Cruzada Infame

Francisco Martins Rodrigues

Setembro/Outubro de 2001


Primeira Edição: Política Operária, nº 81, Set-Out 2001

Fonte: Francisco Martins Rodrigues Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Brutalmente despertado pelos atentados do torpor boçal em que se vem arrastando, o nosso meio político revelou com pureza cristalina o que valem as suas poses “humanistas” e “democráticas”.

Descobrindo com horror (só agora!) que o confronto mundial pode produzir milhares de vítimas inocentes, socialistas, social-democratas e centristas (em Portugal não há direitistas...) aderiram em força, entre hipócritas recomendações de moderação, à cruzada de Bush. O carrasco no papel de vítima, que óptimo pretexto para disfarçar a guerra aos pobres e oprimidos sob as cores da “defesa da civilização”!

O país está assim lançado, quase sem dar por isso, numa aventura ultra-reaccionária com consequências difíceis de calcular.

Para intimidar a opinião pública reticente não se olha a meios. A hora é de firmeza contra os “bárbaros”! Nem a esquerda parlamentar, apesar do seu alinhamento medroso com a exigência da “punição” escapou a ser apontada como desleal e vacilante por condenar o envolvimento do país na expedição americana.

Sabemos que, ao recusar a chantagem do “antiterrorismo”, ao designar a aventura imperialista pelo seu nome e ao trabalhar pela sua derrota, seremos mais uma vez marginalizados. Não importa. É isso que nos exigem os interesses do proletariado e dos povos oprimidos. Passada a onda da histeria, a nossa razão será reconhecida por muitos dos que agora se calam, como nas guerras do Golfo e da Jugoslávia. De momento o que conta é a urgência de agir contra a cruzada infame.


Inclusão 26/08/2019