Resposta à Agência «Tass»

Vasco Gonçalves

Outubro de 1974


Fonte: Vasco Gonçalves - Discursos, Conferências de Imprensa, Entrevistas. Organização e Edição Augusto Paulo da Gama.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo.

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1. — Ultrapassar uma situação de 48 anos de fascismo não é tarefa fácil; juntar a esta situação 13 anos de guerra em África com todas as suas sequelas toma ainda a situação mais difícil mas não desesperada ou catastrófica.

2. — O Povo Português, unido ao MPA, tem demonstrado desde o 25 de Abril capacidade para enfrentar a situação e resolvê-la a seu favor. A prova maior do que afirmo pode ser situada no fim de semana de 28 de Setembro em que o Povo Português e o MFA tiveram que defrontar o primeiro grande ataque da reacção; uma reacção derrotada a 25 de Abril, novamente derrotada agora, mas ainda não totalmente vencida.

3. — É evidente que depois do 28 de Setembro as perspectivas de democratização da sociedade portuguesa são ainda mais reais. Ocupa agora o alto cargo de Presidente da República um homem de sentimentos profundamente democráticos, o militar de mais prestígio nas prestigiadas Forças Armadas Portuguesas, símbolo da unidade das nossas Forças Armadas — Sua Excelência o general Costa Gomes.

A quem ainda tinha dúvidas acerca do apoio popular ao processo de democratização e progresso social iniciado em 25 de Abril consubstanciado no Programa do MFA, as grandes manifestações populares do 5 de Outubro e adesão ao domingo de trabalho de 6 de Outubro devem ser suficientes.

Aos que duvidavam do civismo do Povo Português a resposta também foi dada.

As vantagens da ordem democrática ficaram cabalmente demonstradas. É bom que todos se convençam destas realidades e as respeitem. Entretanto, apesar destas vitórias do Povo Português e do MFA continuamos vigilantes pois entendo que a reacção não desarma facilmente.

4. — Temos grandes dificuldades a vencer, não o escondemos nem nunca o esconderemos pois a nossa política é uma política de verdade. Dificuldades que herdamos do regime fascista que nos legou a maior taxa de inflação da Europa e o último lugar dos gráficos de crescimento e bem-estar. Está em vias de ser definido um programa económico de emergência onde ficarão melhor definidos os contornos da «estratégia anti-monopolista» citada no Programa do MFA.

Sabemos que os próximos anos terão de ser anos de austeridade mas também sabemos que alcançaremos os objectivos que nos propusemos ao derrubar o fascismo em 25 de Abril: descolonizar, democratizar, desenvolver.

5. — O processo de descolonização também prosseguirá — «depressa mas sem pressas».

As nossas intenções já ficaram devidamente demonstradas no respeitante à Guiné e Moçambique. Em Angola já conseguimos formar acordos de cessar fogo com os vários movimentos emancipalistas. O processo de descolonização, segue pois o seu curso.

À descolonização é um dos pontos prioritários do Programa do MFA; na concretização do Programa do MFA empenharam os oficiais das Forças Armadas a sua honra. E nós não somos homens de duas palavras, já o temos dito, mas não é demais repetir: no processo de descolonização que estamos a concretizar não há lugar para soluções neo-colonialistas.

O mundo pode estar tranquilo. O nosso processo revolucionário é já apontado como um exemplo para o mundo; o nosso processo de descolonização também o será.

6. — Quero aproveitar esta ocasião para saudar o Povo Soviético e expressar-lhe a minha admiração e respeito pelo papel que desempenhou na luta contra o nazi-fascismo.

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Abriu o arquivo 05/05/2014