Unidade

Francisco Martins Rodrigues

29 de Julho de 1981


Primeira Edição: Em Marcha, 29 de Julho de 1981

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.


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Pergunta-me um leitor anónimo a razão da minha insistência em criticar nesta coluna o PCP, “quando ele é afinal, queiram vocês ou não, o único que tem afinidades com a esquerda revolucionária”.

Pergunta interessante, que faz pensar. Com efeito, se andamos todos a gritar “Balsemão/AD para a rua”, “Viva a Reforma Agrária”, “Defesa da Constituição”, “Nacionalizações sim, monopólios não”, “CGTP, unidade sindical” — porque não caminhar juntos, ao menos por agora? Porquê incidentes como os de 27 de Junho na Rotunda, que só alegram a reacção? Porquê as acusações mútuas que enfraquecem?

Trabalhar pela unidade de acção contra a direita, é mais do que uma obrigação. É questão de simples bom-senso. Foi isso que levou a UDP a propor há um ano listas únicas da Oposição para derrotar a AD, se está lembrado. Mas é muito mais difícil de conseguir do que possa supor. Porque as mesmas palavras de ordem encobrem dois caminhos opostos. Parece-lhe talvez estranho mas é autêntico.

Nós usamos essas palavras de ordem para conseguir que os operários, os trabalhadores lancem no prato da balança todo o peso das suas exigências de mudança, paralisem os governos de direita, anulem o pau de dois bicos de Eanes e Soares, se tornem o chefe político da Oposição e do país.

O PCP usa essas palavras de ordem para cozer os operários em fogo brando, para ver se assim convencem Eanes e Soares a opor-se à direita, para empurrar os liberais para a frente sem os assustar nem os ultrapassar.

Cunhal diz que a classe operária será um dia dona do país se for agora prudente, sofredora, “responsável”. Nós dizemos que a classe operária nunca chegará a dirigente do país se não começar já hoje a falar nos seus interesses, a rebocar os vacilantes, a impor o seu caminho. Está a ver a diferença?

Hostilizar os milhares e milhares de apoiantes do PCP seria estupidez. Eles querem como nós a democracia e o socialismo. Temos mil e um motivos para acções comuns com eles. Mas essas acções serão tanto mais possíveis quanto maior for a nossa iniciativa, imaginação e audácia para tomar a dianteira da luta e levá-la pelo caminho que Cunhal não quer. Pelo nosso.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha e no jornal Política Operária.

Inclusão 06/02/2018