A Aliança dos Operários com os Camponeses Trabalhadores e Explorados
Carta à Redacção do Pravda

V. I. Lénine

18 de Novembro (1 de Dezembro) de 1917

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Escrito: a 18 de Novembro (1 de Dezembro) de 1917
Publicado: Publicado a 19 de Novembro (2 de Dezembro) de 1917 no nº 194 do Pravda
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Edições "Avante!", 1977, t2, pp 426-427.
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.35, pp. 102-104.
Transcrição e HTML: Manuel Gouveia
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" - Edições Progresso Lisboa - Moscovo.

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Hoje, sábado, 18 de Novembro, quando intervinha no congresso camponês, fizeram-me publicamente uma pergunta a que respondi imediatamente. É necessário que essa pergunta e a minha resposta se tornem imediatamente conhecidas de todo o público leitor, pois, embora formalmente falando apenas em meu nome próprio, eu, no fundo, falava em nome de todo o partido bolchevique.

As coisas passaram-se assim.

Referindo-me à questão da aliança dos operários bolcheviques com os socialistas-revolucionários de esquerda, nos quais confiam agora muitos camponeses, demonstrei no meu discurso que esta aliança pode ser uma «coligação honesta», uma aliança honesta, pois não existem divergências radicais dos interesses dos operários assalariados com os interesses dos camponeses trabalhadores e explorados. O socialismo pode satisfazer plenamente os interesses de uns e outros. Apenas o socialismo pode satisfazer os seus interesses. Daqui a possibilidade e a necessidade de uma «coligação honesta» entre os proletários e os camponeses trabalhadores e explorados. Pelo contrário, a «coligação» (aliança) entre as classes trabalhadoras exploradas, por um lado, e a burguesia, por outro lado, não pode ser uma «coligação honesta» devido à radical divergência de interesses destas classes.

Imaginai - disse eu - que haja no governo uma maioria de bolcheviques e uma minoria de socialistas-revolucionários de esquerda, admitamos mesmo apenas um único socialista-revolucionário de esquerda, o comissário da agricultura. Podem os bolcheviques realizar uma coligação honesta neste caso?

Podem, pois, sendo intransigentes na luta contra os elementos contra-revolucionários (incluindo os socialistas-revolucionários de direita e os defensistas), os bolcheviques seriam obrigados a abster-se na votação de questões que dizem respeito aos pontos puramente socialistas-revolucionários do programa agrário ratificado pelo II Congresso dos Sovietes de Toda a Rússia. Tal é, por exemplo, o ponto relativo ao usufruto igualitário da terra e às redistribuições de terra entre os pequenos proprietários.

Abstendo-se na votação deste ponto, os bolcheviques não modificam o seu programa no mínimo que seja. Pois, nas condições da vitória do socialismo (controlo operário sobre as fábricas, seguindo-se a isto a sua expropriação, nacionalização dos bancos, criação de um conselho económico superior que regule toda a economia do país), nestas condições os operários são obrigados a concordar com as medidas transitórias propostas pelos pequenos camponeses trabalhadores e explorados se essas medidas não prejudicarem a causa do socialismo. E Kautsky, quando ainda era marxista (em 1899-1909) - disse eu - reconheceu mais de uma vez que as medidas de transição para o socialismo não podem ser idênticas nos países de grande e nos países de pequena propriedade.

Nós, os bolcheviques, seríamos obrigados a abstermo-nos no Conselho de Comissários do Povo ou no CEC ao votar-se um ponto semelhante pois, havendo um acordo dos socialistas-revolucionários de esquerda (e igualmente dos camponeses que estão ao seu lado) sobre o controlo operário, sobre a nacionalização dos bancos, etc., o usufruto igualitário da terra seria apenas uma das medidas de transição para o socialismo completo. Seria absurdo que o proletariado impusesse tais medidas de transição; no interesse da vitória do socialismo, ele é obrigado a fazer concessões aos pequenos camponeses trabalhadores e explorados na escolha dessas medidas transitórias, pois não causariam prejuízo à causa do socialismo.

Um socialista-revolucionário de esquerda (se não me engano foi o camarada Feofiláktov) fez-me então a seguinte pergunta:

«E como procederão os bolcheviques se na Assembleia Constituinte os camponeses quiserem aprovar uma lei sobre o usufruto igualitário da terra, a burguesia se pronunciar contra os camponeses e a decisão depender dos bolcheviques?»

Respondi: a aliança dos operários e dos camponeses trabalhadores e explorados obrigará o partido do proletariado em tal caso, quando a causa do socialismo estiver assegurada pela introdução do controlo operário, pela nacionalização dos bancos, etc., a votar pelos camponeses contra a burguesia. Em minha opinião, os bolcheviques terão então direito na votação de apresentar uma sua declaração especial, a ressalvar o seu desacordo, etc., mas nesse caso abster-se significaria trair os seus aliados na luta pelo socialismo por causa de uma divergência parcial com eles. Em tal situação os bolcheviques nunca trairiam os camponeses. O usufruto igualitário da terra e outras medidas semelhantes nunca prejudicarão o socialismo se o poder estiver nas mãos de um governo operário e camponês, se foi aplicado o controlo operário, aplicada a nacionalização dos bancos, se foi criada uma instituição económica superior operária e camponesa que dirija (regule) toda a economia nacional, etc.

Tal foi a minha resposta.

N. Lénine


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Inclusão 12/12/2018