Informação Sobre a Situação Geral da OCPO

Francisco Martins Rodrigues

1985


Primeira Edição: Informação-circular à OCPO, redigida por FMR, 1985

Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando A. S. Araújo.

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(…) Não temos dado quaisquer passos para a construção da corrente sindical revolucionária, decidida no encontro de Junho. Muitos camaradas não têm qualquer actividade de massas e aqueles que a têm não recebem apoio organizado para a desenvolver. Os núcleos reúnem mal ou mesmo não funcionam e não têm vida política própria. O nível de militância da maioria dos camaradas é quase nulo, fazendo recair sobre um pequeno núcleo quase todo o esforço de edição da revista e de levantamento da empresa, assim como as mais variadas pequenas tarefas. Nos últimos meses, houve apenas um recrutamento e 3 camaradas pediram a demissão, enquanto outros procedem como se não tivessem assumido compromissos organizativos, umas vezes alegando impedimentos familiares e profissionais, outras vezes deixando simplesmente de aparecer. Tende a aumentar o montante das quotas em atraso.

Esta situaçao de crise ficou retratada na Assembleia de 14 de Setembro. (…) O acordo geral manifestado acerca da táctica eleitoral deixou na sombra a questão que era mais urgente discutir: razões da perda de militância do bastantes camaradas e maneira de a ultrapassar. Como não foram francamente atacadas as dificuldades existentes, prevaleceu um espírito de conciliação e ausência de crítica e autocrítica, não se criando garantias para uma intervenção política convicta.

Para a direcção, ê fora de dúvida que se não se invertesse rapidamente o curso da nossa vida colectiva, a OCPO correria o risco de estiolar num pequeno grupo editor da revista, isolado da classe operária, e acabaria por se desagregar. Não podemos convencer-nos de que a revista se torne um remédio milagroso para a crise da organização. A propaganda e agitação através da revista é o nosso pilar ideológico, como foi definido na Assembleia de Março, mas tem que ser obrigatoriamente completada por uma actividade prática política e sindical, ligada às massas operárias e populares, assente numa sólida organização comunista. Se isto não fosse conseguido não haveria nenhum avanço em direcção ao Partido Comunista que pusemos como nosso alvo.

A degradação da situação organizativa resulta da atitude conciliatória da direcção face às tendências liberais, à descrença e ao desencorajamento de diversos camaradas, permitindo-lhes que alastrem a toda a organização. Isto revela falta de vigilância política e de firmeza, na medida em que, desde as primeiras reuniões preparatórias, em Dezembro do ano passado, se tornara evidente a falta de convicção dum certo número de camaradas, que se encostaram ao projecto da OCPO apenas para “ver o que dava” e já sem grandes convicções revolucionárias. Impunha-se uma firme actividade militante, estimulada a partir do centro, a fim de ganhar todos os que pudessem ser ganhos e para separar o trigo do     joio, isto é, os que saíram do PC(R) pela esquerda dos que o abandonaram pela direita. Esse trabalho nunca foi empreendido pela direcção, que preferiu contemporizar para não ferir susceptibilidades e fechou os olhos aos sintomas crescentes do desagregação, esperando sempre que os camaradas em crise se curassem espontaneamente. (…)

(…) não há razões para rever os princípios adoptados na Assembleia de Março acerca de uma ampla democracia interna e do apelo a iniciativa dos militantes e núcleos, em ruptura com o estilo controleirista e ultracentralizador do PC(R). (…) esses princípios não podem ser instituídos através de uma atitude passiva, liberal e de deixa-andar. Exigem energia crítica, intransigência ideológica, exemplo e estímulo da própria direcção, antes de mais.

O alastramento desagregador da ofensiva burguesa na nossa sociedade, a crise de confiança e combatividade do movimento operário, a distância que ainda nos separa do objectivo de construir uma corrente de ideias marxista-leninista e um Partido Comunista autêntico  exigem uma grande tensão de esforços, firmeza, empenhamento na acção, ligação à classe operária. Nunca chegaríamos à meta se nos conformássemos a uma organização desarticulasa de “fala-baratos” mais ou menos em crise.

Tendo em conta esta apreciação global da situação, a direcção tomou as seguintes decisões, para que pede o apoio de todos os camaradas:

  1. Reforçar o seu secretarlado, dotando-o de maior poder executivo junto da direcção e doe núcleos e alargando o seu prazo de funcionamento (…)  pelo menos até à próxima Assembleia.
  2. Responsabilizar o secretariado (…) por medidas práticas para começar a dar corpo à corrente sindical, por forma a que na próxima Assembleia possa dar contas da sua acção neste campo.
  3. Levar à consideração dos núcleos a verificação dos seus membros, no sentido de definir todas as situações pouco claras, passar â condição de simpatizantes os camaradas que assim o desejarem e submeter a deliberação da próxima Assembleia, de acordo com os Estatutos, a exclusão dos membros que entretanto não satisfaçam as condições estatutárias (desempenho de tarefas, participação nas reuniões, pagamento de quotas).
  4. Libertar o camarada FMR das funções de secretário que sempre tem na pratica desempenhado, permitindo-lhe consagrar-se (…) às suas outras tarefas de direcção.
  5. Suspender temporariamente a edição da “Tribuna Comunista”, tendo em vista o seu reinício logo que esteja regularizada a situação organizativa e a militância.
  6. Assegurar que o Comité de Redacção venha a desempenhar no mais curto prazo as funções que não tem assumido de órgão orientador da revista, responsável pela programação geral do trabalho do redacção e de estudo.
  7. Transferir (…) o Encontro de debate sobre a PO e as eleições legislativas, responsabilizando o Secretariado pela sua convocação e preparação.
  8. Reconhecer a dissolução do núcleo de Lisboa-Norte (…) e a fusão los núcleos de Amadora e Queluz.
  9. Apelar à maior participação de representantes dos núcleos nas reuniões de direcção, avisando sempre sobre a data e ordem de trabalhos dessas reuniões.
  10. Orientar a actividade para a realização com êxito de uma Assembleia no prazo de dois a três meses, de rectificação do estilo de trabalho.

Saudações comunistas,
Pela Direcção
ass.) Francisco Martins Rodrigues


Inclusão 16/10/2018