Declarações aos Órgãos de Informação Sobre a Comunicação ao País do Presidente da República Acerca do Direito à Independência dos Povos das Colónias

Vasco Gonçalves

28 de Julho de 1974


Fonte: Vasco Gonçalves - Discursos, Conferências de Imprensa, Entrevistas. Organização e Edição Augusto Paulo da Gama.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo.

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As declarações que o sr. Presidente da República hoje proferiu têm um significado histórico e ficarão gravadas, sem dúvida nenhuma, na História de Portugal. Elas correspondem aos anseios profundos dos povos e, em particular, do povo português.

O sr. Presidente da República tem atrás de si o inteiro apoio das Forças Armadas e do nosso povo. As suas declarações correspondem a um dos objectivos que nos levaram a fazer o 25 de Abril. Todos nós nos congratulamos com as afirmações proferidas hoje pelo sr. Presidente da República e consideramos que se trata de um alto momento da vida nacional.

O sr. Presidente da República garantiu, hoje, solenemente, que Portugal reconhece o direito à independência dos povos da Guiné, Angola e de Moçambique. O processo de descolonização é um processo complexo e um processo em que estamos empenhados, sinceramente e em particular, em conduzir em paz e em progresso. Não se podem fixar, como é óbvio, datas e calendários imediatos, pois as negociações não podem decorrer a céu aberto. Há problemas muito complexos a resolver.

O que é preciso é que o nosso país, o nosso povo, perante o compromisso histórico assumido pelo sr. Presidente da República, tenham inteira confiança na maneira como ele conduzirá o processo de descolonização — que não sejam impacientes, pelo contrário que estejam calmos e que, pacientes, compreendam que um processo de descolonização não é uma tarefa fácil, mas uma tarefa bastante delicada, na qual estão em jogo os interesses das populações de todas as raças, cores e credos que vivem em Angola, Moçambique e na Guiné, e no qual, acima de tudo se devem preservar os interesses dos povos e a paz. Portanto, perante e depois do compromisso de honra assumido pelo sr. Presidente da República, o País deve ser paciente, deve confiar abertamente na sua sinceridade, e deve aguardar calmamente que o processo se desenvolva, de modo a que intervenções inadequadas, extemporâneas ou extremistas, não possam, de maneira nenhuma, entravar esse processo e pôr em causa a sua sinceridade.

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