O que ocorre no campo?

Vladimir Ilitch Lênin

18(31) de dezembro de 1910


Primeira edição: Rabotchaia Gazeta, nº 2, 18(31) de dezembro de 1910 V. I. Lênin, Obras, 4.ª ed. em russo, t. 16, págs. 329/330

Fonte: A aliança operário-camponesa, Editorial Vitória, Rio de Janeiro, Edição anterior a 1966 - págs. 299-300

Tradução: Renato Guimarães, Fausto Cupertino Regina Maria Mello e Helga Hoffman de "La Alianza de la Clase Obrera y el Campesinado", publicado por Ediciones en Lenguas Extranjeiras, Moscou, 1957, que por sua vez foi traduzido da edição soviética em russo, preparada pelo Instituto de Marxismo-Leninismo adjunto ao CC do PCUS, Editorial Política do Estado, 1954. Capa e apresentação gráfica de Mauro Vinhas de Queiroz

HTML: Fernando Araújo.

Direitos de Reprodução: licenciado sob uma Licença Creative Commons.


capa

Estabeleceu-se nos jornais uma polêmica em torno do novo livro do ex-ministro da Agricultura, Ermolov, sobre a «atual epidemia de incêndios na Rússia». A imprensa liberal assinalou que os incêndios no campo, longe de terem diminuído depois da revolução, aumentaram. Os jornais reacionários repetiram os gritos e chiados de Ermolov sobre a «impunidade dos incendiários», o «terror no campo», etc. O número de incêndios no campo aumentou em proporções extraordinárias: na província de Tambov, por exemplo, duplicaram de 1904 a 1907; na de Oriel, aumentaram em duas vezes e meia, e na de Voronej, triplicaram.

«Os camponeses mais ou menos ricos» — diz Novoe Vremia, que não perde ocasião para demonstrar seu servilismo em relação ao governo — «querem organizar propriedades separadas, desejam dedicar-se a novos cultivos; mas, como se estivessem em país inimigo, sofrem o assédio guerrilheiro dos fugitivos do campo embrutecidos. São queimados e perseguidos, perseguidos e queimados, e ‘estão dispostos a abandonar tudo e fugir para qualquer lugar’.»

Que desagradável confissão os partidários do governo tzarista se vêem obrigados a fazer. Para nós, os social-democratas, os novos dados não carecem de interesse como uma confirmação a mais dos embustes do governo e da miserável impotência da política liberal.

A revolução de 1905 mostrou plenamente que o velho regime no campo russo está inapelavelmente condenado pela história. Não há no mundo força capaz de garanti-lo. Como transformá-lo? As massas camponesas responderam a esta pergunta com suas insurreições de 1905 e através de seus deputados na I e na II Dumas. As terras dos latifundiários devem ser confiscadas sem indenização. Enquanto 30 000 latifundiários (com Nicolas Romanov à frente) possuírem 70 milhões de deciatinas de terra e 10 milhões de famílias camponesas possuírem quase a mesma quantidade, não poderá haver outra coisa senão a escravidão, a miséria negra, a ruína e a estagnação em toda a economia nacional. E o Partido Operário Social-Democrata chamou os camponeses para a luta revolucionária. Com suas grandes greves de 1905, os operários de toda a Rússia uniram e dirigiram a luta camponesa. O plano dos liberais de «reconciliar» os camponeses com os latifundiários à base do «resgate com taxação equitativa» era um subterfúgio traiçoeiro, oco e ridículo.

Como o governo Stolipin quer transformar o velho regime agrário? Quer acelerar a ruína completa dos camponeses, conservar as terras dos latifundiários, ajudar um punhado insignificante de camponeses ricos a «organizar propriedades separadas», arrancar a maior quantidade possível de terras comunais. O governo compreendeu que tem contra si toda a massa camponesa e procura encontrar aliados entre os camponeses ricos.

Para levar a cabo a «reforma» governamental são necessários «20 anos de tranquilidade», disse em certa ocasião o próprio Stolipin. Ele chama de «tranquilidade» a submissão dos camponeses, a ausência de luta contra a violência. Mas a «reforma» stolipiniana não pode ser realizada sem a violência dos «zemskie nachalniki» e demais autoridades, sem a violência a cada passo, sem a violência contra dezenas de milhões de seres, sem o esmagamento de qualquer manifestação sua de independência, por mínima que seja. Stolipin não criou nem pode criar a «tranquilidade», não só por 20 anos, como nem sequer por três anos: eis a desagradável verdade que o livro do ex-ministro, sobre os incêndios no campo, recordou aos lacaios tsaristas.

Os camponeses não têm nem podem ter outra saída para a situação de desesperada indigência, miséria e morte pela fome a que estão condenados pelo governo, além da luta de massas, ao lado do proletariado, pela derrocada do poder tzarista. Preparar as forças do proletariado para esta luta, fundar, desenvolver e fortalecer as organizações proletárias: nisto consiste a tarefa imediata do POSDR.


Inclusão: 03/02/2022