A Frente Operária Única

Georgi Mikhailovich Dimitrov

1 de Maio de 1923


Primeira edição: «Rabotnitcheski Vestnik» N.° 259 do 1.° de Maio de 1923. Assinado: G. Dimitrov.
Fonte:
Dimitrov e a Luta Sindical. Edições Maria da Fonte, Tradução: Ana Salema e Carlos Neves; Biografia e notas: Manuel Quirós.
Transcrição: João Filipe Freitas
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Fernando A. S. Araújo
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Já anteriormente à guerra europeia, a unidade do proletariado nos principais países do mundo não era completa. Pela sua política reformista, pela táctica de colaboração de classe e ideologia nacionalista, a Segunda Internacional Socialista e a União Internacional dos Sindicatos foram incapazes de criar uma Frente Única Operária contra o capitalismo, tanto nos diferentes países, como no terreno internacional.

Contudo, a abominável traição cometida, no momento da declaração da guerra imperialista e no decurso desta guerra, pelos estados-maiores e pelos primeiros chefes destas duas organizações internacionais do proletariado, assim como pelos partidos e sindicatos aí filiados, que proclamaram e suportaram a paz dita civil, quer dizer, a junção à burguesia dos seus próprios países e a colocação das organizações dirigidas por eles ao serviço da defesa da pátria capitalista, fizeram desabar definitivamente a fraca unidade das massas operárias precedentemente realizada.

Mas, mesmo depois do fim da guerra, depois da gloriosa vitória da revolução proletária na Rússia, em lugar de reconstruir rapidamente a Frente Única das massas operárias experimentadas e levantando-se para garantir a vitória da revolução em toda a Europa, os dirigentes socialistas e os burocratas sindicais desleais puseram-se de novo do lado da burguesia nacional, ajudaram-na a conservar o seu domínio de classe(1) e a empenharem-se no caminho da restauração do capitalismo, profundamente abalado devido à guerra, à custa de uma exploração e de uma escravidão ainda maiores do proletariado exausto, exangue.

Os reformistas e os burocratas de Amesterdão estão há já cinco anos em aliança (sob uma forma ou sob outra) com a burguesia dos seus próprios países; eles já o estavam também na altura em que ela se recompunha, mobilizava as suas forças e punha em movimento uma furiosa campanha de aumento das jornadas de trabalho, de redução do salário real dos operários, de supressão de todas as conquistas operárias de antes da guerra e começou a preparar novas aventuras imperialistas e militares. Estes heróis de frases pomposas, dirigidas contra o capitalismo e contra a guerra, ajudam por todos os meios a ofensiva do capital, abrem a via do fascismo, justificam as acções de conquista do imperialismo nacional, do capital, e entravam a criação da Frente Operária Única contra o capitalismo e o imperialismo, contra o fascismo e a guerra.

Votando longas resoluções e violentos protestos nos seus Congressos Internacionais, realizados em Roma e em Haya, contra as intenções dos imperialistas franceses, desejosos de ocuparem a região industrial mais importante da Alemanha (o Ruhr), e pela salvaguarda da paz, ameaçando mesmo em caso de tal ocupação e de perigo de guerra, de organizar uma greve internacional geral, os dirigentes da Federação Sindical de Amesterdão nem sequer contribuíram para criar a primeira condição indispensável para o sucesso de tal acção, quer dizer, a Frente Operária Única, mas, pelo contrário, provocaram a cisão da Confederação Geral do Trabalho em França, assim como a União Geral dos Sindicatos na Checoslováquia e preparam sistematicamente a cisão da União Sindical Alemã, perseguindo e excluindo das uniões sindicais os elementos e as associações da oposição.

Rejeitaram ao mesmo tempo com obstinação todas as propostas da Internacional Sindical Vermelha e da Internacional Comunista feitas com vista a convocar uma Conferência Geral Internacional, ou um Congresso Operário Internacional, com a participação de representantes de todos os partidos e sindicatos operários, pela organização com sucesso da acção contra a ocupação do Ruhr, contra a ofensiva do capital, contra o fascismo e a nova guerra imperialista que ameaça o mundo.

Em todos os pontos de vista e em todos os países, os reformistas e os dirigentes de Amesterdão trabalham, com um zelo digno de uma causa mais elevada, contra a unidade do proletariado, contra a criação de uma Frente Operária Única, sempre com o fim de prosseguir o seu conluio com a burguesia.

Os «heróis» da Segunda Internacional Socialista e da Federação Internacional de Amesterdão estão prontos a formar uma frente única com Mussolini e os seus bandos fascistas, na Itália, com Poincaré em França, com o governo de Couno-Stinnes na Alemanha, com a reacção burguesa na Checoslováquia, com a burguesia sérvia que exerce a sua hegemonia na Jugoslávia e com a sua polícia, com o bloco dos fabricantes, dos banqueiros e dos especuladores na Bulgária (sobre as mesmas listas eleitorais que os muito ricos «Narodniak» e democratas, como ainda aconteceu ontem), etc., mas não aceitam em nenhum caso a Frente Única com o proletariado comunista e revolucionário contra o capitalismo, contra a guerra e pela paz.

Assim que as tropas do imperialismo francês invadiram o Ruhr e que a Europa se encontrou sob a ameaça de uma nova guerra, assim que se devia, por consequência, proceder à execução das ruidosas resoluções com vista a uma greve geral internacional, os filiados da Federação de Amesterdão, membros dos países da Entente, colocaram-se, de facto, ao lado dos ocupantes e dos opressores franceses, enquanto o secretário da Federação Sindical de Amesterdão, Edo Fimen, declarou à vista do mundo e num tom lacrimejante que a Federação era impotente para pôr em execução as suas resoluções, e acusou disso, com um cinismo sem igual, as próprias massas operárias que, a seu ver, estavam indiferentes, absorvidas pelos seus interesses quotidianos egoístas e nada desejosas de combater por uma causa importante.

Por outro lado, os interesses mais imediatos do proletariado de todos os países — salvaguardar a auto-defesa, rejeitar a furiosa ofensiva do capital, defender o pão quotidiano, alojamento e fixação da sua liberdade — assim como o seu grande interesse de classe — libertar-se definitivamente das cadeias da exploração capitalista — impõe-se imperiosamente a criação, o mais rapidamente possível, de uma Frente Única na luta sindical e política, à escala nacional e internacional.

A história põe ao proletariado de todos os países e do mundo inteiro o seguinte dilema: ou reconstruir, apesar de tudo, a sua Frente Única de luta contra a ofensiva do capital, ou, se não está em estado de o fazer, abandonar-se, absolutamente sem defesa, às mãos do bando feroz e demente dos capitalistas e dos imperialistas, a fim de permanecer ainda durante decénios besta de carga.

Era precisamente a segunda alternativa que inevitavelmente se verificaria se o são instinto de classe faltasse ao proletariado, se este último estivesse privado da capacidade de se livrar dos ensinamentos da amarga e sangrenta experiência adquirida até ao momento, se não houvesse a Internacional Comunista e a Internacional Sindical Vermelha, assim como os Partidos Comunistas e as Uniões Profissionais Revolucionárias, ou seja, as correntes de oposição no seio dos sindicatos reformistas que trabalham intensamente, com devoção e zelo, para criar uma Frente Operária Única.

Com efeito, é necessário verificar que, sob este ponto de vista, cada dia se registam mais sucessos consideráveis.

Poderosas correntes operárias de oposição que se declaram resolutamente pela Frente Única formam-se já no seio dos próprios Partidos social-democratas e dos sindicatos reformistas, Na base, as massas estendem uma mão fraterna, sem distinção da orientação política e da organização a que pertencem, por uma luta comum no meio dos Conselhos de Fábrica na Alemanha e na França, na Itália e na Checoslováquia, assim como numa série de muitos outros países.

Realizou-se uma Conferência Internacional em Francfort (Alemanha), no mês de Março deste ano. Foi convocada para organizar uma acção internacional unida do proletariado contra a ocupação do Ruhr, contra o fascismo e contra o fomento da nova guerra imperialista . Um grande sucesso da ideia da Frente Operária Única foi posta em evidência nesta Conferência, que foi boicotada, de novo, pelos Estados-maiores da Segunda Internacional e da Federação Sindical de Amesterdão, mas na qual, paralelamente com os representantes da Internacional Comunista, da Internacional Sindical Vermelha, assim como dos Partidos Comunistas e dos sindicatos revolucionários dos diferentes países, tomaram também parte os representantes dos Conselhos de Fábrica da Alemanha, da França, da Inglaterra, etc., aí incluídos muitos social-democratas o filiados da Federação de Amesterdão.

A ruptura da coligação do Partido social-democrata com a burguesia no Saxe, assim como a constituição de um governo socialista com o apoio dos comunistas e com um programa operário elaborado pelos Conselhos de fábrica saxões provaram na prática, do mesmo modo, que a frente operária única se toma mais um facto real, factor essencial do desenvolvimento político da Alemanha, que caminha rapidamente para a cisão definitiva da união entre os social-democratas e os partidos burgueses, em direcção à criação de um governo operário, o único capaz de triunfar sobre a terrível crise que o povo alemão sofre precisamente por culpa da burguesia e dos estados-maiores reformistas, depois da ocupação do Ruhr pelas tropas do imperialismo francês.

No momento actual, pode afirmar-se ousadamente que não existe ideia mais popular no seio do proletariado internacional que a da Frente Única Operária, porque as massas operárias compreendem cada vez melhor que a chave da solução de todos os problemas que se relacionam com a alimentação, com a paz, com a liberdade e com o futuro da humanidade trabalhadora se encontra justamente na realização da Frente Única do proletariado em cada país da Europa e do mundo inteiro.

Sem a Frente Única Operária, sem a acção comum de todos os proletários e de todos os trabalhadores das cidades e dos campos contra o capitalismo, não é possível parar o avanço insolente do capital, nem suprimir o fascismo animalesco, nem evitar uma nova guerra imperialista, nem, finalmente, fazer triunfar a revolução proletária libertadora.

Eis porque, em conjunto, a primeira grande palavra de ordem histórica das manifestações do Primeiro de Maio será este ano, em todos os países, a da Frente Única Operária.

Por sua vez, o proletariado búlgaro que, sob a direcção do Partido Comunista e da União Geral dos Sindicatos Operários, aplica ousada e consequente- mente a táctica da Frente Única Operária em todos os domínios da sua luta e que edifica em cada dia a sua unidade indefectível com as outras massas trabalhadoras das cidades e dos campos, rejeitará, uma vez mais e com desprezo, no dia do Primeiro de Maio, todas as tentativas cisionistas da burguesia, ideológica e politicamente falida, dos demagogos e opressores agrários raivosos, dos arrivistas socialistas de direita inteiramente vendidos à burguesia, e do punhado de elementos anarquistas desvairados. Ele manifestará poderosamente a sua firme e inabalável vontade de estar unido, de estar em aliança — uma boa e durável aliança com as massas de pequenos proprietários das cidades e dos campos — na luta contra a burguesia urbana e rural, para a sua salvaguarda e auto-defesa, assim como pela constituição de um governo operário e camponês — único e verdadeiro poder do povo trabalhador na Bulgária.


Notas de rodapé:

(1) É este, universalmente, o papel dos revisionistas e dos reformistas que, como elementos burgueses que são, fazem todos os esforços para defender a sua classe — a burguesia. (N. P.) (retornar ao texto)

Inclusão 10/11/2014