A Traição Social-Democrata
História do PCP e do Movimento Operário (2)

Francisco Martins Rodrigues

20 de Setembro de 1978


Primeira Edição:  Bandeira Vermelha nº 140 de 20 Set 1978
Fonte: Francisco Martins Rodrigues - Escritos de uma vida
Transcrição: Ana Barradas
HTML: Fernando A. S. Araújo.
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Em Portugal, ao contrário da maioria dos países europeus, o Partido Comunista não surgiu por uma cisão de esquerda no Partido Socialista, mas por uma cisão no movimento anarco-sindicalista. Porquê? Porque a social-democracia portuguesa atingira já tal grau de podridão que dela nada podia sair de revolucionário. Lembremos os factos.

1900: UM PARTIDO REFORMISTA — No princípio deste século, com 30 anos de existência, o PS estava dividido em três alas oportunistas, que faziam propaganda da colaboração com a burguesia. A actividade do PS eram os desfiles no 1º de Maio. A classe operária voltava-se para o sindicalismo de influência anarquista.

1910: MUDAM DE PATRÃO — Dias antes da revolta republicana, o chefe socialista Azedo Gneco pedia ao governo monárquico que lhe pagasse um ordenado pelas suas funções na Comissão de Trabalho Nacional.

Um mês após o 5 de Outubro, quando está em curso uma onda de greves, os chefes do PS declaram a sua solidariedade com o novo governo e pedem aos operários que adiem as suas reivindicações “para não perturbar a ordem pública”.

1912: FURAM A GREVE GERAL — O PS mantém-se à margem da grande greve de Janeiro de 1912, o que reduz mais ainda a sua influência na classe operária.

1914: CISIONISTAS DO MOVIMENTO OPERÁRIO – Aproveitando o facto de a maioria dos sindicalistas estarem na cadeia, os chefes do PS promovem um congresso sindical em Tomar. Contudo, a queda do governo e uma amnistia inesperada permitem aos sindicalistas comparecer no congresso e ganhar todos os lugares dirigentes na União Operária Nacional aí fundada. Aumenta o isolamento do PS.

1916: A FAVOR DA GUERRA IMPERIALISTA — Quando a burguesia republicana lança Portugal na guerra, os deputados do PS votam a favor e proclamam que “estão ao lado da Pátria”. Esta é uma das suas maiores traições à classe operária.

1917: AGENTES COLONIALISTAS DO GOVERNO — Quando a guerra se aproxima do fim, uma delegação do PS vai a Londres, com viagens  pagas pelo governo, para discutir com os socialistas ingleses, franceses e belgas a partilha das colónias em África.

1918: CÚMPLICES DO FASCISMO — Sob a ditadura terrorista de Sidónio Pais, o PS é o único partido que concorre às eleições-burla e aceita a oferta de cargos em comissões administrativas.

1919: LACAIOS DA BURGUESIA NO GOVERNO — Assustada com a maré revolucionária operária e popular, a burguesia facilita por meio de acordos a eleição de 6 deputados do PS e chama um socialista a ministro do Trabalho. Passado o período crítico, a burguesia abandona o PS como um trapo que já não lhe é necessário. Os trabalhadores, pela sua parte, há muito que o tinham abandonado.

Estes factos explicam porque é que o Partido Comunista foi fundado por operários sindicalistas que nada tinham a ver com o PS. Estes factos ajudam a compreender melhor a podridão dos actuais dirigentes do PS, herdeiros da tradição corrupta do velho PS, inimigo da classe operária e do socialismo.

Eles ajudam também a compreender melhor a trajectória revisionista que vem a ser seguida pelos dirigentes cunhalistas do PCP, repetindo o caminho de traição dos antigos social-democratas. Eles mostram a necessidade de o nosso Partido se fortalecer na luta irreconciliável contra as direcções do PC e do PS.


Inclusão 30/09/2016