Estou Pronto para Continuar Discutindo

Fidel Castro

22 de Agosto de 2010


Fonte: Cuba Debate - Contra o Terrorismo Midiático.
Transcrição e HTML: Fernando A. S. Araújo.
Direitos de Reprodução: Licença Creative Commons licenciado sob uma Licença Creative Commons.

capa

Há dois dias observava Vanessa Davies no seu programa “Contragolpe” do canal 8 de Venezolana de Televisión. Dialogava e multiplicava suas perguntas a Basem Tajeldine, venezuelano inteligente e honesto que transpirava nobreza no seu rosto. No momento em que liguei o televisor era abordada a minha tese de que apenas Obama podia deter o desastre.

Imediatamente, veio a mente do historiador a idéia do incomensurável poder que lhe era atribuído. E, sem dúvidas, é assim. Mas, estamos pensando em dois poderes diferentes.

O poder político real nos Estados Unidos está nas mãos da poderosa oligarquia dos multimilionários que governam não apenas esse país senão também o mundo: o gigantesco poder do Clube Bilderberg que é descrito por Daniel Estulin, criado pelos Rockefeller, e a Comissão Trilateral.

O aparelho militar dos Estados Unidos com seus organismos de segurança é muito mais poderoso do que Barack Obama, Presidente dos Estados Unidos. Ele não criou esse aparelho, nem o aparelho o criou a ele. Foram as excepcionais circunstâncias da crise econômica e a guerra os principais fatores que levaram a um descendente do setor mais discriminado dos Estados Unidos, dotado de cultura e inteligência ao cargo que agora ocupa.

Em que está baseado o poder de Obama nesta altura?

Por que eu digo que a guerra ou a paz dependerão dele? Tomara que o intercâmbio entre a jornalista e o historiador sirva para ilustrar o assunto.

Vou dizê-lo de outra forma: a famosa pequena mala com os códigos e o botão para lançar uma bomba nuclear surgiu em conseqüência da terrível decisão que isto implicava, o caráter devastador da arma e a necessidade de não perder uma fração de minuto. Kennedy e Jruschov passaram por essa experiência, e Cuba esteve a ponto de ser o primeiro alvo de um ataque maciço com tais armas.

Ainda lembro a angustia refletida nas perguntas que Kennedy lhe indicou fazer-me ao jornalista francês Jean Daniel, quando soube que viria a Cuba e se reuniria comigo.

“Castro sabe quão perto estivemos de uma guerra mundial?”

Pediu-lhe retornar novamente a Washington para conversar com ele. É uma história bem conhecida.

O tema era tão interessante que o convidei para sair da Havana, e estávamos abordando a matéria avançada já a manhã, em uma casa próxima do mar na famosa praia de Varadero.

Ninguém teve que contar-nos nada, porque imediatamente fui avisado sobre o  atentado e sintonizamos uma rádio emissora dos Estados Unidos. Nesse mesmo instante informavam que o Presidente dos Estados Unidos tinha sido mortalmente ferido por vários disparos.

Mãos mercenárias tinham levado a cabo o homicídio.

Para a direita dos Estados Unidos, incluindo os mercenários da CIA que desembarcaram em Girón, ele não era o suficientemente enérgico com Cuba.

Desde então transcorreu quase meio século. O mundo mudou, muito mais de 20 mil armas nucleares foram desenvolvidas, o seu poder destrutivo equivale a quase 450 mil vezes o poder da bomba que destruiu a cidade de Hiroshima. Qualquer um tem direito a se perguntar: para que serve a pasta nuclear? Pode talvez um Presidente dirigir algo tão sofisticado e complexo como uma guerra nuclear?

Essa pasta é algo tão simbólico como o bastão de comando, que se mantém nas mãos do Presidente como pura ficção.

O único fato significativo é que nos Estados Unidos há uma Constituição, a qual estabelece que só existe uma pessoa no país que pode dar a ordem  de iniciar uma guerra, o qual é agora mais importante do que nunca, já que uma guerra nuclear mundial pode ser desatada em um minuto e durar talvez um dia.

Então posso fazer várias perguntas. Pode alguém mais que não seja o Presidente dar a ordem de iniciar uma guerra? O próprio Kennedy precisou de outra faculdade para atacar Girón e mais tarde travar a guerra no Vietnã? Johnson para provocar uma escalada? Nixon para bombardear demolidoramente esse país — Reagan para invadir Granada? Bush pai para atacar no dia 20 de dezembro de 1989 as cidades de Panamá, Colón, demolir o bairro pobre de El Chorrillo e matar lá a milhares de pessoas  pobres? Precisou Clinton dela para atacar a Sérvia e criar Kosovo? Bush filho para a atroz invasão do Iraque? Menciono por sua ordem apenas várias das felonias mais conhecidas do império. Obama até hoje não fez mais que receber a herança.

O velho pensamento não se adapta facilmente às novas realidades.

Portanto, coloquei a idéia, não de que Obama seja poderoso ou superpoderoso; ele prefere jogar basquete ou proferir discursos; aliás, outorgaram-lhe o Prêmio Nobel da Paz. Michael More o exortou a que agora o ganhasse. Talvez nunca ninguém imaginou, e ele menos do que ninguém, a idéia de que nesta etapa final do ano 2010, se acatar as instruções do Conselho de Segurança das Nações Unidas, ao qual talvez o exorte com firmeza um sul-coreano chamado Ban Ki-moon, será responsável do desaparecimento da espécie humana.

Estou pronto para continuar discutindo sobre o tema.


logo
Inclusão 30/08/2016