Os Armamentos e o Capitalismo

V. I. Lénine

16 (29) de Maio de 1913

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Primeira Edição: Escrito a 16 (29) de Maio de 1913.
Fonte: Obras Escolhidas em três tomos, Edições "Avante!", 1984, t2, pp 100-101
Tradução: Edições "Avante!" com base nas Obras Completas de V. I. Lénine, 5.ª ed. em russo, t.23, pp. 175-176.
Transcrição: Manuel Gouveia
HTML:
Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: © Direitos de tradução em língua portuguesa reservados por Edições "Avante!" — Edições Progresso Lisboa — Moscovo, 1977.

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A Inglaterra é um dos países mais ricos, mais livres e mais avançados do mundo. Já há muito que a febre dos armamentos se apoderou da «sociedade» inglesa e do governo inglês — exactamente como do francês, do alemão, etc.

E eis que a imprensa inglesa — particularmente a imprensa operária — publica agora interessantes dados que mostram o astucioso «mecanismo» capitalista dos armamentos. O armamento naval da Inglaterra é particularmente grande. Os estaleiros navais da Inglaterra (Vickers, Armstrong, Brown, etc.) são mundialmente conhecidos. Centenas e milhares de milhões de rublos são gastos pela Inglaterra e por outros países com os preparativos para a guerra — naturalmente que tudo isso se faz exclusivamente no interesse da paz, no interesse da salvaguarda da cultura, no interesse da pátria, da civilização, etc.

Mas vemos como accionistas e directores das empresas de construção naval, de fabrico de pólvora, de dinamite, de canhões, etc., almirantes e eminentes homens de Estado da Inglaterra de ambos os partidos: o conservador e o liberal. A chuva de ouro cai directamente nos bolsos dos políticos burgueses, que constituem um reduzido bando internacional que instiga os povos à competição no domínio dos armamentos e que tosquia esses povos confiantes, idiotas, obtusos e submissos como quem tosquia carneiros!

Os armamentos são considerados como um assunto nacional, patriótico; supõe-se que o segredo é rigorosamente observado por todos. Mas os estaleiros navais, as fábricas de canhões, de dinamite e de espingardas constituem empresas internacionais, nas quais os capitalistas de diferentes países se unem para enganar e depenar o «público» dos diferentes países, fabricando navios ou canhões indiferentemente para a Inglaterra contra a Itália, para a Itália contra a Inglaterra.

Astucioso mecanismo capitalista! Civilização, ordem, cultura, paz — e roubo de centenas de milhões de rublos pelos homens de negócios e os cavalheiros de indústria do capital das construções navais, da dinamite, etc.!

A Inglaterra é membro da Tripla Entente, inimiga da Tripla Aliança. A Itália é membro da Tripla Aliança. A célebre firma Vickers (Inglaterra) tem uma filial na Itália. Os accionistas e directores desta firma excitam (através dos jornais a soldo e das «personalidades» parlamentares a soldo, conservadores, liberais, tanto faz) a Inglaterra contra a Itália e o contrário. Quanto aos lucros, retiram-nos dos operários da Inglaterra e dos operários da Itália, depenam o povo aqui e acolá.

Ministros e membros da câmara conservadores e liberais, quase todos eles fazem parte dessas firmas. Uma mão lava a outra. O filho do «grande» ministro liberal Gladstone é director da firma Armstrong. O contra-almirante Bacon, conhecido especialista naval e alta personalidade do «departamento» em Inglaterra, passa para o serviço de uma fábrica de peças de artilharia em Coventry com um vencimento de 7000 libras esterlinas (mais de 60 000 rublos), quando o primeiro-ministro inglês ganha 5000 libras (cerca de 45 000 rublos).

O mesmo se passa, evidentemente, em todos os países capitalistas. Os governos são empregados da classe dos capitalistas. Os empregados são bem pagos. Os empregados são os próprios accionistas. E em conjunto tosquiam os carneirinhos ao som dos discursos sobre o «patriotismo»...


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Inclusão 24/01/2016