem da catástrofe não pode parar.

Notam alguns analistas, preocupados, que o Hezbollah, agora aclamado pelas multidões do Médio Oriente pela sua brilhante resistência aos invasores, pode ser uma ameaça muito mais efectiva para o “Ocidente” do que a Al Qaida, por ser um partido de massas, dotado de um programa político. Têm toda a razão.


Inclusão 26/08/2019