A Guerra de Guerrilhas

V. I. Lênin

30 de Setembro de 1906


Primeira edição: Proletari nº 5.
Fonte: Ateneu Proletário Galego.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.

I

Comecemos polo princípio. Quais som as exigências fundamentais que qualquer marxista deve apresentar ao exame da questom das formas de luita? Em primeiro lugar, o marxismo distingue-se de todas as formas primitivas de socialismo polo facto de nom ligar o movimento a qualquer forma determinada e única de luita. Admite as mais diferentes formas de luita, e ademais nom as “inventa”, mas apenas generaliza, organiza, dá consciência àquelas formas de luita das classes revolucionárias que aparecem por si mesmas no curso do movimento. Absolutamente hostil a todas as fórmulas abstractas, a todas as receitas doutrinárias, o marxismo exige umha atitude atenta em relaçom à luita de massas em curso, a qual, co desenvolvimento do movimento, co crescimento da consciência das massas, coa agudizaçom das crises económicas e políticas, gera métodos sempre novos e cada vez mais diversos de defesa e de ataque. Por isso o marxismo nom renuncia absolutamente a nengumhas das formas de luita. O marxismo nom se limita em nengum caso às formas de luita possíveis e existentes apenas num dado momento, reconhecendo a inevitabilidade de novas formas de luita, desconhecidas dos participantes do período dado, coa modificaçom da conjuntura social dada. O marxismo neste aspecto aprende, se assi o podemos dizer, coa prática das massas, longe da pretensom de ensinar às massas formas de luita inventadas por “sistematizadores” de gabinete. Nós sabemos (dizia, por exemplo, Kautsky, ao analisar as formas da revoluçom social) que a crise futura traerá-nos novas formas de luita que nós nom podemos prever agora.

Em segundo lugar, o marxismo exige um exame absolutamente histórico da questom das formas de luita. Colocar esta questom fora da situaçom histórica concreta significa nom compreender o abc do materialismo dialético. Em diferentes momentos da evoluçom económica, dependendo das diferentes condiçons políticas, nacionais-culturais, de vida, etc., diferentes formas de luita passam para primeiro plano, tornam-se as principais formas de luita, e, em ligaçom com isto, modificam-se tamém as formas secundárias, acessórias, de luita. Tentar responder cum si ou nom a questom da utilizaçom de um determinado meio de luita, sem examinar detalhadamente a situaçom concreta do movimento dado no grau dado do seu desenvolvimento, significa abandonar completamente o terreno do marxismo.

Tais som as duas proposiçons teóricas fundamentais polas quais devemos guiar-nos. A história do marxismo na Europa ocidental dá-nos umha infinidade de exemplos que confirmam o que foi dito. A social-democracia europeia considerou em dado momento o parlamentarismo e o movimento sindical como formas principais de luita, reconheceu a insurreiçom no passado e está plenamente disposta a reconhecê-la, coa modificaçom da conjuntura, no futuro (apesar da opiniom dos burgueses liberais, como os democratas-constitucionalistas e os sem-título russos). A social-democracia negava nos anos 70 do século XIX a greve geral como panaceia social, como meio de derrubar de imediato a burguesia por via nom política, mas a social-democracia reconhece plenamente a greve política de massas (sobretodo depois da experiência da Rússia em 1905) como um dos meios de luita, indispensável, em certas condiçons. A social-democracia, que reconhecia a luita de barricadas nas ruas nos anos 40 do século XIX, e rejeitava-a em base a determinados dados no fim do século XIX, declarou a sua plena disposiçom de rever esta última opiniom e de reconhecer a conveniência da luita de barricadas depois da experiência de Moscova, que avançou, segundo as palavras de K. Kautsky, umha nova tática de barricadas.

II

Depois de assentar as proposiçons gerais do marxismo, passemos à revoluçom russa. Lembremos o desenvolvimento histórico das formas de luita por ela avançadas. Primeiro, greves económicas dos operários (1896-1900); depois, manifestaçons políticas dos operários e estudantes (1901- 1902); revoltas camponesas (1902); começo das greves políticas de massas em diferentes combinaçons com manifestaçons (Rostov 1902, greves do Verom de 1903, 9 de Janeiro de 1905); a greve política em toda a Rússia com casos locais de luita de barricadas (Outubro de 1905); luita massiva de barricadas e insurreiçom armada ( 1905, Dezembro); luita parlamentar pacífica (Abril-Junho de 1906); insurreiçons militares parciais (Junho de 1905-Julho de 1906); insurreiçons camponesas parciais (Outono de 1905-Outono de 1906).

Tal é a situaçom no Outono de 1906 do ponto de vista das formas de luita. A forma de luita “de resposta” da autocracia é o pogromo das centúrias negras, a começar em Kichiniov na Primavera de 1903 e a acabar em Sedlets no Outono de 1906. Em todo este período a organizaçom de pogromos cem-negristas e das matanças de judeus, estudantes, revolucionários, operários conscientes, aumenta cada vez mais, aperfeiçoa-se, combinando as violências das tropas cem-negristas coa violência de umha gentalha comprada, indo até a utilizaçom de artilharia em cidades e aldeias, fundindo-se com expediçons punitivas, comboios de repressom, etc.

Tal é o fundo geral do quadro. Sobre este fundo destaca-se (evidentemente como algo particular, secundário, auxiliar) o fenómeno a cujo estudo e apreciaçom é dedicado o presente artigo. Que representa este fenómeno? quais som as suas formas? as suas causas? quando surgiu e qual o seu grau de difusom? o seu significado no curso geral da revoluçom? a sua relaçom coa luita da classe obreira organizada e dirigida pola social-democracia? Tais som as questons às quais devemos agora passar depois de traçar o fundo geral do quadro.

O fenómeno que nos interessa é a luita armada. Ela é sostida por pessoas isoladas e por pequenos grupos de pessoas. Em parte eles pertencem a organizaçons revolucionárias, em parte (em algumas localidades da Rússia a maior parte) nom pertencem a qualquer organizaçom revolucionária. A luita armada persegue dous objetivos diferentes, que é necessário distinguir rigorosamente um do outro; a saber, esta luita propom-se, em primeiro lugar, matar pessoas isoladas, chefes e subordinados do serviço militar-policial; em segundo lugar, a confiscaçom de meios monetários tanto do governo como de pessoas particulares. Os meios confiscados vam em parte para o partido, em parte especialmente para armamento e para a preparaçom da insurreiçom, em parte para a manutençom das pessoas que travam a luita por nós caracterizada. As grandes expropriaçons (a do Cáucaso, de mais de 200.000 rublos; a de Moscou, de 875 000 rublos) foram precisamente para os partidos revolucionários em primeiro lugar; as pequenas expropriaçons vam antes de mais, e por vezes inteiramente, para a manutençom dos “expropriadores”. Esta forma de luita indubitavelmente só tivo um amplo desenvolvimento e difusom em 1906, isto é, depois da insurreiçom de Dezembro. A agudizaçom da crise política até o nível da luita armada, e particularmente a agudizaçom da miséria, da fame e do desemprego nos campos e nas cidades, desempenharam um grande papel entre as causas que provocaram a luita que estamos a descrever. Adoptaram esta forma de luita, como forma preferencial e mesmo exclusiva de luita social, os vagabundos, os lumpemproletários e os grupos anarquistas. Como forma de luita “de resposta” por parte da autocracia devemos considerar o estado de sítio, a mobilizaçom de novas tropas, os pogromos das centúrias negras (Sedlets), os tribunais militares.

III

A apreciaçom habitual da luita que estamos a examinar reduz-se ao seguinte: isto é anarquismo, blanquismo, o velho terrorismo, acçons de indivíduos separados das massas, que desmoralizam a classe obreira, afastam deles vastos círculos da populaçom, desorganizam o movimento e prejudicam a revoluçom. Encontram-se facilmente exemplos que confirmam esta apreciaçom nos acontecimentos relatados cada dia nos jornais.

Mas serám esses exemplos convincentes? Para verificar isto, tomemos o lugar com maior desenvolvimento da forma de luita que estamos a examinar: o Território Letom. Eis como se queixa da atividade da social-democracia letona o jornal Nóvoe Vrémia (de 9 e 12 de Setembro). O Partido Operário Social-Democrata Letom (parte do POSDR) publica regularmente 30.000 exemplares do seu jornal. Na seçom oficial publicam-se listas de confidentes, cuja liquidaçom é dever de cada pessoa honesta. Aqueles que colaboram coa polícia som declarados “inimigos da revoluçom” e devem ser executados, respondendo ademais cos seus bens. Os sociais-democratas instruem a populaçom para só entregar dinheiro ao partido se se lhes entrega um recibo carimbado. No último relatório do partido, entre os 48.000 rublos de ingressos num ano figuram 5.600 rublos da seçom de Libava(1) para armamento, obtidos através de expropriaçom. O Nóvoe Vrémia fica fora de si, é claro, com esta “legislaçom revolucionaria”, com este “governo terrível”.

Ninguém se decidirá a chamar anarquismo, blanquismo, terrorismo a esta atividade dos sociais-democratas letons. Mas porquê? Porque aqui é clara a ligaçom entre a nova forma de luita e a insurreiçom que houve em Dezembro e que amadurece de novo. Aplicada a toda a Rússia, esta ligaçom nom é tam claramente visível, mas existe. Som incontestáveis a difusom da luita de “guerrilhas” precisamente depois de Dezembro e a sua ligaçom coa agudizaçom da crise nom só económica mas tamém política. O velho terrorismo russo foi obra do intelectual conspirador: agora a luita de guerrilhas é travada, regra geral, pola obreira dum grupo de combate ou simplesmente pola obreira desempregada. Blanquismo e anarquismo vam facilmente à cabeça das pessoas inclinadas aos clichés, mas na situaçom de insurreiçom, tam clara no Território Letom, salta aos olhos que estas etiquetas aprendidas de cor nom servem.

Polo exemplo dos letons vê-se claramente que é completamente incorreta, nom científica e nom histórica a análise, tam habitual entre nós, da guerra de guerrilhas sem a ligar à situaçom de insurreiçom. É preciso ter em atençom esta situaçom, meditar nas particularidades do período intermédio entre os grandes actos da insurreiçom, é preciso compreender quais as formas de luita que entom se geram inevitavelmente, e nom escapar-se com um par de palavras aprendidas de cor, iguais nos democratas-constitucionalistas e nos novo-vremistas: anarquismo, roubo, tunantes!

Dim: as acçons de guerrilhas desorganizam o nosso trabalho. Apliquemos este juízo à situaçom depois de Dezembro de 1905, à época dos pogromos das centúrias negras e do estado de sítio. Que é que desorganiza mais o movimento em tal época: a ausência de resistência ou a luita de guerrilhas organizada? Comparai a Rússia central coa sua periferia ocidental, coa Polônia e o Território Letom. É indubitável que a luita de guerrilhas está muito mais amplamente difundida e mais desenvolvida na periferia ocidental. E é igualmente indubitável que o movimento revolucionário em geral e o movimento social-democrata em particular estám mais desorganizados na Rússia central do que na sua periferia ocidental. Naturalmente que nom nos passa pola cabeça concluir daqui que o movimento social-democrata polaco e letom estám menos desorganizados graças à guerra de guerrilhas. Nom. A única cousa que daqui decorre é que a guerra de guerrilhas nom tem culpa da desorganizaçom do movimento operário social-democrata na Rússia de 1906.

Aqui refere-se nom raramente a particularidade das condiçons nacionais. Mas esta referência trai de modo particularmente claro a fraqueza da argumentaçom corrente. Se a questom está nas condiçons nacionais, entom a questom nom está no anarquismo, no blanquismo, no terrorismo (pecados comuns a toda a Rússia e mesmo especialmente russos), mas nalgo diferente. Analisai esta outra cousa concretamente, senhores! Veredes entom que a opressom ou o antagonismo nacionais nada explicam, porque eles existiram sempre nas periferias ocidentais, mas só um período histórico dado gerou a luita de guerrilhas. Há muitos lugares onde há opressom e antagonismo nacionais mas nom há luita de guerrilhas, que se desenvolve por vezes sem qualquer opressom nacional. A análise concreta do problema mostrará que a questom nom está na opressom nacional mas nas condiçons da insurreiçom. A luita de guerrilhas é umha forma inevitável de luita numha altura em que o movimento de massas já chegou de facto ao ponto da insurreiçom, e quando surgem intervalos mais ou menos grandes entre as “grandes batalhas” da guerra civil.

Nom som as acçons de guerrilhas que desorganizam o movimento mas si a fraqueza do partido, que nom sabe tomar em mao estas acçons. É por isso que os anátemas habituais entre nós, russos, contra as acçons de guerrilhas se combinam com acçons de guerrilhas secretas, ocasionais e nom organizadas que realmente desorganizam o partido. Incapazes de compreender quais as condiçons históricas que causam esta luita, somos tamém incapazes de paralisar os seus lados negativos. E no entanto a luita prossegue. Provocam-na poderosas causas económicas e políticas. Nom está nas nossas forças eliminar estas causas e eliminar esta luita. As nossas queixas da luita de guerrilhas som queixas da nossa fraqueza partidária em matéria de insurreiçom.

O que dixemos sobre a desorganizaçom aplica-se tamem à desmoralizaçom. O que desmoraliza nom é a guerra de guerrilhas mas a falta de organizaçom, a falta de ordem e o carácter sem-partido das acçons de guerrilhas. As condenas e maldiçons em relaçom às acçons das guerrilhas nom nos livrarám um pouco sequer desta incontestável desmoralizaçom, porque estas condenas e maldiçons som absolutamente incapazes de deter um fenómeno suscitado por profundas causas económicas e políticas. Objetarám: se somos incapazes de deter um fenómeno anormal e desmoralizador, isso nom é argumento para que o partido passe a meios de luita anormais e desmoralizadores. Mas tal objeçom seria puramente liberal-burguesa e nom marxista, porque um marxista nom pode considerar em geral anormal e desmoralizadora a guerra civil ou a guerra de guerrilhas, como umha das suas formas. Um marxista coloca-se no terreno da luita de classes e nom da paz social. Em certos períodos de crises económicas e políticas agudas, a luita de classes desenvolve-se até o nível de umha guerra civil direta, isto é, de umha luita armada entre duas partes do povo. Nesses períodos um marxista é obrigado a colocar-se no ponto de vista da guerra civil. Qualquer condena moral dela é totalmente inadmissível do ponto de vista do marxismo.

Na época da guerra civil o ideal do partido do proletariado é um partido combatente. Isto é absolutamente indiscutível. Admitimos plenamente que do ponto de vista da guerra civil se poda fundamentar e provar a inadequaçom destas ou daquelas formas de guerra civil neste ou naquele momento. Reconhecemos plenamente a crítica das diferentes formas da guerra civil do ponto de vista da adequaçom militar e estamos absolutamente de acordo que o voto decisivo nesta questom pertence aos militantes activos sociais-democratas de cada localidade. Mas em nome dos princípios do marxismo exigimos absolutamente que nom se eluda a análise das condiçons da guerra civil com frases feitas e trivialidades sobre o anarquismo, o blanquismo, o terrorismo; que os meios insensatos empregados na guerra de guerrilhas por certa organizaçom do Partido Socialista de Polónia em certo momento nom sejam usados como espantalho a propósito da questom da própria participaçom dos sociais-democratas na guerra de guerrilhas em geral.

É preciso ter umha atitude crítica em relaçom aos comentários sobre a desorganizaçom do movimento por causa da guerra de guerrilhas. Todas as novas formas de luita, ligadas a novos perigos e novos sacrifícios, “desorganizam” inevitavelmente as organizaçons nom preparadas para essa nova forma de luita. A passagem à agitaçom desorganizou os nossos velhos círculos de propagandistas. A passagem às manifestaçons desorganizou posteriormente os nossos comitês. Todas as acçons militares em qualquer guerra introduzem umha certa desorganizaçom nas fileiras dos combatentes. Nom se pode concluir daqui que nom se deve combater. É preciso concluir daqui que é preciso aprender a combater. Só isso e mais nada.

Quando vejo sociais-democratas que declaram altivamente e cheios de si: “nós nom somos anarquistas, ladrons, assaltantes, somos superiores a isso, rejeitamos a guerra de guerrilhas”, entom pergunto a mim próprio: entenderá esta gente o que di? Tenhem lugar em todo o país escaramuças e embates armados do governo cem-negrista coa populaçom. Este fenómeno é absolutamente inevitável no actual grau de desenvolvimento da revoluçom. A populaçom, espontánea e desorganizadamente (e precisamente por isso muitas vezes em formas infelizes e negativas), reage a este fenómeno tamém com escaramuças e ataques armados. Compreendo que nós, devido à fraqueza e falta de preparaçom da nossa organizaçom, podamos renunciar num determinado lugar e momento à direçom polo partido desta luita espontánea. Compreendo que esta questom deve ser resolvida polos militantes activos locais, que a remodelaçom das organizaçons fracas e sem preparaçom nom é umha cousa fácil. Mas quando eu vejo num teórico ou num publicista da social-democracia nom um sentimento de tristeza por esta falta de preparaçom mas umha altiva presunçom e umha repetiçom narcisisticamente maravilhada de frases aprendidas de cor na primeira juventude sobre o anarquismo, o blanquismo, o terrorismo, entom magoa-me o rebaixamento da doutrina mais revolucionária do mundo.

Dim: a guerra de guerrilhas aproxima o proletariado consciente de bêbedos e vagabundos degradados. É verdade. Mas daqui decorre apenas que o partido do proletariado nunca pode considerar a guerra de guerrilhas como o único ou mesmo como o principal meio de luita; que este meio deve ser subordinado a outros, deve estar em conformidade cos meios principais de luita, enobrecido pola influência esclarecedora e organizadora do socialismo. E, sem esta última condiçom, todos, decididamente todos os meios de luita na sociedade burguesa aproximam o proletariado de diferentes camadas nom proletárias acima e abaixo del e, sendo deixados ao curso espontáneo das cousas, se deterioram, se pervertem, se prostituem. As greves deixadas ao curso espontáneo das cousas som pervertidas e transformadas em “Alliances”, acordos dos obreiros cos patrons contra os consumidores. O parlamento é pervertido e transformado em bordel onde umha banda de politiqueiros burgueses negocia por grosso e a retalho a “liberdade do povo”, o “liberalismo”, a “democracia”, o republicanismo, o anticlericalismo, o socialismo e todas as outras mercadorias à venda. Um jornal é pervertido e transformado em alcoviteira barata, em instrumento de depravaçom das massas, de lisonja grosseira dos mais baixos instintos da turba, etc. etc. A social-democracia nom conhece meios universais de luita, meios que separem com umha muralha chinesa o proletariado das camadas que estám um pouco por riba ou um pouco abaixo del. A social-democracia aplica, em diferentes épocas, diferentes procedimentos, rodeando sempre a sua aplicaçom de condiçons ideológicas e organizativas rigorosamente determinadas(2).

IV

As formas de luita na revoluçom russa distinguem-se pola sua gigantesca variedade em comparaçom coas revoluçons burguesas da Europa. Kautsky previu parcialmente isto ao dizer em 1902 que a revoluçom futura seria nom tanto umha luita do povo contra o governo como umha luita entre duas partes do povo. Na Rússia vemos, de forma incontestável, um desenvolvimento mais amplo desta segunda luita do que nas revoluçons burguesas do Ocidente. Os inimigos da nossa revoluçom entre o povo som pouco numerosos, mas coa agudizaçom da luita eles organizam-se cada vez mais e recebem o apoio das camadas reacionárias da burguesia. É por isso perfeitamente natural e inevitável que em tal época, na época das greves políticas de todo o povo, a insurreiçom nom poda manifestar-se na velha forma de actos isolados, limitados por um intervalo de tempo mui curto e por umha área mui pequena. É perfeitamente natural e inevitável que a insurreiçom assuma as formas mais elevadas e complexas de umha guerra civil prolongada e que abarque todo o país, isto é, de umha luita armada entre duas partes do povo. Nom se pode conceber essa guerra senom como umha série de algumas grandes batalhas, separadas por intervalos de tempo relativamente grandes, e umha quantidade de pequenas escaramuças no decurso destes intervalos. Umha vez que é assi (e é indubitavelmente assi), a social-democracia tem necessariamente que colocar como a sua tarefa criar organizaçons que sejam capazes na maior medida de dirigir as massas tanto nestas grandes batalhas como, no possível, nestas pequenas escaramuças. A social-democracia, na época da luita de classes que se agudizou até a guerra civil, tem que colocar como a sua tarefa nom só participar mas tamém desempenhar um papel dirigente nesta guerra civil. A social-democracia tem que educar e preparar as suas organizaçons para que elas actuem realmente como parte beligerante que nom perde nem umha só ocasiom de causar dano às forças do inimigo.

É umha tarefa difícil, nom se pode negar. Nom se pode resolvê-la de repente. Tal como todo o povo se reeduca e aprende na luita no decurso da guerra civil, assim tamém as nossas organizaçons tenhem que ser educadas, tenhem que ser reconstruídas, na base dos dados da experiência, para cumprir esta tarefa.

Nom temos a menor pretensom de impor aos militantes activos qualquer forma inventada de luita ou mesmo de resolver nos gabinetes a questom do papel destas ou daquelas formas da guerra de guerrilhas na marcha geral da guerra civil na Rússia. Longe de nós a ideia de ver numha forma concreta destas ou daquelas acçons de guerrilhas umha questom de tendência na social-democracia. Mas vemos a nossa tarefa em contribuir, na medida das nossas forças, para umha apreciaçom teórica correta das novas formas de luita avançadas pola vida; em luitar implacavelmente contra as rotinas e os preconceitos que impedem as operárias conscientes colocar corretamente umha questom nova e difícil e de abordar corretamente a sua soluçom.


Notas de rodapé:

(1) Hoje Liepaia, na Letónia. (retornar ao texto)

(2) Os sociais-democratas bolcheviques som freqüentemente acusados de umha atitude irreflexiva e parcial em relaçom às acçons de guerrilhas. Nom é por isso impróprio lembrar que no projeto de resoluçom sobre as acçons de guerrilhas (n.º 2 do Partínie Izsvéstia 151 e relatório de Lenine sobre o congresso) a parte dos bolcheviques que as defende apresentou as seguintes condiçons para o seu reconhecimento: as expropriaçons de propriedade privadas nom eram admitidas de modo nenhum; as expropriaçons de propriedade do Estado nom eram recomendadas mas apenas admitidas coa condiçom de o partido as controlar e de os meios serem dirigidos para as necessidades da insurreiçom. As acçons de guerrilhas sob a forma de terror eram recomendadas contra funcionários brutais do governo e membros activos das centúrias negras, mas coas seguintes condiçons: 1) ter em conta o estado de espirito das amplas massas; 2) ter em atençom as condiçons do movimento operário da localidade dada; 3) velar por que as forças do proletariado nom sejam dissipadas em vao. A diferença prática entre este projeto e a resoluçom que foi aprovada no Congresso de Unificaçom consiste exclusivamente em que nom som admitidas expropriaçons de propriedade do Estado. (retornar ao texto)

 

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Inclusão 27/12/2014