Entrevista ao Jornal Húngaro "Nedszabadsag"

Vasco Gonçalves

18 de Setembro de 1974


Fonte: Vasco Gonçalves - Discursos, Conferências de Imprensa, Entrevistas. Organização e Edição Augusto Paulo da Gama.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo.

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Pergunta:Quais são os problemas mais urgentes e importantes a solucionar pelo Governo?

Resposta: — Saídos de 48 anos de regime fascista muitos são os problemas urgentes e importantes que o Governo tem de defrontar e resolver.

Aqueles que reputo mais importantes são os decorrentes do processo de descolonização dos territórios africanos, os problemas suscitados pelo baixo nível de vida da grande maioria do povo português e toda a grande e complexa problemática decorrente da necessidade de no mais curto prazo de tempo institucionalizarmos a democracia em Portugal.

Paralela a estas questões e intimamente relacionada com elas é preocupação prioritária do Governo a aplicação de uma política económica que nos garanta uma efectiva independência política e um aumento substancial dos nossos recursos.

São estes alguns dos muitos problemas que teremos de resolver; estamos porém confiantes que com o apoio do Povo Português conseguiremos atingir os nossos objectivos.

Pergunta: — Como personalidade dirigente do Movimento das Forças Armadas e ao mesmo tempo Chefe do Governo, qual a sua opinião sobre o futuro de Portugal?

Resposta: —Encaro o futuro de Portugal com optimismo, apesar de todas as dificuldades que vamos ter que vencer.

Mais concretamente vejo Portugal como uma nação democrática, próspera e independente. No campo internacional prevejo que Portugal se integrará no contexto das nações amantes da paz e do progresso.

Caberá no entanto ao Povo Português, por meio de eleições livres, escolher o seu futuro e determinar os caminhos que pretende percorrer.

Pergunta:Como se pode caracterizar a política externa do Governo?

Resposta: — Afirma-se no capítulo B, parágrafo 7 do Programa do Movimento das Forças Armadas, tornado lei fundamental da Nação Portuguesa, por força da Lei n.° 3/74 de 14 de Maio:

«O Governo Provisório orientar-se-á em matéria de política externa pelos princípios da independência e da igualdade entre os Estados, da não ingerência nos assuntos internos dos outros países e da defesa da paz, alargando e diversificando relações internacionais com base na amizade e cooperação:

a) O Governo Provisório respeitará os compromissos decorrentes dos tratados em vigor.»

Pode pois caracterizar-se a política externa do Governo como uma política de abertura à colaboração com todos os povos do mundo.

Depois de todo este tempo de isolamento a que fomos forçados pelo regime fascista, estamos altamente interessados numa política de estreitamento de relações em todos os campos, quer económico, quer cultural, quer político, com todos os países e povos do mundo.

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Abriu o arquivo 05/05/2014