À Memória de Norman Bethune

Mao Tsetung

21 de Dezembro de 1939


Tradução: A presente tradução está conforme à nova edição das Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Tomo II (Edições do Povo, Pequim, Agosto de 1952). Nas notas introduziram-se alterações, para atender as necessidades de edição em línguas estrangeiras.
Fonte: Obras Escolhidas de Mao Tsetung, Pequim, 1975, Tomo II, pág: 549-552.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo

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O camarada Bethune, membro do Partido Comunista do Canadá, tinha pouco mais de cinquenta anos quando foi enviado para a China pelo Partido Comunista do Canadá e pelo Partido Comunista dos Estados Unidos. Bethune não hesitou um só momento em transpor milhares de quilómetros para ajudar-nos na Guerra de Resistência contra o Japão. Chegou a Ien-an pela Primavera do ano passado, indo depois trabalhar no Vutaixan onde, para grande pesar nosso, veio a encontrar a morte, no seu posto. Aí está um estrangeiro que, sem qualquer interesse pessoal, fez sua a causa da libertação do povo chinês. De que espírito estava ele animado? Do espírito do internacionalismo, do comunismo, o espírito que todo e qualquer comunista chinês deve assimilar. O Leninismo ensina-nos que a revolução mundial só pode triunfar se o proletariado dos países capitalistas apoiar a luta de libertação dos povos das colónias e semi-colónias e o proletariado das colónias e semi-colónias apoiar a luta de libertação do proletariado dos países capitalistas(1). O camarada Bethune pôs em prática essa linha leninista. Nós, membros do Partido Comunista da China, devemos proceder do mesmo modo. Devemos unir-nos ao proletariado de todos os países capitalistas, ao proletariado do Japão, da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Alemanha, da Itália e dos demais países capitalistas; só assim será possível abater o imperialismo, libertar-se a nossa nação e nosso povo e libertarem-se as demais nações e povos do mundo. Tal é o nosso internacionalismo, o internacionalismo que opomos ao nacionalismo e patriotismo estreitos.

O espírito do camarada Bethune, esquecimento total de si próprio e devoção pelos outros, manifestava-se num profundo sentido das responsabilidades em relação ao trabalho e num ilimitado afeto pelos camaradas e pelo povo. Todos os comunistas devem tomá-lo como exemplo. Não são poucas as pessoas a quem falta o sentido da responsabilidade em relação ao trabalho; preferindo as cargas leves as pesadas, escolhem as leves e deixam as pesadas para os outros. Seja para o que for, tais pessoas pensam primeiro em si próprias e só depois nos outros. Assim que fazem um pequeno esforço, incham-se de vaidade e gabam-se, com medo de que os outros não reparem nisso. Não têm o menor carinho pelos camaradas e pelo povo, tratando-os até com frieza, com indiferença e insensibilidade. No fundo, não são comunistas ou, pelos menos, não podem considerar-se como verdadeiros comunistas. Entre os que regressavam da frente não havia quem, ao falar-se de Bethune, não manifestasse admiração por ele e não estivesse sensibilizado pelo seu espírito. Entre os militares e civis da região fronteiriça Xansi-Tchahar-Hopei, de todos aqueles que pessoalmente foram tratados pelo Dr. Bethune ou viram com os próprios olhos o trabalho deste, não há quem não se sinta emocionado com isso. Todos os membros do Partido devem assimilar esse espírito autênticamente comunista do camarada Bethune.

O camarada Bethune era médico, fazia da arte de curar a sua profissão; aperfeiçoando-se constantemente, distinguiu-se pela aptidão em todo o serviço médico do VIII Exército. Isso constitui uma excelente lição para todos aqueles que pensam em mudar de ofício assim que entreveem uma possibilidade de exercer outro, ou desdenham o trabalho técnico considerando-o insignificante, sem futuro.

Estive com o camarada Bethune uma só vez. Depois, ele escreveu-me diversas cartas. Mas, assoberbado pelo trabalho, só lhe respondi uma vez e nem sei mesmo se recebeu a minha carta. A sua morte causou-me profundo pesar. Agora, ao celebrarmos a sua memória, podem ver-se quão profundos são os sentimentos que o seu espírito nos inspira. Todos devemos aprender dele o espírito perfeito de abnegação. Assim cada um poderá vir a ser de grande utilidade para o povo. Seja qual for a capacidade dum indivíduo, basta-lhe que possua esse espírito para ser um homem de nobres sentimentos, um homem íntegro, de alta moral, destituído de interesses vulgares, um homem útil ao povo.


Notas de rodapé:

(1) Ver J. V. EstálineFundamentos do Leninismo”, VI parte: “A Questão Nacional”. (retornar ao texto)

Inclusão 03/05/2013