Capitalismo e Agricultura nos Estados Unidos

V. I. Lênin


9. Continuação. Dados sobre o valor das farms


Ao contrário das estatísticas européias, as estatísticas americanas determinam o valor dos diversos elementos da exploração — terra, construções, instrumentos agrícolas, gado — e do conjunto da exploração, para cada farm e cada grupo de farms. É provável que tais dados sejam menos precisos que os relativos à superfície, mas, no conjunto, não são menos fidedignos, considerando-se ademais (até certo ponto) a situação geral do capitalismo na agricultura.

Para completarmos nossa exposição, tomemos os dados relativos ao valor global das farms com todos os bens agrícolas, assim como os relativos ao valor dos instrumentos e das máquinas. Entre os diversos elementos da exploração, escolhemos os instrumentos e as máquinas porque eles mostram, diretamente, se a agricultura é praticada de uma maneira mais ou menos intensiva, e se aí se emprega um equipamento mais ou menos aperfeiçoado. Eis os dados para o conjunto dos Estados Unidos:

Grupo de farms
(em acres)
Do conjunto de
bens das farms
Acréscimo
ou redução
Dos instrumentos
e das máquinas
Acréscimo
ou redução
1900 1910 1900 1910
Até 20 acres 3,8 3,7 -0,1 3,8 3,7 - 0,1
De 20 a 49 acres 7,9 7,3 -0,6 9,1 8,5 -0,6
De 50 a 99 acres 16,7 14,6 -2,1 19,3 17,7 -1,6
De   100   a   174 acres 28,0 27,1 -0,9 29,3 28,9 -0,4
De 175 a 499 acres 30,5 33,3 +2,8 27,1 30,2 +3,1
De 500 a 999 acres 5,9 7,1 +1,2 5,1 6,3 +1,2
De 1000 acres e mais 7,3 6,9 -0,4 6,2 4,7 -1,5
Total 100,0 100,0 100,0 100,0

As cifras absolutas mostram que, de 1900 a 1910, o valor do conjunto dos bens das farms mais que dobrou, passando de 20.440 milhões de dólares a 40,991 milhões de dólares, o que representa um acréscimo de 100,5%. O aumento dos preços dos produtos agrícolas e a elevação da renda depositaram milhões de dólares nos bolsos dos proprietários de terras às expensas da classe operária. Quem ganhou mais? As pequenas ou as grandes explorações? As cifras citadas fornecem a resposta. Elas apontam o declínio dos latifúndios (recordemos que sua superfície total passou de 23,6% a 19,0%, o que corresponde a uma redução de 4,6%), acompanhado da eliminação das pequenas e médias explorações pelas grandes, pelas explorações capitalistas (de 175 a 999 acres). Se se reúnem todas as explorações pequenas e médias, é possível notar que sua participação no total dos bens decresceu, passando de 56,4% a 52,7%. Agrupando todas as grandes explorações, observamos que sua participação aumentou, passando de 43,7% a 47,3%. As modificações ocorridas na relação entre pequenas e grandes explorações, quanto à repartição do valor global dos instrumentos e máquinas, são exatamente da mesma ordem.

No tocante aos latifúndios, os dados confirmam igualmente o fenómeno que já constatamos acima. A sua decadência restringe-se a duas regiões: o Sul e o Oeste. Ela atinge, de um lado, os latifúndios escravistas e, de outro, as terras "ocupadas", ou posses, e os latifúndios primitivamente extensivos. No Norte povoado e industrializado podemos observar um crescimento dos latifúndios: tanto do número de farms deste gênero, quanto de sua superfície total, de sua superfície cultivada, de sua participação no valor global do conjunto dos bens (2,5% em 1900; 2,8% em 1910) e de sua participação no valor global de todos os instrumentos e máquinas.

Notemos a este respeito que o crescimento do papel dos latifúndios não é observável apenas no Norte de um modo geral, mas também, em particular, em suas duas regiões mais intensivas, que desconhecem totalmente a colonização: a Nova Inglaterra e os Estados do Médio Atlântico. È necessário deter-se por mais tempo nestas regiões, pois, de um lado, elas induzem o Sr. Guimmer e muitos outros autores ao erro, pela extensão média particularmente débil — e que tende a diminuir — de suas farms e, por outro lado, estas regiões mais intensivas, são precisamente mais típicas em relação aos velhos países da Europa, desde há muito povoados e civilizados.

Nestas duas regiões registra-se uma redução, entre 1900 e 1910, tanto do número de farms, quanto da superfície total e da superfície cultivada, Na Nova Inglaterra só houve um acréscimo no número das farms mais reduzidas, até 20 acres: + 22,4% (+ 15,5% em suas terras cultivadas); e no número dos latifúndios: + 16,3% (+ 26,8% em suas terras cultivadas). Nos Estados do Médio Atlântico aumentaram: as menores farms (+ 7,7% no número de farms, + 2,5% na quantidade de terra cultivada), seguidas daquelas de 175 a 499 acres no tocante ao número de farms (+ 1,0%), e das de 500 a 999 acres em relação à quantidade de terra cultivada (+ 3,8%). A participação das farms menores e dos latifúndios das duas regiões no valor global do conjunto dos bens das farms aumentou. Vejamos dados mais ilustrativos e mais completos sobre cada uma destas regiões:

Percentual de acréscimo entre 1900 e 1910
Grupos de farms
(em acres)
Na Nova Inglaterra Nos Estados do Médio Atlântico
No valor do
conjunto
dos bens
das farms
No valor
dos
instrumentos
e máquinas
No valor do
conjunto
dos bens
das farms
No valor
dos
instrumentos
e máquinas
Até 20 60,9 48,9 45,8 42,9
De 20 a 49 31,4 30,3 28,3 37,0
De 50 a 99 27,5 31,2 23,8 39,9
De 100 a 174 30,3 38,5 24,9 43,8
De 175 a 499 33,0 44,6 29,4 54,7
De 500 a 999 53,7 53,7 31,5 50,8
De 1000 e mais 102,7 60,5 74,4 65,2
Total 35,6 39,0 28,1 44,1

Pode-se deduzir destes dados que precisamente os latifúndios das duas regiões foram os mais reforçados; eles ganharam mais do ponto de vista econômico e progrediram mais do ponto de vista técnico. Aí, as maiores explorações capitalistas suplantaram as outras, mais reduzidas. Um crescimento mínimo do valor global dos bens, assim como dos instrumentos e das máquinas, pode ser observado no grupo médio e nos pequenos, mas não no grupo menor. Portanto, são as explorações médias e pequenas que apresentam o maior atraso em relação às demais.

Quanto às farms menores (até 20 acres), seu fortalecimento nas duas regiões tem superado a média, só perdendo para os latifúndios. Já conhecemos a causa deste fenômeno: nestas duas regiões intensivas, cerca de 31 a 33% do valor da colheita são representados por culturas altamente capitalistas (legumes, frutas, flores, etc.), que se caracterizam por uma produção extremamente elevada em relação a uma superfície de exploração bastante reduzida. Nestas regiões, os cereais só representam de 8 a 30% do valor da colheita, e o feno e forragens de 31 a 42%. É possível constatar que a economia leiteira que aí se desenvolve caracteriza-se igualmente por uma dimensão das farms inferior à média, e por um valor dos produtos e um gasto de capital e mão-de-obra superiores à média.

Nas regiões mais intensivas a quantidade média de terra cultivada por farm se reduz porque esta média é obtida pela adição dos latifúndios e das pequenas farms, cujo número aumenta mais rapidamente que o das farms médias e mesmo o dos latifúndios. Contudo, o capitalismo se desenvolve sob uma dupla forma: pelo crescimento extensivo das explorações que repousam sobre uma base técnica atrasada e pela criação de novas explorações, pequenas e até bem pequenas em relação à sua extensão, e que se dedicam a culturas mercantis especializadas, caracterizadas por uma superfície bastante reduzida, um volume muito grande de produção e um emprego mais amplo do trabalho assalariado.

Daí resulta um fortalecimento máximo dos latifúndios e das maiores explorações, uma eliminação das explorações médias e pequenas, e o desenvolvimento de explorações bastante reduzidas, altamente capitalistas.

Vejamos agora de que forma pode ser expresso, com o auxílio das estatísticas, o balanço destas manifestações — aparentemente tão contraditórias — do capitalismo na agricultura.


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Inclusão 08/03/2012