O Mapa Meteorológico da Globalização

Robert Kurz

20 de agosto de 2004


Primeira Edição: Original alemão DIE WETTERKARTE DER GLOBALISIERUNG publicado em 20.08.2004 em http://www.exit-online.org/ - Tradução de Nikola Grabski

Fonte: http://www.obeco-online.org/robertkurz.htm

Transcrição e HTML: Fernando Araújo.


O debate sobre a globalização, ainda quente nos anos 90, tem diminuído. Será que a expressão foi apenas uma bola de sabão do discurso pós-moderno, ou invenção de um golpe neo-liberal na política mundial, como naquela altura alguns críticos da velha esquerda pensaram? Os factos dizem outra coisa. A globalização é um processo real que radica na crise da valorização capitalista mundial e que significa uma nova qualidade da exportação de capitais: Em vez da exportação de produções industriais completas surgiu o "outsourcing" de áreas individuais da economia empresarial no âmbito da concorrência de repressão; já não se trata de investimentos de expansão no estrangeiro, mas a exportação de capitais tornou-se função da racionalização e da redução de sobre-capacidades.

Enquanto muitos teóricos da esquerda negavam o carácter da globalização e se refugiavam na nostalgia keynesiana de fantasias de regulação política, a globalização da economia empresarial acelerou a grande velocidade. Segundo um estudo actual da consultora de empresas Roland Berger e da Universidade de Aachen, cujos resultados foram publicados no periódico "Handelsblatt", seguindo os conglomerados da indústria automóvel que foram precursores, entretanto também os seus fornecedores se têm organizado de forma transnacional. Muitas partes de empresas até de médio porte emigram, rumo à redução de custos global. Ao mesmo tempo cada vez mais áreas são adjudicadas a empresas especializadas externas; hoje não só os serviços de limpeza ou o processamento de salários, mas também partes da produção ou até do desenvolvimento. Sobretudo a globalização está a estender-se a ramos inteiros. O sector exemplar da indústria alemã, o da construção de máquinas, com actualmente ainda aproximadamente um milhão de empregados, encontra-se, segundo o estudo, em pleno processo do outsourcing de grupos de construção inteiros.

Aí distinguem-se também as modificações da exportação de racionalização. Os investimentos directos para os EUA alcançaram pelos vistos um limite de saturação, depois do boom dos anos 90; em vez disso a China tornou-se a plataforma preferida pelas cadeias de valorização transnacionais, para fornecer a partir daí o mercado dos EUA alimentado por défices. As exportações de capitais alemãs e europeias seguem aqui apenas a tendência da própria indústria americana, que entretanto representa o contingente principal do investimento directo estrangeiro na China. Na periferia europeia, no âmbito das adesões à UE, o ponto principal do outsourcing tem se deslocado de países como a Espanha, Portugal e a Irlanda para a Europa do Leste. Isto aplica-se sobretudo aos fornecedores da indústria automóvel e à construção de máquinas.

Poder-se-ia falar, de certa maneira, de um mapa meteorológico da globalização. Conforme as deslocações de redução de custos, assim se deslocam os movimentos de investimento das exportações de racionalização. Nisso o outsourcing concentra-se nas regiões mundiais centrais América do Norte, Ásia Oriental e Europa, incluídos os países de adesão da Europa Oriental. A maior parte do mundo é completamente desligada e abandonada à depauperação crescente. Nas zonas centrais da globalização realiza-se ao mesmo tempo um processo de completa diferenciação: à volta das ilhas de produção migrantes surgem áreas secundárias de qualidade de rendimento e de vida inferiores, de postos de trabalho prolongados em serviços de miséria, até a uma população de pobreza que se alimenta literalmente do lixo dos outros.

As reformas de Hartz da Alemanha, que existem em todos os países numa variante qualquer, vão exactamente nesta direcção. Para as manifestações de segunda-feira tal significa: Primeiro, a orientação para a política oficial é inútil, é preciso um movimento social independente extra-parlamentar. Segundo, também todas as orientações nacionais estão condenadas ao fracasso. Só uma resistência transnacional pode opor-se ao capital transnacional e aos seus executantes da classe política.


Inclusão: 28/12/2019