O Ministério Pfuel(1)

Karl Marx

14 de Outubro de 1848


Primeira Edição: Neue Rheinische Zeitung. Organ der Demokratie (Nova Gazeta Renana. Órgão da Democracia), nº 116
Fonte: PUC SP Revista Margem
Tradução: Artigo recolhido e traduzido por Lívia Contrim (e-mail: lcotrim @ aol . com). Leia o artigo da tradutora: A contra-revolução na Alemanha. Marx e a Nova Gazeta Renana
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Fernando A. S. Araújo.
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Quando o ministério Camphausen caiu, dissemos:

"O ministério Camphausen vestira a contra-revolução com sua roupagem liberal-burguesa. A contra-revolução sente-se suficientemente forte para livrar-se da incômoda máscara. Um insustentável ministério qualquer, de centro-esquerda (Hansemann), pode possivelmente suceder por alguns dias o ministério de 30 de março. Seu verdadeiro sucessor é o ministério do príncipe da Prússia" (N[ova] G[azeta] R[enana], no 23, de 23 de junho). E realmente ao ministério Hansemann sucedeu o ministério Pfuel(2) (de Neufchâtel(3)).

O ministério Pfuel maneja as frases constitucionais como o poder central em Frankfurt maneja a "unidade alemã". Se compararmos o corpus delicti, o verdadeiro corpo desse ministério, com seu eco, suas declarações constitucionais, seus abrandamentos, mediações, conciliações na Assembléia de Berlim, só podemos dizer sobre ele uma palavra, a palavra de Falstaff:

"Quão sujeitos estamos os velhos ao vício da mentira!"(4)

Ao ministério Pfuel só pode suceder um ministério da revolução.


Notas de rodapé:

(1) De acordo com o decreto de Frederico Guilherme IV, de 21 de setembro de 1848, o ministério Pfuel foi constituído com a seguinte composição: Von Pfuel, primeiro-ministro; Eichmann, ministro do Interior; Von Bonin, ministro das Finanças; conde Von Donhoff, ministro do Exterior; Muller, ministro da Justiça. Era um ministério de funcionários e oficiais reacionários, que aparentemente ia ao encontro do desejo da Assembléia Nacional, mas enquanto isso organizava abertamente as forças da contra-revolução. Depois da queda de Viena, o ministério Pfuel foi substituído, em 8 de novembro, pelo ministério do conde Von Brandenburg, que realizou o golpe de Estado contra-revolucionário (estado de sítio em Berlim, dissolução da Guarda Civil e da Assembléia Nacional). (retornar ao texto)

(2) Pfuel, Ernst Heinrich Adolf Von (1779-1866): general prussiano, representante da camarilha militar reacionária, governador de Neuchâtel (1832-1848); em março de 1848 foi comandante em Berlim, dirigiu em abril e maio a repressão à insurreição na Posnânia; primeiro-ministro e ministro da Guerra (setembro a novembro de 1848). (retornar ao texto)

(3) Neuchâtel (ou Neufchâtel) — designação francesa para o cantão suíço Neuenburg, formado do antigo principado Neuenburg e Valendis. Por decisão do Congresso de Viena, Neuchâtel, como estado indivisível e totalmente separado da monarquia prussiana, foi adjudicado ao rei da Prússia e admitido como 21o cantão da Confederação Helvética. Em 1831, uma tentativa dos republicanos em Neuchâtel de forçar, por meio de uma insurreição, uma modificação na Constituição e a total separação da Prússia foi reprimida com grande violência pelo plenipotenciário do rei prussiano, general Von Pfuel. Depois disso, Pfuel foi nomeado governador prussiano de Neuchâtel. Imediatamente após a Revolução de Fevereiro de 1848, irrompeu novamente uma insurreição republicana. Foi constituído um governo provisório, Neuchâtel foi declarada república, e pôs-se um fim, na prática, ao domínio da Prússia. Em 1857 o rei prussiano teve de renunciar oficialmente a suas pretensões a Neuchâtel. (retornar ao texto)

(4) Shakespeare, Rei Henrique IV, Segunda Parte, Ato 3, cena 2. (retornar ao texto)

Inclusão 09/11/2014