A AD Trata-te da Saúde

Francisco Martins Rodrigues

3 de Dezembro de 1982


Primeira Edição: Em Marcha, 3 de Dezembro de 1982

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Impressionou-me muito a revelação feita na televisão pelo ministro Luis Barbosa, de que os rurais estão a receber 36 milhões de contos anuais em pensões de reforma, apesar de só contribuírem com um milhão. Como foi possivel que esses campónios manhosos chegassem a embolsar 35 milhões de contos à custa da Nação? É talvez a burla social mais escandalosa deste século. E depois, ainda se trabalhassem, era como o outro. Mas todos sabem que a vida deles é uma boa.

Tem pois toda a razão o ministro quando avisa que vai passar a haver mais rigor na concessão de reformas. Como se há-de endireitar este país enquanto for possível a uma mulherzinha com bicos de papagaio e 40 anos de serviço abotoar-se com uma reforma de 4 contos? Isto é quase pior do que os antigos monopólios!

A nossa Previdência, todos o reconhecem, é da melhor do mundo. O mais original, patente portuguesa, é o sistema “carroussel” de consulta: no mesmo gabinete, um doente conta os padecimentos, outro despe-se e um terceiro é apalpado na marquesa. Sempre a girar. Tempo médio de consulta: 2 minutos e 40 segundos. Record europeu. E tudo feito por estagiários, que é para os médicos experientes ficarem disponíveis para assistir os operários nas fábricas, fazer partos nas aldeias, etc.

Há quem desconfie da eficácia da consulta por ser tão rápida? Pois vá à farmácia com a papelada e logo vê a cabazada de remédios que lhe vendem. Dai, dizerem alguns que a Previdência portuguesa está a serviço dos laboratórios, para dar saída às drogas. Pura calúnia. Cá não há disso.

É certo que há algumas falhas. Os serviços, é aquela velha eficiência lusitana: ir para a bicha, preencher as papeletas, passar para a outra bicha, levar o carimbo, voltar daí a um mês, entrar na bicha... É chato mas tem que haver controle, não é? Para ter a certeza de que a boa assistência médica não vai beneficiar vádios e exploradores.

Outra falha é os empresários às vezes esquecerem-se de entregar os descontos do seu pessoal à Previdência e meterem-nos nas receitas gerais: 30 milhões de contos em divida. Não é lá muito correcto, de facto, mas quem lhes pode levar a mal? Lá diz o ditado: “Pagar e morrer, quanto mais tarde melhor”.

Corte-se nos gastos da Previdência. O Estado não tem culpa que os operários vivam à base da chapa ganha, chapa gasta, em vez de porem de parte para a velhice. Vão chular outros, não querem lá ver!


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha

Inclusão 02/12/2018