Apresentando "O Comunista"(1)

Mao Tsé-tung

4 de Outubro de 1939


Fonte: Problemas - Revista Mensal de Cultura Política, nº 37, nov-dez de 1951.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo
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foto de Mao Tse Tung

O COMITÊ CENTRAL almejava de há muito uma publicação para os membros do Partido e, agora, esse desejo é realizado. Essa publicação é necessária para a construção de um Partido Comunista Bolchevique da China, de âmbito nacional e de amplo caráter de massas, inteiramente consolidado do ponto de vista ideológico, político e de organização.

Essa necessidade é mais clara do que nunca no momento atual que se caracteriza, de um lado, pelos crescentes perigos de capitulação, cisões e retrocessos nas fileiras na Frente Única Anti-japonesa e, de outro lado, pela emergência de nosso Partido de um circulo estreito para se tornar um grande partido de caráter nacional. Além disso, o Partido tem por tarefa mobilizar o povo para vencer esses perigos, bem como para enfrentar incidentes imprevistos de forma que o Partido e a revolução possam ser preservados de perdas inesperadas quando ocorrerem tais incidentes. Num momento assim é realmente importantíssima a aparição de uma publicação do Partido.

Qual é a tarefa da publicação intitulada «O Comunista»? De que tratara ela e em que aspecto se distingue dos outros órgãos do Partido?

Sua tarefa é ajudar a construir um Partido Comunista da China, de âmbito nacional e de amplo caráter de massas, inteiramente consolidado ideológica, política e organizativamente.

A construção de um partido assim é urgentemente necessária para obter-se a vitória na Revolução chinesa.

É esta a tarefa em que estamos verdadeiramente empenhados. Em conjunto existem tanto as condições subjetivas como as objetivas para o êxito dessa tarefa e ela está agora sendo desenvolvida. Como se trata de um empreendimento além da capacidade dos órgãos comuns do Partido, é necessário um órgão especializado. Eis aí a razão para a publicação de «O Comunista».
Até certo ponto nosso Partido já é de âmbito nacional e tem um amplo caráter de massas e, no que diz respeito ao cerne de sua liderança, certa parte de seus membros, a linha geral de sua política, e seu trabalho revolucionário, já é um Partido bolchevique consolidado ideológica, política e organizativamente.

Que nova tarefa existe então e qual é a razão para suscitar agora esse problema?

A razão reside em que, no momento, temos um grande número de novos membros e muitos novos organismos que não podem ainda ser considerados como de amplo caráter de massas, ou consolidados ideológica, política e organizativamente ou bolchevizados. Além disso, surge também a questão de elevar o nível dos velhos membros e dos velhos organismos e de consolidá-los ainda mais do ponto de vista ideológico, político e de organização, de bolchevizá-los ainda mais. As circunstancias em que o Partido se encontra e as tarefas com que arca são bem diferentes daquelas do período da guerra civil de 1927-37; a situação é agora muito mais complexa e as tarefas muito mais difíceis.

A época atual é a época da frente única nacional, e formamos uma frente única com a burguesia; agora é o momento da Guerra Antijaponesa, e as forças armadas de nosso Partido estão cooperando na frente com exércitos amigos na realização de uma guerra sem quartel ao inimigo; agora é o momento de nosso Partido se transformar num Partido de âmbito nacional, uma vez que ultrapassou suas velhas proporções. Quando encaramos essas condições relacionadas umas às outras, compreendemos quão honrosa e atual é a tarefa de construir um Partido Comunista Bolchevique da China, de âmbito nacional e de amplo caráter de massas, inteiramente consolidado ideológica, política e organizativamente como propusemos.

Como procedermos para construir tal Partido agora? Tendo resolvido construir agora um Partido assim, como procederemos para alcançar esse objetivo? A resposta a essa pergunta é inseparável da história de nosso Partido — uma história de 18 anos de combates.

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A CONTAR do Primeiro Congresso Nacional de julho de 1921, nosso Partido tem agora, exatamente, 18 anos de idade. Nesses 18 anos o Partido passou por grandes lutas. Os militantes, os quadros e os organismos do Partido se temperaram nessas grandes lutas. Experimentaram grandes vitórias revolucionárias bem como sérias derrotas revolucionárias. Passaram pela formação da frente única nacional com a burguesia bem como por seu desmantelamento e por sérias lutas armadas contra a burguesia e seus aliados. Durante os últimos três anos estiveram de novo num período de frente única com a burguesia. O curso do desenvolvimento da Revolução Chinesa e do Partido Comunista da China encontrou seu caminho através de complexas relações com a burguesia. Esta é uma característica histórica, uma característica do curso da revolução numa colônia ou semi-colônia, característica que não se apresenta na história revolucionária de nenhum país capitalista.

Além disso, a China é um país semi-colonial e semi-feudal, um país de desenvolvimento politico, econômico e cultural desigual, um país de economia predominantemente semi-feudal e com um vasto território. Essas condições determinam o caráter democrático-burguês da Revolução Chinesa em sua etapa atual; determinam que os principais alvos da Revolução sejam o imperialismo e as forças feudais; determinam como principais forças motrizes da revolução o proletariado, o campesinato, a pequena-burguesia urbana e, em certos períodos e até certo ponto, a burguesia nacional; determinam também que a principal forma de luta na Revolução chinesa seja a luta armada. Pode-se perfeitamente dizer que os 18 anos de história do Partido sejam uma história de luta armada. O camarada Stálin disse:

«A característica da Revolução chinesa é que um povo armado enfrenta a contra-revolução armada».

Esta observação é perfeitamente correta, e essa característica da China semi-colonial é de tal natureza que não se apresenta a nenhum dos Partidos Comunistas dos países capitalistas ou difere de quaisquer das características com que eles se defrontam.

Assim, 1) o estabelecimento de uma frente única nacional revolucionária com a burguesia ou sua ruptura forçada, e 2) a principal forma da revolução que é a luta armada, tornaram-se as duas características especiais com que se deparara o proletariado chinês e o Partido Comunista da China durante a revolução democrático-burguesa na China. Não tratamos aqui das relações do Partido com o campesinato e com a pequena-burguesia urbana como uma característica básica porque, em primeiro lugar, tais relações são em principio as mesmas para todos os Partidos Comunistas em todos os países do mundo; e, em segundo lugar, na China, falar em luta armada é, substancialmente, falar em guerra camponesa a as estreitas relações do Partido com a guerra camponesa são virtualmente suas relações estreitas com o campesinato.

Devido a essas duas características básicas, e precisamente por causa delas, o processo da construção de nosso Partido e de sua bolchevização se realizou sob circunstâncias especiais. Sua falência ou seu triunfo, seu avanço ou retrocesso, sua contração ou expansão, o seu desenvolvimento e consolidação não podem deixar de ser ligadas às relações do Partido com a burguesia e a luta armada. Quando a linha política do Partido trata corretamente do estabelecimento ou ruptura forçada da frente única com a burguesia, o desenvolvimento, consolidação e bolchevização do Partido avançam um passo para a frente. Ao contrário, se trata incorretamente da relação com a burguesia, o desenvolvimento, consolidação e bolchevização do Partido dão um passo para trás. Igualmente, quando o Partido trata corretamente da questão da luta armada, seu desenvolvimento, consolidação e bolchevização avançam de um passo para a frente; quando ele trata incorretamente dessas questões o desenvolvimento, consolidação e bolchevização do Partido dão um passo para trás. Nos últimos 18 anos, o curso da construção e bolchevização do Partido tem portanto sido estreitamente ligado à política do Partido, ao tratamento correto ou incorreto das questões da frente única e da luta armada. Esta afirmação é claramente confirmada pelos 18 anos da história do Partido. E, inversamente, quanto mais bolchevizado for o Partido, tanto mais corretamente será ele capaz de tratar e trata efetivamente de sua linha política e dos problemas da frente única e da luta armada. Essa afirmação, também, foi claramente confirmada pelos 18 anos da história do Partido.

Portanto, os problemas da frente única, da luta armada e da construção do Partido são as três questões fundamentais da revolução chinesa . Uma compreensão correta destas questões e de sua inter-relação equivale a dar uma direção correta a toda a Revolução chinesa Em virtude de nossas ricas experiências — as profundas e ricas experiências de fracassos e êxitos, de retrocessos e progressos, e de retração e de expansão nos 18 anos da história de nosso Partido — já somos capazes de tirar conclusões corretas. Isto significa que já somos capazes de tratar corretamente as questões da frente única e a da luta armada, bem como a da construção do Partido. Isto significa também que as experiências de 18 anos nos capacitaram para compreender que a frente única, a luta armada, e a construção do Partido são as três — as três principais — armas indispensáveis para que o Partido Comunista da China vença seus inimigos na Revolução chinesa. Isto é uma grande conquista do Partido Comunista Chinês bem como da Revolução chinesa.

Tratemos aqui brevemente de cada uma dessas três armas indispensáveis ou três problemas.

Durante os últimos 18 anos, a frente única do proletariado chinês com a burguesia e com outras classes se desenvolveu em três situações diferentes e em três etapas diferentes, a saber, a etapa da primeira Grande Revolução (1925-27), a Guerra Civil de 10 anos (1927-37) e a atual Guerra anti-japonesa. Nessas três fases estabeleceram-se as seguintes leis:

  1. Como a maior opressão sofrida pela China é a opressão nacional, a burguesia nacional chinesa pode, em certos períodos e até um certo ponto, participar das lutas contra o imperialismo e os senhores da guerra feudais. Portanto, o proletariado deve, nesses períodos, formar uma frente única com a burguesia nacional e mantê-la por todos os meios possíveis.
  2. Mas, devido a sua fraqueza econômica e política, a burguesia nacional chinesa, oscilará e se passará para o inimigo em face de determinadas condições históricas, e, portanto, o conteúdo da frente única revolucionária, na China não pode permanecer constante mas está sujeito a mudanças. Em certo período pode incluir a burguesia e em outro não pode.
  3. Devido a sua vacilação, a burguesia (especialmente a grande burguesia), mesmo quando se tiver incorporado à frente única com o proletariado e estiver engajada em lutas contra o inimigo comum, continuará a encarar o desenvolvimento ideológico, político e organizativo do proletariado e o Partido político do proletariado como prejudicial a ela. Procurará restringir esse desenvolvimento e usará de políticas de solapamento como o engodo, a lisonja, a divisão e ataques, por meio dos quais se prepara para capitular ao inimigo e cindir a frenteúnica.
  4. É o campesinato o firme aliado do proletariado.
  5. A pequena burguesia urbana é também um aliado em que se pode confiar.

Essas leis, não somente foram confirmadas durante os períodos da Primeira Grande Revolução e a Guerra Civil de 10 anos, mas estão também sendo confirmadas nos três anos da Guerra antijaponesa. Portanto, no problema da formação de uma frente única com a burguesia (especialmente com a grande burguesia), o Partido do proletariado precisa realizar uma política firme e decidida em duas frentes.

De um lado, deve combater o «isolacionismo» «esquerdista» que ignora o fato de que a burguesia tem certas possibilidades revolucionárias até certo ponto e em certos períodos, e que não diferencia a burguesia chinesa da burguesia dos países capitalistas, rejeitando assim a política de formar uma frente única com a burguesia e de mantê-la por todos os meios. Por outro lado, deve combater o ponto de vista que encara conto idênticas as qualidades revolucionárias e o programa, a política, a ideologia e a prática revolucionária da burguesia e do proletariado. Deve combater o ponto de vista que ignora as diferenças de princípio entre ambos e que ignora o fato de que a burguesia está fazendo todos os esforços para influenciar não apenas a pequena-burguesia e o campesinato, mas também o proletariado e o Partido Comunista da China, procurando assim com afinco obliterar a independência ideológica, política e organizativa do último e transformar o proletariado e o Partido Comunista num apêndice da burguesia e de seu partido político, e assim, procurando com afinco também expropriar os frutos da revolução em benefício das camarilhas ou facções da burguesia. Deve combater o ponto de vista que ignora o fato de que tão logo a revolução se oriente contra os interesses das camarilhas ou facções burguesas, a burguesia trai a revolução.

Para nós, ignorar esses pontos é oportunismo de direita. A característica do Chen Tu-hsiuismo(2) no passado é o oportunismo de direita que levou o proletariado a se conformar com os interesses privados de uma camarilha ou facção da burguesia. Foi esta a causa subjetiva da falência da Primeira Grande Revolução.

A duplicidade da burguesia chinesa na revolução democrático-burguesa afeta imensamente a linha política e o trabalho de construção do Partido Comunista da China. Sem compreender essa duplicidade, é impossível compreender a linha política e a construção do Partido Comunista da China. Unir-se com a burguesia, bem como lutar contra ela é uma parte importante da linha política do Partido Comunista da China. O desenvolvimento e a têmpera do Partido Comunista da China através da unidade com a burguesia e da luta contra ela é uma parte importante da construção do Partido.

Aqui unidade significa frente única; luta significa, durante o período de unidade, luta ideológica, política e organizativa «pacifica» e «sem sangue», que se transformará em luta armada quando o proletariado for forçado a romper com a burguesia. Se o Partido não sabe como unir-se em certo período com a burguesia, não será capaz; de avançar e a revolução não se desenvolverá. Se o Partido não sabe como desenvolver uma luta decidida, firme, «pacífica» contra a burguesia no tempo de unidade, se desintegrará ideológica, política e organizativamente, e a revolução terminará num fracasso; e se o Partido, quando forçado a romper com a burguesia não realizar uma luta armada firme e decidida contra ela, também se desintegrará e a revolução fracassará. Tudo isto emergiu da história dos últimos 18 anos.

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A LUTA armada do Partido Comunista da China é uma guerra camponesa sob a liderança do proletariado. Esta fase de sua história também pode ser dividida em três etapas:

A primeira etapa foi a participação na Expedição burguesa do Norte (1926). Nessa época nosso Partido não compreendia inteiramente embora já começasse a ver, a importância da luta armada; não compreendia que a luta armada deveria ser a forma principal de luta da Revolução chinesa.

A segunda etapa foi a Guerra Civil de 10 anos. O Partido já criara então suas próprias forças armadas independentes; tinha aprendido a arte de combater independentemente; lançara bases para o poder político popular e era capaz de coordenar direta ou indiretamente a luta armada — a forma principal da luta — com muitas outras formas necessárias da luta. Isto significa que o Partido era capaz de coordenar a luta armada em escala nacional, direta ou indiretamente, com a luta dos operários, a luta dos camponeses (a principal forma entre essas); a luta da juventude, das mulheres, e de todo o povo, com a luta pelo poder político, com lutas nas frentes econômicas, de contra espionagem e ideológica, e com varias outras formas de luta. Esta luta armada, que era realmente a revolução agrária camponesa sob a liderança do proletariado, constituiu a segunda etapa da história da luta armada do Partido.

A terceira etapa é a atual, de guerra antijaponesa. Nesta etapa, somos capazes de utilizar a experiência adquirida na luta armada da primeira e especialmente da segunda fase, bem como a experiência adquirida de coordenar a luta armada com as outras formas necessárias de luta.

O conceito total desse tipo de luta é a guerra de guerrilhas.

Que é a guerra de guerrilha? É a forma inevitável, e portanto a melhor, da luta travada num pais atrasado, vasto, semi-colonial e durante um tempo longo pelas forças armadas do povo para derrotar o inimigo armado e criar suas próprias bases. Nos últimos 18 anos nossa linha política e nossa construção do Partido têm estado estreitamente ligadas com esta forma de luta. É impossível compreender nossa linha política e nossa construção do Partido isoladamente da luta armada e da guerra de guerrilhas.

A Luta armada é uma componente importante de nossa linha política. Durante 18 anos nosso Partido aprendeu mais e mais sobre esta linha de luta armada e persistiu nela. Sabemos que sem luta armada não há lugar na China para o proletariado, ou o povo, ou o Partido Comunista, e a revolução não conseguirá ser vitoriosa. Durante 18 anos o desenvolvimento, consolidação e bolchevização de nosso Partido se desenrolaram em meio a guerras revolucionárias e são inseparáveis da guerra de guerrilhas; sem a luta armada e sem a guerra de guerrilhas não haveria Partido Comunista atualmente. Essa experiência conquistada a preço de sangue nunca deve ser esquecida pelos membros do Partido.

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O CURSO da construção do Partido, o curso do desenvolvimento do Partido, de sua consolidação e bolchevização também se divide em três etapas com suas respectivas características.

Na primeira etapa o Partido estava em sua infância. Nos períodos inicial e médio desta etapa a linha política do Partido era justa, e a dedicação revolucionária e atividade tanto dos militantes como dos quadros do Partido estava num nível bastante elevado, o que resultou nas vitórias da Primeira Grande Revolução. Mas o Partido, continuava então, apesar de tudo, um Partido em sua infância, um Partido inexperiente nos três problemas básicos da frente única, da luta armada e da construção do Partido, um partido que tinha pequeno ou nenhum conhecimento das características e leis da Revolução chinesa ou sobre a história e a sociedade chinesas e um partido carente ainda de uma compreensão integrada, unificada da teoria marxista-leninista, de um lado, e, de outro, da prática da Revolução chinesa. Por isso, no último período e na conjuntura crítica desta etapa, os elementos dominantes na direção do Partido falharam em dirigir o Partido rumo à consolidação das vitórias da revolução, mas ao contrário, caíram vitimas dos engodos da burguesia e levaram a revolução à derrota.

Esta etapa presenciou o desenvolvimento da organização do Partido mas esta, contudo, não foi consolidada. Os membros do Partido, seus quadros e organizações não estavam consolidados ideológica e politicamente. Haviam muitos novos membros mas não lhes foi dada a necessária educação marxista-leninista. Não faltava absolutamente experiência prática, mas não era sistematicamente sintetizada. Grande número de oportunistas insinuou-se no Partido e não foram depurados. Tanto nossos inimigos como nossos aliados conspiravam contra nosso Partido, mas faltava vigilância. Dentro do Partido surgiram numerosos elementos ativos, mas não se encontrou tempo para fazer deles o esteio do Partido. O Partido tinha sob seu controle consideráveis forças armadas revolucionárias mas não era capaz de utilizá-las do modo mais eficiente. Tudo isso era consequência da falta de experiência e da falta de um profundo conhecimento revolucionário, e da falta de habilidade em unir a teoria marxista-leninista com a prática da Revolução chinesa. Foi essa a primeira etapa da construção do Partido.

A segunda etapa foi a Guerra Civil de 10 Anos. Com a experiência da primeira etapa, e com um passo à frente tanto na compreensão das características e leis da Revolução chinesa bem como do conhecimento da história e da sociedade chinesas e uma maior unidade da teoria marxista-leninista com a prática da Revolução chinesa, nosso Partido foi capaz de realizar vitoriosamente a luta soviética de 10 anos. A organização do Partido não só se desenvolveu de novo, mas se reforçou. Apesar da sabotagem diária do inimigo, o Partido expulsou os sabotadores. Não só houve novamente o aparecimento de grande número de quadros no Partido, mas esses quadros foram transformados em seu esteio. O Partido abriu o caminho para o poder político do povo e aprendeu assim a arte de administrar o Estado e de manter a ordem pública. Criou poderosas forças armadas e aprendeu assim a arte da guerra. Tudo isso representaram avanços significativos e conquistas do Partido.

Mas, durante essa grande luta, alguns membros escorregavam ou tinham escorregado para o lamaçal do oportunismo. Isto se deveu à sua falta de humildade em apreciar as experiências do passado, à sua ignorância das características e leis da Revolução chinesa, a seu conhecimento inadequado da história e da sociedade chinesas, e à ausência da habilidade em unir a teoria marxista-leninista com a prática da Revolução chinesa. Por isso uma parte da direção do Partido foi incapaz de empolgar a justa linha política e orgânica em todos os períodos dessa etapa. Num momento o Partido e a revolução eram ameaçados pelo oportunismo «esquerdista» de Li Lí-san(3), e em outro momento pelo oportunismo «esquerdista» na guerra revolucionária e no trabalho nas regiões brancas.

Mas tudo isso foi sucessivamente superado em duas reuniões históricas de nosso Partido, o IV Pleno do Comitê Central e a Conferência de Tsunyi. Depois da Conferência de Tsunyi (realizada em Tsunyi, província de Kewichow, em janeiro de 1935) o Partido foi lançado inteiramente na via da bolchevização, e foram lançadas as bases para a posterior vitória sobre o oportunismo de direita de Chang Kuo-tao e para o estabelecimento da frente única nacional contra o Japão. Foi essa a segunda etapa no desenvolvimento do Partido.

A terceira etapa no curso do desenvolvimento do Partido é a etapa da frente única nacional contra o Japão. Esta etapa já está em seu terceiro ano e a luta durante esses três anos tem tido grande significação. Graças às experiências das outras duas etapas revolucionárias, graças à sua organização e poderio armado, seu grande prestígio político em todo o país, e sua mais profunda e unificada compreensão da teoria marxista-leninista e da prática da revolução chinesa, o Partido não só criou a frente única nacional contra, o Japão, mas levou adiante a grande Guerra anti-japonesa. A organização do Partido emergiu de um círculo estreito e o Partido se tornou o maior partido de âmbito nacional. As forças armadas do Partido estão crescendo novamente e se reforçam mais na luta contra os japoneses. Tornou-se mais ampla a influência do Partido sobre o povo, em todo o país. Tudo isso são grandes conquistas.

Contudo, apesar do Partido se ter desenvolvido, grande número de seus novos membros e muitas novas organizações partidárias ainda não se consolidaram. Existe ainda uma grande diferença entre estas e os velhos membros e organizações. Os novos ainda carecem de experiência revolucionária. Sabem ainda muito pouco ou mesmo nada sobre as características e leis da Revolução chinesa e sobre a história e a sociedade chinesas. Estão ainda longe de ter uma compreensão completa e unificada da teoria marxista-leninista e da prática da revolução chinesa.

O Comitê Central lançou firmemente a palavra de ordem de «Que o Partido cresça em toda parte, mas não se permita a entrada de um só elemento indesejável!», mas, no passado, ao crescer a organização do Partido muitos oportunistas e sabotadores inimigos conseguiram se infiltrar, no mesmo. Embora a frente única já tenha sido formada e venha, sendo mantida há três anos, a burguesia, especialmente a grande burguesia, está constantemente procurando destruir nosso Partido. Sérios atritos instigados pelos capitulacionistas e cabeças-duras (partidários de uma causa perdida — «diehard» — nota do Trad.) da grande burguesia se alastram através do país, e em vários lugares existe uma agitação anticomunista. Os capitulacionistas e cabeças-duras da grande burguesia procuram por esse meio preparar a rendição ao imperialismo japonês, romper a frente única, e puxar a China para trás. A burguesia procura abolir, o comunismo ideologicamente, ao passo que política e organizativamente procura liquidar o Partido Comunista, as Regiões fronteiras e as forças armadas do Partido.

Em tais circunstâncias nossa tarefa, sem dúvida, é vencer o perigo de capitulação, de uma ruptura na frente única e de retrocesso, manter por todos os meios possíveis a frente única nacional e a cooperação entre o Kuomintang e o Partido Comunista da China, e lutar pela continuação da resistência contra o Japão, pela continuação (da unidade e do avanço) e progresso da unidade; e, enquanto isso, preparar-se para enfrentar possíveis incidentes de forma a preservar o Partido e a revolução de perdas inesperadas quando tais incidentes ocorrerem.

Para atingir esse objetivo, é imperativo consolidar a organização e as forças armadas do Partido e mobilizar toda a nação para uma luta resoluta contra a capitulação, contra o rompimento e o retrocesso. A realização dessa tarefa depende dos esforços de todo o Partido e da luta indômita e incessante de todos os membros do Partido, dos quadros do Partido e das organizações do Partido em toda parte e de todos os escalões. Confiamos que, com a experiência de 18 anos do partido Comunista da China, e com os esforços coordenados de seus experimentados militantes e quadros veteranos, de um lado, e de seus novos e vigorosos membros, de outro; com os esforços conjugados de seu provado Comitê Central Bolchevique e das organizações locais; com os esforços conjugados de suas poderosas forças armadas e das massas progressistas do povo, estes objetivos serão atingidos.

São estas as características principais bem como os problemas principais de nosso Partido nas três etapas dos últimos 18 anos.

***

A experiência desses 18 anos nos mostra que a frente única e a luta armada são as duas armas básicas para derrotar o inimigo. A frente única é uma frente única que realiza a luta armada, e as organizações do Partido são o valoroso combatente que maneja as duas armas da frente única e da luta armada para desbaratar e esmagar as posições do inimigo. São essas as relações mútuas entra estes três fatores.

Revendo a história do Partido pode-se compreender imediatamente como é possível construir nosso Partido hoje e como podemos construir um Partido Comunista Bolchevique da China de âmbito nacional e de massas, completamente consolidado- ideológica, política e organizativamente. Isto pode ser compreendido imediatamente fazendo uma revista inteligente dos problemas inter-relacionados da construção do Partido, da frente única e da luta armada e também dos problemas inter-relacionados da construção do partido, da unidade e luta contra a burguesia, e a persistência do Oitavo Exército de Rota e do Novo Quarto Exército em prosseguir a guerra de guerrilhas contra o Japão e em estabelecer bases anti-japonesas.

Na base da habilidade em unir a teoria marxista-leninista com a prática da Revolução chinesa, nossa tarefa é recapitular as experiências dos 13 anos passados juntamente com as novas experiências do presente e transmitir essa experiência a todo o Partido, tornar o Partido forte como o aço e evitar repetir os erros cometidos no passado.

Leia outra tradução deste texto


Notas:

(1) N. R.: Este é o artigo de apresentação que Mao Tsé-Tung escreveu em 1939 para o primeiro número do jornal do Partido «O COMUNISTA». Sintetizando principais experiências e lições revolucionárias dos 18 anos anteriores, desde a fundação do Partido até a época em que escrevia (1921-1939), Mao Tsé Tung dizia: «A experiência de 18 anos nos fizeram compreender que a frente única, a luta armada e a construção do Partido são as três armas indispensáveis com as quais o Partido Comunista Chinês derrotará o inimigo». Manejando essas três armas indispensáveis, o Partido Comunista da China conduziu o povo chinês à esplendida vitória revolucionária de hoje, confirmando assim a previsão de Mao Tse-Tung.
Como esse artigo foi escrito três anos depois do inicio da guerra de resistência contra o Japão, não podia deixar de refletir as verdadeiras condições da China e suas necessidades daquele tempo, em relação aos métodos concretos de lidar com certos problemas como o da burguesia chinesa. Mas isso não prejudica de nenhum modo a correção e a inteireza das teses do camarada Mao Tsé-Tung. Além disso, Mao Tsé-Tung, em escritos posteriores, desenvolveu suas teses a respeito desses temas. (retornar ao texto)

(2) Chen Tu-hsiuismo — Linha oportunista de direita e representada por Chen Tu-hsiu, secretário-geral do Partido Comunista da China em 1921-1927. Ele advogava a renúncia à liderança do proletariado e o sacrifício dos interesses das amplas massas de trabalhadores e camponeses para continuar com a burguesia. Depois que a Revolução chinesa fora traída, Chen Tu-hsiu tornou-se um liquidacionista. Finalmente, Chen Tu-hsiu juntou-se aos trotsquistas chineses e revelou-se um completo renegado. (retornar ao texto)

(3) Linha de Li Li-san — Uma forma de «esquerdismo» oportunista representada pelo camarada Li Li-san. Negava a «necessidade de se avaliar corretamente o poderio reativo das forças contendoras e a relação entre as diferentes classes em cada ação revolucionária de massas. Advogava a realização de levantes armados nas principais cidades dominadas pelo terror branco do inimigo. Mais tarde o camarada Li Li-san reconheceu e corrigiu seus erros. (retornar ao texto)

Inclusão 20/02/2010
Última alteração 18/02/2015