A Batalha das Malvinas

Francisco Martins Rodrigues

2 de Junho de 1982


Primeira Edição: Em Marcha, 2 de Junho de 1982

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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É sina minha embirrar com as prosas do sr. Miguel Urbano Rodrigues no “Diário”. A culpa, desta vez, é das Malvinas.

Enquanto se trata de condenar o imperialismo inglês, tudo vai bem. Sou capaz de fazer uma frente unida com o sr. Urbano para dizer que a guerra das Malvinas é uma guerra suja, que visa manter o domínio imperialista sobre ilhas argentinas, roubadas há 150 anos. Estou com ele para denunciar a hipocrisia reles da srª. Thatcher quando invoca os “valores democráticos do Ocidente” e o apoio insolente que lhe dá Reagan.

O pior é quando se começa a falar da Argentina. Aí é que eu percebo que estamos em campos opostos e que não há unidade possível.

Ora oiçam: As Forças Armadas argentinas, que “há poucos meses se comportavam como instrumento repressivo de uma ditadura odiosa”, agora, “aproximaram-se do povo”, “estão a cumprira missão para que foram criadas” e mais, “não têm qualquer laço com a ditadura”. Tão maravilhosa conversão faz com que o sr. Urbano sinta “explodir no peito o calor da solidariedade por esse combate que é também meu”.

Visivelmete, o vendaval das emoções faz esquecer ao sr. Urbano alguns factos óbvios.

Quem ignora que o general Galtieri lançou uma operação nacionalista para servir de válvula de escape à indignação popular contra a crise galopante e o terror? Como é que um exército de torturadores e massacradores pode, de um momento para o outro, passar a servir o povo? Quem pode acreditar no patriotismo de um regime ligado aos nazis alemães?

E o que esquecem também os amigos argentinos do sr. Urbano. Em declaração reproduzida numa outra página do “Diário”, pedem eles aos generais da Junta que levantem o estado de sítio para se poder estabelecer um “consenso nacional organizado” a favor da guerra. Esta degradação é assinada por um chamado “Partido Comunista Argentino”. Tolerado pela ditadura. Bruxo!

Mas então vamos apoiar a Inglaterra?

Na luta entre a burguesia imperialista inglesa mascarada de democrata e a burguesia fascista argentina mascarada de patriota, os operários só têm um partido a tomar, que eu saiba: pelo povo argentino e pelo povo inglês, contra as mafias governantes que os lançaram na fogueira da guerra para melhor os escravizar.

É natural que o sr. Urbano não perceba isto. No seu universo não há mais do que regimes burgueses. Deve ser por isso que ele só vê, como alternativa à AD, o apoio a Eanes.

Em Portugal, como nas Malvinas, a nossa guerra não é a mesma do sr. Urbano.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha

Inclusão 02/12/2018