Bolívia

Francisco Martins Rodrigues

25 de Julho de 1980


Primeira Edição: Em Marcha, 25 de Julho de 1980

Fonte: Francisco Martins Rodrigues — Escritos de uma vida

Transcrição: Ana Barradas

HTML: Fernando Araújo.

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Mestre em jesuitismo, o prof. Freitas veio condenar o golpe militar fascista na Bolívia. No íntimo, contudo, é assim mesmo que ele pensa que se devem enfrentar resultados eleitorais desfavoráveis: à bazucada. Quem tiver dúvidas, que repare como a AD baseia a sua política na insinuação do golpe sempre pairando sobre a cabeça dos cidadãos.

Ainda há dias, o generalíssimo de S. Nicolau repetia para os seus aficcionados, num jantar em Salvaterra de Magos, que busca a “pacificação sem cedência”. Fórmula reveladora, que vem direita dos seus discursos coloniais de há dez anos. Nesse tempo, a “pacificação sem cedência” era o massacre dos que não queriam deixar-se “pacificar”. Hoje, noutras condições, o sentido não mudou muito: “Deixem-nos governar a bem, senão vai à força”.

Donde vem afinal aos chefes da direita esta segurança arrogante que lhes permite exigir aquilo a que não têm direito, aparecer como queixosos onde deviam ser réus, usar a chantagem para arrancar concessões e ganhar os espíritos vacilantes?

A resposta aparece logo, se rasparmos o verniz das convenções constitucionais e parlamentares e observarmos a verdadeira relação de forças entre os partidos. A direita está a explorar o capital que foi posto nas suas mãos pelo golpe militar do 25 de Novembro e pela rendição dos chefes do PC e do PS. A direita faz-se forte porque sabe que tem Cunhal e Soares amarrados ao compromisso de colaborarem neste regime imposto por um pronunciamento armado vai para cinco anos.

Desmantela-se a Reforma Agrária a tiro e à cacetada, devolvem-se as empresas e os tachos aos vampiros corridos pelo povo, aprovam-se “indemnizações” de duzentos milhões de contos, perseguem-se sindicalistas, espezinham-se as conquistas democráticas de Abril — e os chefes dos partidos ditos da esquerda não passam das condenações escandalizadas e dos apelos à serenidade.

A política da força, da chantagem e do facto consumado só pode ser detida pela política da força popular, pela resposta audaciosa taco a taco. É essa a bandeira que cabe à esquerda autêntica levantar na próxima campanha eleitoral. Para que não venha a ser possível entre nós o desenlace eleitoral da Bolívia.


Observação: Tiro ao Alvo - Coluna de FMR no jornal Em Marcha

Inclusão 02/12/2018