O preço da força de trabalho

Robert Kurz

11 de maio de 2007


Primeira Edição: Original DER PREIS DER ARBEITSKRAFT in www.exit-online.org Publicado em Freitag, Berlin, 11.05.2007 

Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.


Finalmente mais um êxito sindical relativo: o contrato de trabalho de segundo nível da metalurgia do Baden-Württemberg ultrapassou a mais alta subida de salários neste ramo desde a conjuntura estatalmente induzida da unificação alemã há 15 anos. O poker da tabela salarial foi jogado quase sem luta na "Primavera da boa vontade" (Bildzeitung). Pois a indústria metalúrgica, orientada para a exportação num nível particularmente elevado, não podia deixar perder com uma greve a actual posição florescente face à concorrência na procura global. O populismo político e mediático da retoma empenha-se em gerar um clima propício a negociações salariais sem luta dos trabalhadores. Com isto não se vislumbra nenhuma mudança fundamental no preço da mercadoria força de trabalho. A queda dos salários reais consumada durante um longo espaço de tempo (incluindo reduções nos subsídios de Natal e de férias, bem como prolongamentos de horário sem acerto salarial) está longe de ter ficado recuperada do dia para a noite com este acordo.

É preciso assinalar o alcance deste acordo-piloto, sobretudo para lá da indústria metalúrgica. Aí o argumento que liga a reivindicação salarial à conjuntura primaveril revela-se uma faca de dois gumes. Assim foi já há 15 anos; e toda a gente sabe o que veio depois. O poderoso volante do circuito do deficit do Pacífico impulsionou a conjuntura mundial para além de tudo o que se esperava e atingiu também a Europa desde 2006. Mas a ressaca poderia igualmente chegar, tal como após a conjuntura da unificação alemã, só que numa dimensão maior. Já se procura estancar a extensão das concessões salariais a outros sectores. O comércio de retalho, com os seus 2,7 milhões de empregados, deve acordar num nível substancialmente inferior, invocando a conjuntura interna cada vez mais fraca. E na construção civil o acordo amigável e nada extraordinário já conseguido de 3,1 % foi de novo posto em causa, vetado por uma parte das associações patronais. Corre-se o risco de um maior afastamento entre os níveis salariais da economia de exportação e da economia interna.

Enquanto os populistas da retoma ainda festejam condescententemente o "trago da garrafa" para os metalúrgicos, constrói-se já a lenda da punhalada, para o caso de uma queda da conjuntura de deficit global; então devem ficar em dívida nomeadamente os acordos salariais negociados "em alta". Nos "comentários dos especialistas" é posto de novo a tocar o velho disco da espiral salários-preços. De facto o potencial inflacionário espreita na "inflação patrimonial [Vermögensinflation]" da economia de bolhas financeiras, na medida em que aqui ocorre uma reciclagem na economia real (por exemplo no sector imobiliário, um dos grandes factores de risco). A pressão sobre o nível salarial mantém-se no processo da globalização. O "regresso da normalidade" propagandeado com demasiada solicitude já guarda em si o revés.

Não é por acaso que o acordo da metalurgia relativamente bom vem de par com a tentativa da Telekom de externalizar 50.000 empregados para o sector dos baixos salários. Isto também constitui um projecto-piloto. No sector metalúrgico, perante o actual acordo forçado pela situação das encomendas para exportação, já se pisca o olho a um posterior aligeiramento das tabelas salariais de base, no sentido dos acordos de empresa. O poker da "dependência do êxito" deve declinar sobre os empregados o risco da concorrência e da conjuntura globais. Agora trata-se de usar a pausa da conjuntura mundial para rechaçar a ampla frente da tendência geral para baixos salários. Aqui se inclui não apenas o apoio aos empregados da Telekom e a inclusão de um salário mínimo suficientemente alto, mas também uma orientação da mercadoria força de trabalho principalmente pelas necessidades da vida, em vez de pela situação conjuntural. Quando a "Primavera da boa vontade" acabar, a situação do preço da mercadoria força de trabalho pode piorar de novo dramaticamente.


Inclusão: 28/12/2019