O “Que” de “Que Fazer?”
primeiro capítulo do livro Que fazer?

Louis Althusser

1978


Primeira Edição: Que Faire? Paris: Presses Universitaires de France (PUF), setembro de 2018, 144 pg.

Fonte: Que Cem Flores Desabrochem! Que Cem Escolas Rivalizem!

Apresentação e tradução: por Cem Flores

HTML: Fernando Araújo.


Apresentação

Como o próprio título indica, nessa ocasião, o autor buscou ratificar a relevância teórica e política da “velha pergunta de Lênin” para a classe operária em sua luta, tanto em sua dimensão mais imediata, tática, quanto em sua dimensão de longo prazo, estratégica. Tal pergunta, que surge no fogo da ação, da participação direta na luta de classes de um período, nos leva diretamente ao que o revolucionário russo chamou de “alma viva” do marxismo: a análise concreta da situação concreta.

E, para Althusser, por onde começar para se fazer tal análise? Aqui ele retoma suas importantes teses sobre a luta de classes enquanto um processo baseado em um antagonismo objetivo. A análise desse motor da história, que é a luta de classes, a ser exercida pelas massas, é a análise desse antagonismo constitutivo do capitalismo; contradição na qual se funda os dois principais polos dessa contradição, a burguesia e a classe operária. Uma análise científica da realidade só pode se fundar sobre esse pilar.

Por sua vez, uma linha política justa de uma organização da classe operária deve se pautar por uma análise profunda e viva desse antagonismo (considerando seus dois polos) que surge já no processo produtivo. E aqui Althusser se detém longamente nos desafios de realizar tal tarefa. Busca estudar tais problemas resolvendo-os a partir de casos concretos de sua época.

Assim, encontramos no texto uma rica discussão sobre métodos de pesquisas para os militantes diante e sobre as massas em uma determinada conjuntura. Discussão que também é uma polêmica política, pois o elo com as massas é um fator político fundamental de qualquer política revolucionária, junto de uma análise concreta da situação concreta. Então, conhecer as massas, saber conectar-se com elas, combater as distâncias entre os militantes e elas, efetivar de forma coerente a luta ideológica etc. dizem do fundamento de uma linha política justa.

O texto ainda toca em questões prementes de nossa conjuntura: fragmentação dos trabalhadores, flexibilização do trabalho, mobilidade urbana e moradia, ampliação da velocidade de mudanças técnicas e sociais… Enfim, deixemos o filósofo comunista falar por si mesmo. E os camaradas leitores pensarem com suas próprias cabeças.

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O “Que” de “Que Fazer?”

Que fazer?

A velha pergunta de Lênin, que inaugurou a construção e as práticas do partido bolchevique, não é, para um comunista que conheça a teoria marxista, uma pergunta como as outras.

É uma pergunta política.

Que fazer para ajudar a orientação e a organização da luta de classe operária e popular, para que ela prevaleça contra a luta de classe burguesa?

Todas as palavras devem ser pesadas nessa interrogação simples.

Que fazer para ajudar a orientação e a organização da luta de classe operária e popular? Vemos que a orientação ou a linha política precede a organização, o que é afirmar o primado da linha política sobre o partido e a construção do partido, [sobre] sua organização em função da linha política.

Que fazer para ajudar a orientação e a organização da luta de classe operária e popular? Vemos que a orientação (a linha) e a organização (o partido) dependem da luta de classe operária e popular.

O partido é assim o instrumento da linha política, e a linha política é, ela mesma, a expressão da luta de classe operária e popular atual, quer dizer de sua tendência antagonista à tendência da luta de classe burguesa.

Tudo depende, portanto, da “análise concreta da situação concreta(1) da tendência atual da luta de classe operária e popular em seu antagonismo com a luta de classe burguesa, portanto da análise concreta desse antagonismo que constitui de uma só vez a classe burguesa em classe dominante e exploradora, e a classe operária em classe dominada e explorada.

Se é verdade que Marx defendeu, ao menos para o modo de produção capitalista, a tese do primado da contradição sobre os contrários, quer dizer, da luta de classes sobre as classes, portanto o primado do antagonismo das classes sobre as classes(2), é, portanto, esse próprio antagonismo que deve ser o objeto da “análise concreta da situação concreta”.

Caso contrário, caímos na “sociologia vulgar”, caso contrário analisaremos a classe burguesa de um lado e a classe operária de outro lado, acreditando que chegaremos a lhes conhecer separadamente. É como se acreditássemos conhecer uma partida de futebol “analisando” a composição das equipes, e não analisando seu confronto, sem o qual não haverá nenhuma equipe de futebol no mundo.

E quando dizemos: primado da contradição sobre os contrários, primado da luta de classes sobre as classes, enunciamos somente um princípio abstrato. Pois é trabalhando, no “concreto”, que é preciso ver quais são as formas que esse antagonismo apresenta historicamente, e quais formas históricas esse antagonismo dá às classes que ele constitui, até o detalhe. Para compreender o sentido e a fecundidade desses princípios, não podemos, portanto, nos dispensar de ir “a campo” e de analisar as coisas até os menores detalhes.

Como podemos conduzir essa “análise concreta da situação concreta”, saber, por exemplo, o que se passa no detalhe das condições de vida, de trabalho, de exploração de um trabalhador da metalurgia, da petroquímica, da agricultura “familiar” ou industrial, de um ferroviário, de um empregado de banco, da seguridade social, etc.?

Há pessoas que creem que basta lançar um apelo aos interessados, lhes perguntando: nos fale da sua vida, do seu trabalho, da sua exploração, etc. Isso é, por exemplo, o que fez L’Humanité Dimanche [Cem Flores: “Humanité de Domingo”, edição semanal do jornal do partido Comunista Francês, PCF] pedindo a todos os seus leitores interessados que eles falassem da “pobreza”(3). E o jornal recebeu um número considerável de cartas, que dormem no gabinete do seu diretor(4). Bem. Os trabalhadores escrevem, eles dizem uma quantidade de coisas interessantes, desconhecidas e chocantes. Isso pode ser um material para uma análise concreta. Isso não é uma análise concreta.

Há pessoas que creem que basta, sem preparação, ir a campo e interrogar os trabalhadores. Ou então eles lhes fazem as perguntas – mas sabemos que as perguntas espontâneas não o são, e que elas estão presas às “ideias” que o entrevistador tem na cabeça – e os trabalhadores dizem o que eles querem dizer. Ou então eles se organizam para fazê-los falar, intervindo o menos possível: mas ainda assim, os trabalhadores dizem o que eles querem dizer, e supondo que eles dizem tudo o que eles sabem, uma coisa é certa: eles sabem sempre muito mais (ou muito menos) do que eles acreditam saber. E esse muito mais, eles não o dizem, pois eles não sabem que eles sabem. E esse muito menos está encoberto por aquilo que eles acreditam saber(5). Essas ”entrevistas” podem ser também um material para uma análise concreta. Isso não é uma análise concreta.

Não podemos deixar de ir a campo, e de nos colocar cuidadosamente à escuta dos trabalhadores – mas também não podemos deixar de nos preparar para esse encontro. Não se trata de uma preparação psicológica para estabelecer um “bom contato” (do gênero desses que fabricam as “relações humanas”): se trata de uma preparação teórica e política. Por isso podemos dizer que uma análise concreta e a teoria marxista, ou a consciência política das condições de um conhecimento, são uma única e mesma coisa. Só difere a escala do objeto.

Lênin disse: não é somente para se conhecer a si mesma, mas para se constituir como classe consciente (quer dizer, dotada de um partido que oriente, unifique e organize sua luta), que a classe operária deve ter na mais grande conta o que se passa fora dela, na classe burguesa. Ela não pode se contentar em saber o que se passa com ela, em se conhecer a si mesma, ela também tem que ver e compreender o que se passa do outro lado. Não se trata de uma simples curiosidade, se trata de perceber de uma só vez os dois termos do antagonismo para poder perceber o antagonismo como o que constitui os dois termos, a luta de classes como o que constitui as classes ao dividi-las em classes. Caso contrário, a classe operária permanecerá fechada nos seus próprios horizontes, aqueles de sua exploração, de suas revoltas sem amanhã, refém de seus sonhos utópicos, e submetida nesse cativeiro a todas as pressões e manobras da luta de classe burguesa.

Para poder chegar a perceber o antagonismo, para poder chegar a compreender o mecanismo dessa luta de classes que divide as classes em classes, a simples “consciência de si” não basta. A televisão italiana recentemente interrogou operários da Alfa Romeo no seu local de trabalho(6). Esses são trabalhadores de vanguarda, com uma consciência extraordinariamente elevada. Vemos tudo o que eles fazem, eles dizem tudo o que eles sabem. São operários de uma oficina separada: eles ocupam um posto simples no imenso processo de trabalho da produção da Alfa Romeo. Isolados como eles estavam, em sua oficina, em seu trabalho, eles ainda conseguiram ter uma ideia da estrutura e dos mecanismos do processo de produção da sua fábrica, não somente do processo de trabalho da sua própria fábrica, mas também da existência da subcontratação que era feita fora, e mesmo da política econômica e financeira da Alfa Romeo, dos seus investimentos, de seus mercados, etc. Eles também adquiriram – o que é extremamente raro – uma certa consciência dos efeitos produzidos sobre eles mesmos por esse sistema, sobre suas próprias condições de trabalho, sobre sua exploração, sobre a relação entre essa exploração e as condições de reprodução de sua própria força de trabalho (sua habitação, sua família, a mulher, as crianças, a escola, a seguridade social, os transportes, seu carro, etc.). Eles também conseguiram, de um certo modo, compreender, o que é ainda mais surpreendente, que seu isolamento e a ignorância na qual o monopólio Alfa Romeo mantém seus operários em relação à sua política, inclusive em relação à sua organização e sua divisão do trabalho, fazem parte integrante das condições de sua exploração, posto que esse isolamento e essa ignorância são uma das formas da luta de classe burguesa, destinada a impedir sua tomada de consciência coletiva justa, e, portanto, a eficácia de sua ação reivindicativa ou política.

Eles foram, portanto, extremamente longe na sua “tomada de consciência”(7) – e eu insisto bastante que se trata, no caso em questão, de uma “consciência” excepcional, ininteligível fora das lutas dos metalúrgicos italianos, que conseguiram, com o passar dos anos, ultrapassar largamente o quadro das reivindicações sindicais tradicionais (defesa do salário, luta contra o ritmo de trabalho, etc.), para intervir na organização do processo de trabalho e seu controle operário, e mesmo na política de investimento do truste que os emprega. Nós não conhecemos na França exemplos desse gênero, nem de longe.

Pois bem, os mesmos trabalhadores que demostraram essa capacidade de análise fora do comum, “tropeçam” numa dificuldade insuperável. Se eles sabem o que se passa na sua fábrica e no seu truste, eles não têm nenhuma ideia comparável do que se passa realmente na Fiat, portanto no mesmo ramo de produção, e absolutamente nenhuma ideia do que se passa nos outros ramos da produção nacional, a metalurgia, o têxtil, a petroquímica, as minas, a agricultura, os transportes, os trustes de distribuição e a finança, etc. Portanto, é absolutamente impossível de se ter uma ideia do que determina o que se passa na Alfa Romeo se não temos uma ideia tão completa quanto possível sobre a posição da Alfa Romeo não somente na produção e no mercado automobilístico, mas também na metalurgia, nos têxteis, na indústria de plásticos, na petroquímica, na borracha – indústrias que interessam diretamente a produção de automóveis, posto que elas lhe fornecem seus produtos finais, como matéria prima para a construção de veículos. E é absolutamente impossível de compreender o que determina a existência e a importância da produção automotiva na produção nacional se não compreendemos o lugar definido que ocupa a produção automotiva no conjunto da produção econômica, quer dizer no conjunto de ramos existentes. Esse próprio lugar não pode ser compreendido a não ser que consideremos em conjunto a concorrência de capitais à busca da taxa de lucro máxima, que explica que o capital se investe no setor automotivo (em vez de em outros), e o lugar desse investimento no conjunto da estratégia econômica da burguesia, que é inseparável da luta de classes burguesa.

Isso pode parecer surpreendente, mas já foram feitos estudos que provaram que a produção em massa de carros, que anteriormente eram um objeto de curiosidade e luxo para os ricos, portanto a produção de automóveis a um preço relativamente baixo para as massas, portanto para os trabalhadores, produção em massa inaugurada conscientemente por Ford nos Estados Unidos, estava ligada a uma remodelação total da antiga estratégia da luta de classes burguesa.

Antigamente o patrão construía as moradias operárias em torno de sua fábrica. Essa era uma prática corrente não apenas para as minas (os “corons”) [Cem Flores: os dicionários consultados definem “coron” como “grupo de casas (para operários das minas)”. Na ausência de uma tradução em uma única palavra, mantivemos o original francês], mas para a metalurgia e os têxteis (as cidades operárias). Essa solução apresentava vantagens: os operários não tinham necessidade de transporte (= tempo perdido), eles chegavam descansados pela manhã ao posto de trabalho. O patrão tinha suas próprias lojas, sua igreja, seu padre, suas escolas nesse lugar. Ele podia explorar duplamente seu mundo, no trabalho e na venda da subsistência e do vestuário. Ele podia, sobretudo, supervisionar de perto seu mundo, que ele tinha à sua disposição, para a exploração no trabalho, para a dependência e para os ganhos no consumo, e para seus padres e seus professores.

Mas essa dupla concentração sobre o mesmo local – concentração no processo de trabalho e concentração na manutenção da força de trabalho e sua reprodução – tinha também graves inconvenientes. O primeiro era que não se podia aumentar a força de trabalho senão sob a condição de investir na construção de moradia, etc. O patrão se chocava com esse primeiro limite. E ele se chocava sobretudo com o segundo: é que essa dupla concentração multiplicava os contatos entre os trabalhadores e lhes dava uma força formidável na luta.

Marx(8) insistiu no papel da concentração dos operários no processo de produção na “tomada de consciência” dos interesses de classe, e na organização das lutas coletivas. Quando a concentração no processo de trabalho se repete numa concentração de habitação, quando o local de trabalho é praticamente o mesmo que o local de habitação, e quando apenas os trabalhadores da fábrica são reagrupados numa mesma zona de habitação, imaginem-se os efeitos explosivos que podem ter essa dupla concentração na “tomada de consciência” e nas lutas. Não é um acaso que, na história das lutas operárias, tenham sido os mineiros que estiveram por muito tempo na vanguarda, seguidos pelos estivadores e os trabalhadores da metalurgia, depois os trabalhadores têxteis.

Diante desse grave perigo, que ameaçava a segurança da sua exploração, a burguesia mudou de estratégia. Ela renunciou à sua velha prática de construir “cidades operárias” ao redor das fábricas, ela renunciou a todas as vantagens que ela obtinha, e adotou uma nova orientação.

Eram necessários mais e mais trabalhadores e, para sua contratação, não se podia depender do “urbanismo” do acolhimento nas cidades operárias, “corons” ou outros. Era preciso poder contratar não importa qual trabalhador morando não importa onde, mesmo distante, mesmo muito longe e à vontade; era preciso também poder “jogar” com as flutuações do mercado, aumentar ou diminuir a mão de obra em um setor, ou fazê-la passar para outro. A “mobilidade” da mão de obra tornou-se uma das condições absolutas do desenvolvimento do capitalismo imperialista, do seu “jogo” com os investimentos de capital e seu deslocamento. Era preciso que o capital fosse enfim totalmente liberado dos antigos entraves de investimento de capital fixo em cidades operárias localizadas ao redor da fábrica. A mobilidade dos capitais, submetida à busca do lucro máximo (na base da taxa de lucro média) impôs a mobilidade da mão de obra, quer dizer, de fato, a liberação da mão de obra de um local de moradia obrigatoriamente localizado na proximidade da fábrica. E era evidente, razão que é a mesma da primeira (pois quando a burguesia visa extrair o máximo de lucro da exploração, que é luta de classe, ela deve ao mesmo tempo assegurar o máximo de segurança social e política à sua exploração) – era evidente que era necessário, para resistir à luta operária que nascia da dupla concentração, dispersar ao máximo os trabalhadores. Já era suficiente que eles fossem agrupados na concentração do processo de trabalho: não era necessário que eles fossem, além do mercado, agrupados também ao redor da fábrica em uma cidade operária!

Essas não são variações imaginárias, mas fatos, e eu não atribuo à burguesia um processo qualquer de intenções. Nós dispomos de uma quantidade de textos, de declarações, e de estudos redigidos por seus próprios especialistas que provam que ela estava perfeitamente consciente da característica de classe de sua “virada” em matéria política da moradia operária: dos perigos que essa “virada” se destinava a prevenir, e dos efeitos que ela esperava dessa virada.

Naturalmente, essa “virada” em termos de moradia operária, que abandona completamente a escolha da habitação ao operário (habitem como vocês quiserem, eu não quero saber), deixava ao mesmo tempo o operário entregue à lógica de uma série de processos complexos e aparentemente aleatórios, nos quais a renda fundiária urbana desempenha um papel predominante, ao lado da política a mais cínica (Haussmann destruindo os bairros operários do centro de Paris para abrir largas artérias nas quais os fuzis e a artilharia pós-1848 poderiam “fazer maravilhas”), o que contribuiu para transferir a multidão de operários para as periferias, conquistadas pouco a pouco das terras cultivadas. O capital financeiro, a renda fundiária urbana, a política resultaram assim na renovação das características de classe dos bairros do novo urbanismo capitalista. Relegados às periferias distantes, os operários passaram a morar como puderam, e quando pensamos que, concentrados na produção, eles ainda eram muito perigosos, então tentaram “mudar seu espírito”, quer dizer, sem rodeios, os convidaram a desertar da luta de classe pelo interesse da propriedade, lhes permitindo a cada um comprar sua pequena casa e seu pequeno jardim nas periferias. Essa foi a política de moradia, concebida explicitamente, sem nenhuma dissimulação, abertamente declarada indispensável à despolitização da classe operária. O operário proprietário, todas as horas gastas em pequenos trabalhos domésticos na casa e no jardim, longe de todo “café” e além disso preso aos empréstimos de longo prazo e à sua pequena família – que melhor garantia sonhar para o capitalismo!

É aqui que nós voltamos ao automóvel. Ele foi, nessa grande conversão da política burguesa em relação à força de trabalho, claramente e conscientemente concebida por Ford, que inaugurou a produção em massa, como um produto para as massas, portanto para os trabalhadores, como um meio indispensável para permitir ao operário, morando não importa onde e, portanto, a maior parte do tempo longe da fábrica, mais longe ainda talvez de sua próxima fábrica, se a primeira o dispensa, etc., de transportar-se ele mesmo de sua moradia às portas da fábrica, e de apresentar-se quase tão descansado como se eles habitassem a vizinhança imediata. Que haja fábricas para os ricos (Lancia, Ferrari) ou como a Alfa Romeo, que sejam um pouco mais especializadas em carros geralmente acima dos meios do operário comum (e depois do Alfasud, não é mais nem esse o caso), não significa nada: o carro também presta os mesmos serviços a outros trabalhadores, empregados, quadros, etc., habitando eles também longe da empresa onde trabalham. O que é importante é que as próprias Ferrari, Lancia e Alfa Romeo existem sobre a base da Fiat e de suas similares (General Motors, Ford, Citroën, WM, etc.), quer dizer sobre a base de uma gigantesca empresa imperialista, implantada no mundo inteiro, e que se consagra quase exclusivamente no seu raio automobilístico aos veículos produzidos em massa, para o consumo de massa, quer dizer de carros populares que um operário pode normalmente comprar.

Que essa realidade, ainda hoje muitas vezes incompreendida por alguns, a saber, que o automóvel faz parte integrante dos meios de deslocamento da força de trabalho, quer dizer de sua manutenção e de sua colocação à disposição [enquanto] trabalho explorado, tanto quanto os meios de transporte servem, entre outros, ao transporte de mercadorias para o mercado, ao “tornar-se mercadoria da mercadoria” (Marx)(9), não se explica pelo “progresso técnico” ou pelo “desenvolvimento da produtividade”, mas pela história de uma prodigiosa e completa mudança na estratégia da luta de classe burguesa – isso, os operários os mais conscientes da Alfa Romeo não podiam saber. Não apenas eles não poderiam ultrapassar os limites da sua própria empresa, da qual eles compreendiam muito bem a estrutura e o mecanismo, não apenas eles também não poderiam conhecer bem o que se passava na Fiat (cuja estratégia de investimento e de multiprodução à escala mundial lhes escapava), não apenas eles não poderiam saber o que se passava nos outros ramos da produção nacional italiana, mas eles não estavam evidentemente conscientes do papel muito importante que a produção em massa de automóveis havia desempenhado na reconversão estratégica do capitalismo em relação à força de trabalho no quadro da luta de classe burguesa.

Eis o que se passava e o que não se passava nesse extraordinário filme da televisão italiana, no qual os operários da Alfa Romeo falavam do seu trabalho, da sua exploração, da sua empresa capitalista, dos mecanismos do seu processo de produção e da sua política de investimentos, e também da sua forma de travar a luta de classe dentro da fábrica, a qual replicava uma luta de classe operária dum vigor excepcional.

O que se passava, era o que víamos e ouvíamos. Na televisão, víamos os operários no trabalho, e os ouvíamos dizer o que eles sabiam, no que eles haviam se tornado, nas suas lutas, conscientes. E o que eles diziam era surpreendente: que eles tenham chegados por conta própria, quer dizer na sua luta sindical, a uma tal consciência, a um tal conhecimento, mostrava que eles sabiam tanto quanto os melhores quadros e engenheiros da fábrica, e sabiam mais, pelo menos em certos aspectos.

Mas não víamos senão aquilo que víamos, e isso não ia muito longe: um homem no trabalho, é uma inteligência hábil extrema, mas não mais que isso. E não ouvíamos senão aquilo que eles diziam, senão aquilo que eles haviam descoberto. Faltava somente o resto… o resto, quer dizer todo o sistema em conjunto que rege as formas concretas e os meios concretos da luta de classe burguesa em seu conjunto, em seu antagonismo à luta de classe operária, e que resulta nesse simples fato, que parece auto evidente, mas que como tudo que é “auto evidente” é enigmático: mas por que toda a produção de automóveis repousa sobre a produção em massa de automóveis, portanto para as massas? Por que então os trabalhadores têm automóveis, portanto necessitam de automóveis? Vocês podem pensar, talvez, que eles os compram para o prazer ou por fazer no domingo um passeio em família, ir ver os companheiros? Por que os automóveis para os operários? Essa pergunta simples, que comanda tudo, os operários da Alfa Romeo não a fizeram. Eles não podiam fazê-la.

Pois não é observando, nem mesmo analisando o trabalho dos operários em seus postos, ou mesmo o processo de trabalho, ou mesmo a política de investimentos da firma, ou mesmo sua política de luta de classe na fábrica, que podemos chegar aos princípios teóricos que permitem compreender, no seu centro e nas suas manifestações, o antagonismo fundamental da luta de classe que divide as classes em classes. Para isso é preciso recorrer à única teoria que levou em consideração e à sério esse problema e o resolveu realmente e concretamente, de uma forma que a prática verifica todos os dias: a teoria marxista. Portanto, não há análise concreta da situação concreta sem um mínimo de matriz da teoria marxista. Essa matriz é indispensável para compreender dentro de qual sistema o conjunto das coisas se passam. Ora, esse sistema abrange hoje até o mercado mundial de capitais e as multinacionais, sua “política” de deslocamento dos investimentos em função da mão de obra a mais mal paga, de pesquisa e conquista de fontes de matérias primas e das flutuações dos seus preços, a “situação política” inquietante ou tranquilizadora de tal país, etc. Para compreender o lugar que ocupa tal processo de trabalho no qual está engajado tal operário em tal ramo, é preciso, ao menos nos seus grandes traços, compreender o mecanismo desse sistema.

Mas esse mesmo domínio é indispensável para conseguir ter uma “escuta” justa frente a um operário que fala da sua vida e do seu trabalho. Pois para poder escutá-lo, aquele que escuta deve saber quais perguntas fazer e quais perguntas não fazer; ele deve saber relacionar o que o trabalhador diz com o que o próprio trabalhador ignora dos efeitos do processo conjunto sobre a sua própria condição; e ele deve, finalmente e acima de tudo, através dessa relação, estar disposto a aprender o que ele não sabe e que o trabalhador sabe, mas sem saber que ele o sabe, e que ele acaba dizendo, mas de forma torta, enviesada, e até nas suas omissões e silêncios.

Que o trabalhador sabe mais do que ele sabe ou menos do que ele sabe revela uma realidade que a teoria marxista conhece bem e que ela nos descortina: os efeitos da ideologia. As condições de vida, de trabalho, de exploração, de luta, de reprodução da força de trabalho não são coisas nuas que nós podemos observar como observamos o que se passa em uma estação. Mesmo se, de acordo com a palavra de Marx(10), a máquina da grande indústria reduz os seus trabalhadores ao estado de seus próprios apêndices, os homens não são “animais máquinas”(11). Em vez disso, eles são “animais ideológicos”(12). Eles têm o que nós chamamos de “ideias” sobre eles, sobre seu trabalho e sobre o mundo.

E essas ideias podem muito bem lhes vir em ordem dispersa, de acordo com os acasos da sua experiência, elas terminam sempre por se agrupar sob sistemas de conjunto de ideias que têm uma certa coesão, na ausência de coerência total, que nós chamamos ideologias. Elas terminam sempre por se reagrupar sob elas, porque elas estavam agrupadas sob elas antes, e “os acasos da experiência” mais frequentemente não são senão a forma que assumem as ideologias para se imporem aos indivíduos sociais. As ideologias não são a soma das “ideias” dos indivíduos, elas são “sistemas”, sejam rígidos, sejam flexíveis, o mais frequente os dois. As ideologias não são “ideias” puras e simples (o que não tem nenhuma existência sob essa forma), mas como elas têm sempre uma relação com a prática, como elas inspiram sempre um certo sistema de julgamentos e de atitudes práticas, é necessário compreendê-las em seu corpo, a atividade do [corpo](13), portanto também nos corpos.

Sim, as ideologias têm corpos, de onde elas emanam, da mesma forma como elas se apoiam sobre esses corpos(14). Esses corpos são as “instituições”, por cima de todo Estado e seus diferentes aparelhos ideológicos (sistema jurídico, sistema escolar, sistema político, sistema sindical, sistemas religiosos, familiares, médicos, informacionais, culturais, etc.). No conjunto dessas regiões ideológicas se desenrola uma selvagem luta de classe ideológica, entre a ideologia dominante (aquela da classe dominante) e as ideologias dominadas.

Tudo isso, que parece nos conduzir para bem longe do trabalhador, nos traz diretamente de volta a ele. Pois ele é o lugar onde se confrontam as ideologias complexas até dentro de seus corpos, e cujo antagonismo é “naturalmente” encoberto para ele: o Estado e todo seu sistema ideológico geral, e o capitalista e todo seu sistema ideológico para uso interno, lhe propõem constantemente “ideias” pelas quais ele pode se reconhecer, “ideias” sobre o salário como preço do trabalho, sobre a promoção social, sobre a participação, sobre a livre divisão de tarefas, sobre a diferença entre a economia (a produção) e a política, sobre os valores morais que ele deve incorporar se ele quiser ser um bom pai de família, sobre a escola que garantirá o futuro dos seus filhos, isso quando não é a Igreja, a que os batiza, lhes catequisa, e lhes fala, como fala a ele, da vida eterna como recompensa dos sofrimentos deste mundo. Esse impressionante sistema de sistemas, que não é nem formal nem formalizável (o marxismo nada tem a ver com a “teoria dos sistemas”, que representa hoje a vanguarda da luta ideológica de classe do imperialismo), possui muita força de intimidação e, às vezes, atrativos compensatórios para fazer esquecer ao operário que ele não é mais do que o apêndice da máquina, quer dizer, o explorado do capitalismo. Mas o operário também tem sob seus olhos a condição real feita em relação a ele, e por pouco que ele se revolte e que sua revolta seja iluminada pela luta organizada, em seguida lhe veem outras ideias: aquelas que denunciam as primeiras como mistificações, aquelas que lhe falam da realidade da luta de classes e da necessidade de se unir para mudar suas condições de trabalho e essa sociedade que as engendra sem cessar.

Isso que eu disse é extremamente esquemático. Como fazer em algumas linhas? Elas bastam, no entanto, para fazer perceber que o trabalhador que fala de suas condições de trabalho e de vida não fala delas como um entomologista, mas como um homem seja mais ou menos submetido às formas concretas que a ideologia dominante produz para responder às suas preocupações precisas, seja mais ou menos libertado delas, e por essa libertação tornando-se mais ou menos consciente dessas mesmas condições de trabalho e de exploração, com todos os seus prolongamentos na reprodução de sua força de trabalho. É quando podemos compreender essa frase, que permanece sem dúvida enigmática, que o mesmo trabalhador possa saber mais do que ele acredita saber, e igualmente, pois o caso também se apresenta, possa saber menos do que ele acredita saber. E, paradoxalmente, não é sempre quando ele é o mais “consciente” que ele sabe automaticamente mais do que ele acredita saber. Pois ele pode ser como que cegado pelas primeiras verdades da “consciência” que ele adquiriu: isso se vê com os militantes, entre os quais o b-a-bá da consciência torna-se uma espécie de saber absoluto, que lhes torna cegos para toda uma parte da sua própria condição, e sobretudo aquela dos seus camaradas. Aqueles tomam a consciência de si como o conhecimento, e sua consciência de si bloqueia seu conhecimento. No entanto, acontece que os trabalhadores que não pretendem possuir nenhuma “consciência” particular, apenas porque eles não fazem parte de nenhum sindicato nem de nenhuma organização política, sabem verdadeiramente muito mais do que eles pensam saber. Aqueles não tomam a consciência de si pelo conhecimento, e sua consciência não bloqueia automaticamente seu conhecimento. Uma análise concreta séria deve estar atenta a essas diferenças e esses paradoxos.

Esses paradoxos não são simples curiosidades naturais: eles são de uma importância política muito grande. Pois é sobre esse[s] paradoxo[s] que está baseado na tradição marxista o primado das massas sobre as classes, e o primado das massas e as classes sobre as organizações de luta [de]classes, sobre o sindicato e sobre o partido(15). Não se trata de maneira nenhuma de cair no culto das massas, mas de ser extremamente atento ao grau de consciência dos operários, sabendo que seu grau de consciência e, a fortiori, de conhecimento não corresponde necessariamente ao grau que eles acreditam ter alcançado, portanto à sua consciência de si. Pelo primado das massas sobre as classes, das massas e das classes sobre o sindicato e sobre o partido, a tradição marxista também quer dizer mais outras coisas mais, mas no ponto que estamos tratando, ela designa, na forma de uma advertência ao bom entendedor, para o qual meia palavra basta, o simples fato que os trabalhadores não escapam à luta ideológica, portanto, à dominação da ideologia dominante, e que toda forma de consciência sindical ou política é constantemente ameaçada de ser tomada pela verdade acabada, a menos de reconhecer que os operários não organizados, portanto em princípio menos conscientes, podem saber, no seu silêncio, muito mais que aqueles que falam um pouco rápido demais em seu nome.

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Nós podemos agora abordar a pergunta mais temível, aquela que está contida no “Que” de “Que fazer?”. Mas antes dessa pergunta, há ainda uma outra, não menos temível, que está contida no próprio fato da interrogação.

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Podemos de fato, legitimamente, nos demandar a quem se dirige, a quem pode se dirigir a pergunta política “Que fazer?”. Será muito fácil responder que, já que ela é política, ela se dirige aos homens que já sabem o que é a política, a ação política, e que têm, portanto, uma consciência política para fazer a si mesmos, numa dada situação, a pergunta: “Que fazer?”. Esses homens já seriam militantes mais ou menos acostumados à organização e à luta e que teriam consciência suficiente para compreender que a luta de classes chegou a um ponto crítico para a classe operária, que a classe operária não pode mais, por exemplo, continuar com sua velha organização, sua velha linha, suas velhas práticas. Nessas condições, como Lênin em 1903, eles se fariam a pergunta: “Que fazer?”. Eles a fariam eles mesmos, como militantes (mais ou menos) conscientes do impasse histórico ou da crise das organizações de luta de classe operária. E Lênin não teria então feito senão ouvir a questão deles, retomá-la, lhe dar o máximo de importância, de força, e de publicidade, mas também com a vantagem (sobre eles) de propor respostas concretas à pergunta deles: é preciso fundar uma nova organização, e, agora, é em torno de um jornal que ela se formará, servindo de meio à unificação dos “círculos” revolucionários existentes porém dispersos; ela deve manter tais relações com o movimento operário, com o movimento camponês, ela deve conduzir tais lutas de classe unitárias-populares contra a luta de classe feudal-burguesa e seu instrumento, o czarismo, e nessa luta que será durante muito tempo clandestina, o partido deve ser organizado de uma tal maneira (centralismo democrático muito rigoroso), comportando um núcleo importante de “revolucionários profissionais”, etc.

Nessa hipótese, é, portanto, um dirigente que retoma a questão que se fazem os militantes já conscientes, e que tomando por base a teoria marxista, aprofundada pelas exigências objetivas do momento, e tomando por base as condições objetivas da luta de classe existente, e também as condições ditas “subjetivas” (grau e formas de organização existentes, que realizam e medem a “consciência” das massas e dos militantes), responde à pergunta “Que fazer?” com respostas concretas bastante precisas, as quais constituem entre si todo um sistema, por um lado, de princípios de teoria, de orientação, de organização e de ação (para uma luta de “longa duração”), e, por outro, as palavras de ordem correspondentes (para a ação imediata).

Eu insisto neste ponto. Podemos reconhecer, formalmente, uma resposta marxista teoricamente e politicamente responsável à pergunta “Que fazer?” se prestarmos atenção ao fato que ela possui necessariamente essa dimensão: uma dimensão de futuro, para a “longa duração” da luta da classe operária, que retoma àquele que faz a pergunta publicamente. Essa dimensão de futuro é o que nós chamamos a resposta da “estratégia” ou da “linha política”, e, ao mesmo tempo, os meios teóricos, organizacionais, ideológicos e práticos necessários a realizar, na luta, essa “linha”. Assim, para a França, a linha de união do povo da França(16), cimentada pela união da esquerda(17) e os meios que lhe devem corresponder.

Mas, para ser responsável, a resposta marxista comporta, além das respostas a respeito da “longa duração”, portanto da estratégia e da “linha”, respostas para a ação imediata, o que podemos, no limite, chamar de “palavras de ordem”. Naturalmente, essas “palavras de ordem” de aplicação imediata, ou para o futuro próximo, não constituem respostas de uma natureza totalmente diferente das respostas estratégicas: pois, ao contrário, não podemos concebê-las, e portanto formulá-las, logo propô-las aos militantes do partido (ou do sindicato), senão tomando por base as respostas estratégicas, portanto em função da “luta de longa duração”, que deve levar em conta, ao máximo possível, o conjunto dos elementos da situação objetiva, e da tendência dominante de seu antagonismo.

Por exemplo, uma palavra de ordem como “lutemos contra as penhoras”(18) (citado por G. Marchais em seu relatório) é uma palavra de ordem imediata, mas como palavra de ordem ela se inscreve na “linha de longa duração” de uma estratégia de classe de defesa e de unificação das massas populares na sua luta contra a exploração imperialista: ela prepara, ao seu nível, nesse terreno, “passo a passo, pedra a pedra” (G. Marchais), na defesa imediata dos operários franceses e imigrantes, pequenos aposentados, e outros “pobres”, o objetivo estratégico de ajudá-los a se unir na luta pela “mudança democrática”, e mais distante ainda, pelo socialismo.

Da mesma forma, uma palavra de ordem como “demandemos aos operários da metalurgia de Lorraine lutar pela nacionalização da siderurgia”(19), onde o Estado engole bilhões em “desperdício”(20), é uma palavra de ordem ao mesmo tempo imediata e para o futuro próximo. Ela também se inscreve, obviamente, numa “linha de longa duração” por defender toda uma categoria de trabalhadores, num ramo inteiro da produção, visando preparar, aqui também “passo a passo”, a unificação dos trabalhadores na sua luta em relação a objetivos estratégicos claros, a saber, a união popular (ou união do povo da França), da qual “a união da esquerda é o cimento” (G. Marchais).

Formalmente, essa palavra de ordem é perfeitamente justa, mas podemos nos questionar se as condições “objetivas” para sua aplicação estão reunidas. As condições “subjetivas” (a vontade dos trabalhadores de salvar seu trabalho a qualquer preço, a vontade do sindicato e do partido) estão certamente reunidas. Mas as condições objetivas, que devem levar em conta não apenas uma “linha estratégica”, mas também toda “palavra de ordem” resultante dela, têm, é preciso dizer, problemas. Não apenas porque, vitoriosa em 19 de março(21), a burguesia certamente não tem, na sua própria estratégia de longa duração, “a intenção” de nacionalizar a siderurgia. Mas também porque, qualquer que seja a classe no poder, se uma classe deseja verdadeiramente nacionalizar a siderurgia, ela colidiria com as enormes dificuldades atuais que nascem da concorrência internacional, à qual é capaz de jogar no mercado francês produtos metalúrgicos a preços de 30% a 50% inferiores aos preços da produção francesa, considerando o estado dos seus equipamentos (portanto, sua produtividade técnica), considerando o estado dos salários, e, no final das contas, considerando o estado das taxas de lucro que os capitalistas da siderurgia pretendem obter no mercado francês (pois o mercado estrangeiro já está ocupado pela produção a baixo preço do Japão e de outros países) a partir da produção metalúrgica.

Se eles não obtiverem essa taxa de lucro, atualmente inferior na metalurgia em relação aos outros ramos da produção francesa, eles serão tentados a abandonar a produção siderúrgica e a recuperar seu capital fixo, apesar das grandes dificuldades de fazê-lo (isso é, em termos práticos, quase impossível: não se recupera uma mina! nem mesmo um alto forno), a procurar outros ramos de produção, ou simplesmente, como eles fazem, a se fazerem financiar pelo Estado. E quando uma empresa ou, por mais motivos ainda, um ramo da produção capitalista se faz “financiar” pelo Estado, é sempre, por empréstimos do Estado, ou seja, por meio dos impostos, tanto dinheiro (dezenas de bilhões de novos francos) que prevalece sobre a mais-valia extorquida ao conjunto dos trabalhadores produtivos, ou seja, principalmente da classe operária, e não da classe capitalista.

Esse exemplo mostra que é às vezes relativamente fácil, quer dizer fácil, “tirar” algumas palavras de ordem imediatas da “linha estratégica de longa duração”: como “lutar contra as penhoras”, “defender o poder de compra dos trabalhadores”, “lutar para ampliar a democracia” (representação proporcional, defesa e extensão dos direitos sindicais, reconhecimento dos direitos políticos nas empresas), realizar, sob todas as formas possíveis, por ocasião de todas as lutas concretas, a unidade com os camponeses trabalhadores, com a pequeno burguesia urbana, com os intelectuais, etc. Mas, por outro lado, é muitas vezes difícil, quer dizer muito difícil, “tirar” imediatamente algumas palavras de ordem de uma “linha estratégica” justa em si mesma, pois as condições objetivas da realização dessas palavras de ordem dependem, elas mesmas, imediatamente de condições que a “linha política” ela mesma não levou seriamente em conta. Quando a linha política não levou em conta, quer dizer não reconheceu a existência dessas condições e não as analisou concretamente, é uma ilusão crer que uma palavra de ordem, mesmo “tirada” dessa linha política formalmente justa, vá poder, por milagre, fazer o trabalho da “linha política” em seu lugar. Com o que, no limite, uma palavra de ordem pode ser falsa, mesmo se ela tiver sido tirada de uma linha formalmente justa.

Essa é, evidentemente, uma situação limite, na qual a direção de um sindicato ou de um partido não fez seu trabalho de “análise concreta da situação concreta”, ou só o fez pela metade, de longe e de cima, em nome de uma “teoria” vaga que ela se contenta em aplicar. Esse é atualmente o caso do PCF e de vários partidos comunistas.

Durante anos, o PCF “decidiu” dessa forma, de cima do que deveria ser a realidade concreta, sem fazer uma análise concreta verdadeiramente séria e aprofundada, mas se contentando em aplicar aos simples fenômenos visíveis, portanto superficiais, do “concreto”, a verdade duma “teoria” seja artificial, seja em parte arbitrária, seja inexata ou insuficiente – ainda que parcialmente verdadeira – de uma “teoria” adotada por razões de legitimação teórica de sua “linha política”.

Eu quero falar da dita teoria do CME(22). O partido acreditou que a “aplicação” de uma teoria como essa feita a partir do “concreto” visível lhe daria o conhecimento verdadeiro do dito “concreto”. É assim que os funcionários do Partido ou outros comunistas escreveram, a partir da teoria do CME, uma quantidade de autoproclamadas “análises concretas” seja sobre “as classes sociais na França”, seja sobre a “pobreza”, seja sobre a Universidade, seja sobre a ciência (“a revolução científica e técnica”), seja sobre a cultura, etc. Existe algo de verdadeiro nesses ensaios, mas esses não são estudos verdadeiramente teóricos: demonstrá-lo seria, todos o sabem ou suspeitam, uma brincadeira de criança. A lista é muito longa, e se o CDLP(23) está em dificuldade, o encalhe dessas obras medíocres sem dúvida não acontece por acaso: elas não interessaram ninguém sério e permaneceram nas lojas.

Esse fracasso público, como vários outros exemplos, torna evidente a via que não deve ser seguida: a da simples aplicação ao concreto de uma teoria, eu não digo apenas de uma teoria falsa ou falsificada em princípio, mas de uma teoria em geral, incluindo uma teoria verdadeira. Se vocês pegarem a teoria marxista, suposta verdadeira, e vocês decidirem aplicá-la ao concreto e esperarem dessa “aplicação” a produção da própria verdade do concreto, vocês podem ficar esperando. Pois essa operação de aplicação supõe que tenhamos uma ideia completamente falsa da própria teoria marxista.

Se vocês aplicarem uma teoria pré-existente ao concreto para conhecerem esse concreto, vocês estarão supondo inevitavelmente que a teoria já contém, nela mesma, ainda que em germe, mas em todo o caso em princípio, a verdade do concreto que vocês fingem esperar da aplicação da teoria. E se vocês aceitam essa posição, e se vocês a generalizam, isso supõe que a teoria marxista possui nela mesma e de antemão, sob a forma teórica, a verdade de tudo que pode se apresentar no mundo sob a forma de “concreto”. Eu não procedo aqui a uma crítica sofista, eu digo as coisas como elas são, e a princípio todo esse procedimento é muito simples (ainda que ele se revista, no mais das vezes, de formas extremamente complicadas, justamente para esconder a sua impostura). Se a teoria marxista é de antemão a verdade de todo o concreto, quer dizer, de todas as situações concretas, quer dizer de tudo o que se pode produzir de novo e imprevisto na história (e nós fomos servidos, nos últimos vinte anos, do que era imprevisível, do inimaginável!), isso quer dizer que ela não é uma teoria “de caráter científico” ou “operatório” (pouco importa a palavra), mas uma filosofia absoluta, que sabe tudo, absolutamente tudo de antemão, pois que ela é a “ciência dos princípios primeiros e últimos”, de acordo com uma formulação de Aristóteles(24) que diz bem claramente seu significado.

O absurdo de tal pretensão salta imediatamente aos olhos, se quisermos considerar duas coisas. Primeiro, que o “concreto”, que é isso em que os homens vivem e isso no qual eles reagem, se revoltam ou sofrem, agem ou se resignam, muda todo o tempo, e nunca se repete uma segunda vez. Isso é uma verdade elementar que não apenas os historiadores, que trabalham sobre as mudanças, mesmo quando eles o invocam para explicar algumas grandes estabilidades, mas que os homens simples conhecem bem. O mesmo sol se levanta todas as manhãs, os corpos caem sempre da mesma maneira, o sangue circula sempre (tirando os problemas patológicos) de acordo com o mesmo circuito, etc. Mas na vida social, incluindo nas grandes estabilidades dos grandes impérios da história imóvel, sempre há alguma coisa que sempre está em mudança. Em todo caso, se podemos discutir sobre a imobilidade de certos modos de produção, que se reproduzem tais quais, quase sem modificações, e as sociedades que deles resultam, está claro que, ao menos na sociedade que nós conhecemos, o modo de produção capitalista, tudo está sempre em vias de mudar.

Não somente tal invenção técnica muda as bases materiais de tal produção (por exemplo, os transportes, que passaram da máquina a vapor à energia elétrica e à energia química – os aviões à reação e as fusões), ou criam uma nova (o petróleo e seus inumeráveis derivados sucedendo o carvão e seus derivados, os componentes eletrônicos que criaram uma forma totalmente inédita de comunicação, e fornecem os meios, pelos computadores, de organizar no detalhe o processo de produção e de prever a circulação e a venda dos produtos em situações prodigiosamente complexas). Mas antes de tudo, as formas da reprodução da produção que são sempre “ampliadas” (o capitalismo acha sempre nas crises das quais retoma um novo ímpeto, veja a crise de 1929, inclusive pela guerra, forma típica de resolução das crises mais graves do imperialismo), e essas formas da reprodução ampliada não são absolutamente formas técnicas, caso no qual não compreenderíamos a necessidade de sua ampliação, mas em última instância, formas da luta de classe da burguesia imperialista nacional e mundial contra a classe operária nacional e os povos recentemente libertados da opressão política do mundo.

Não apenas, portanto, o concreto, é o que muda (ao menos na nossa sociedade), mas o que muda à toda velocidade e cada vez mais rápido. Que o nosso século seja o século da velocidade se deve às necessidades da luta de classe burguesa: fazer circular o mais rápido possível o capital para extrair a maior mais-valia possível; reduzir o tempo de circulação das frações do capital ao mínimo para multiplicar o máximo a mais-valia; acelerar os ritmos no processo de trabalho para extrair o mais possível de mais-valia; e realizar o máximo de mais-valia a partir do capital investido nas máquinas, utilizando-as completamente antes que seja necessário trocá-las, quando a concorrência jogará nos mercados novas máquinas mais baratas ou de maior produtividade, etc. A velocidade do nosso século, que acabou virando um tema literário ou um tema de lamentação não se deve em última instância aos automóveis (velocidade limitada nas autoestradas), aviões ou foguetes, mas a essa aceleração do ciclo da reprodução ampliada do capital, que é o mesmo que o crescimento da exploração pela luta de classe capitalista – o que dá todo o sentido à luta operária contra os ritmos, contra a divisão e a organização do trabalho, e contra a velocidade do desgaste da força de trabalho, arrastado diretamente nesse processo que caminha sozinho.

Se, portanto, tudo muda, se o concreto é o que muda, está bem claro que a pretensão de uma teoria de deter nela própria de antemão toda a verdade disso que muda e continuará mudando é propriamente demencial e absurdo. E por sobre o mercado, se o concreto é isso que muda, não é o que nós “vemos” mudar simplesmente que é a razão da mudança. Essa observação é da maior importância para lutar contra uma falsa ideia da teoria marxista. Pois existem marxistas que dizem: está claro, a teoria marxista não pode pretender deter de antemão a verdade sobre seu objeto, pois seu objeto é, em essência, “histórico”, ela não pode conhecê-lo de antemão, ela não pode conhecê-lo a não ser submetendo-se, a si própria, ao caráter histórico do seu objeto, se atribuindo, a si mesma, como teoria, um caráter histórico que lhe permita não apenas não trair seu objeto pela pretensão de ser de antemão a verdade absoluta, mas de lhe compreender verdadeiramente prevenindo-se desse perigo. A teoria marxista compreendida dessa forma não pode prevenir-se desse perigo a não ser dando a si mesma as características preventivas do seu objeto: as características históricas. Essa é a interpretação da teoria marxista como historicista, e do marxismo como ”historicismo absoluto” ao qual ficou ligado o nome de Gramsci(25).


Notas de rodapé:

(1) V. Lênin. “O Comunismo”. Em Obras, tradução francesa Paris/Moscou, Edições Sociais/Edições do Progresso, 1956s., t. XXXI, p. 168. Mao Tsé-tung cita essa fórmula em “Da Contradição”, Obras Escolhidas, t. I, Pequim, Edições em Línguas Estrangeiras, 1966, p. 361. (retornar ao texto)

(2) L. Althusser, Resposta à John Lewis, Paris, Maspero, “Teoria”, 1973, p. 28 sg. (retornar ao texto)

(3) “Nos diga sua vida”; “Nós queremos reunir sua opinião, solicitar sua participação em uma ampla consulta, revelar a verdade sobre sua vida cotidiana, a miséria, as lutas, a esperança”; “Ação, verdade, esperança: cem perguntas para 30.000 respostas para L’Humanité Dimanche. Conhecer-se”, L’Humanité Dimanche, 5-11 de janeiro de 1977, nº 49, capa e p. 27. “Durante quatro semanas […], centenas de milhares de comunistas vão visitar seus vizinhos para lhes propor que descrevam sua vida […] nesses “cadernos da miséria e da esperança hoje”. Trata-se, realizada pelos próprios franceses, de uma espécie de imensa sondagem […]”. “Revelar a verdade e fazer recuar a injustiça, declarou Georges Marchais”, L’Humanité, 7 de janeiro de 1977, p. 4. Ver L. Althusser, Carta à H. Rytmann, de 8 de fevereiro de 1977, Cartas à Hélène, 1947-1980, ed. O. Corpet, Paris, Grasset/Imec, 2011, p. 679-680. (retornar ao texto)

(4) “L’Humanité ecoou cotidianamente os testemunhos reunidos nos cadernos da miséria e da esperança”. “Testemunho incomparável sobre a vida e a esperança de um povo”, L’Humanité, 14 de fevereiro de 1977, p. 1. Essa campanha “Miséria e esperança” continuou ao longo de todo o ano de 1977 e um pouco depois. (retornar ao texto)

(5) Anotação à mão de Althusser, colocada na margem: “Não se trata de perguntar, mas de fazer refletir em voz alta: as pessoas descobrem coisas que elas ignoravam saber”. Ver p. 82. (retornar ao texto)

(6) Trata-se provavelmente do documentário “Apontamentos sobre o trabalho de fábrica: uma vida na fábrica”, filmado pela equipe “Cronaca” da RAI 2 na fábrica Arese-Portello da Alfa Romeo e transmitido pela primeira vez em 28 de dezembro de 1977. (retornar ao texto)

(7) “George Marchais: avançar na via do XXII Congresso”, L’Humanité, 28 de abril de 1978, p. 7. (retornar ao texto)

(8) K. Marx, F. Engels [M. Hess, J. Weydemeyer], A Ideologia Alemã, trad. M. Rubel com L. Évrard e L. Janover, em K. Marx, Obras, ed. M. Rubel, t. III: Filosofia, Paris, Gallimard, “Biblioteca da Plêiade”, 1982, p. 1120-1123; “O Manifesto do Partido Comunista”, trad. M. Rubel e L. Évrard, Obras, t. I: Economia, 1, Paris, Gallimard, “Biblioteca da Plêiade”, 1963, p. 170 sq. (retornar ao texto)

(9) K. Marx, F. Engels, Teorias da Mais-Valia, Obras, t. 26, 2ª parte, Berlim, Dietz, 1974, p. 246. (retornar ao texto)

(10) “O Manifesto do Partido Comunista”, op. cit., p. 168. Ver L. Althusser, “Sustentação de Tese em Amiens” (1975), em Posições, 2ª ed., Paris, Edições sociais, “Essencial”, 1982, p. 181. (retornar ao texto)

(11) Ver L. Althusser, Ser marxista em filosofia (1976), ed. G. M. Goshgarian, Paris, Puf, “Perspectivas críticas”, 2015, p. 89. (retornar ao texto)

(12) L. Althusser, “Teoria marxista e partido comunista” (1966-1967, inédito), Imec, Fundo Althusser, Alt2.A07-01.10, p. 87; Sobre a reprodução (1960), ed. J. Bidet, Paris, Puf, “Marx Atual Confrontos”, 2ª ed., 2011, nota 9, p. 120, p. 295; Iniciação à filosofia para não filósofos (1977), ed. G. M. Goshgarian, Paris, Puf, “Perspectivas críticas”, 2014, p. 228, p. 384; “Filosofia e marxismo. Entrevistas com Fernanda Navarro (1984-1987)”, em Sobre a Filosofia, Paris, Gallimard/NRF, “O Infinito”, 1994, p. 70. (retornar ao texto)

(13) Acréscimo manuscrito dificilmente legível. É possível que Althusser tenha querido escrever “é necessário compreendê-las na atividade dos corpos, portanto também nos corpos”. (retornar ao texto)

(14) M. Foucalt o demonstrou, mas com uma linguagem teórica diferente, que resulta ao que ele evitou até aqui, colocar o problema do Estado e, portanto, dos aparelhos ideológicos do Estado e, portanto, da ideologia [nota de Althusser]. (retornar ao texto)

(15) L. Althusser, Carta de 25 de outubro de 1967 à Roberto Fernández Retamar, Casa das Américas, janeiro-março 1993, nº 190, p. 60 sg. (retornar ao texto)

(16) Formulação posta em circulação pelo PCF ao redor de 1974. O XXII Congresso (1976) do Partido definiu a união do povo da França como uma “grande reunião popular […] de todas as vítimas das feudalidades financeiras, contra a casta estreita que domina e sufoca o país e para uma mudança democrática que lhes assentará um golpe severo ao realizar reformas democráticas”. “Georges Marchais: Avançar …”, art. cit., p. 9. Ver L. Althusser, As Vacas negras: entrevista imaginária (a doença do XXII Congresso) (1976), ed. G. M. Goshgarian, Paris, Puf, “Perspectivas críticas”, 2016, p. 449. (retornar ao texto)

(17) Aliança eleitoral do PCF, do Partido socialista e do Movimento dos Radicais de esquerda, que concluem, em 1972, um “Programa comum” de governo. (retornar ao texto)

(18) Nos dois parágrafos seguintes, as palavras entre aspas são citações, às vezes aproximadas, de algumas palavras de ordem do PCF encontradas no relatório apresentado por Marchais ao Comitê central do Partido em 27 de abril de 1978. Georges Marchais: avançar… “, art. citado. (retornar ao texto)

(19) Ibid., p. 10. (retornar ao texto)

(20) Althusser colocou um sinal de nota de rodapé nesse local, sem fazer a nota. (retornar ao texto)

(21) Em 19 de março de 1978, em seguida à ruptura da união de esquerda, ocorrida em 22 de setembro de 1977, a direita teve uma vitória inesperada no segundo turno das eleições legislativas, obtendo aproximadamente 51% dos votos. (retornar ao texto)

(22) A teoria do capitalismo monopolista de Estado foi adotada pelo PCF após o seu XVIII Congresso em 1967. A partir de 1969, Althusser elaborou uma crítica em uma série de textos dos quais a maior parte permaneceu inédita. Ver L. Althusser, As Vacas negras…, op. cit., p. 391 sg.; XXII Congresso, Paris, Maspero, “Teoria”, 1977, p. 21 sg.; O que não pode mais durar no Partido comunista francês, Paris, Maspero, “Teoria”, 1978, p. 92 sg. (retornar ao texto)

(23) Centro de difusão do livro e da imprensa, organismo encarregado da venda e da difusão dos produtos das editoras ligadas ao PCF. (retornar ao texto)

(24) Citação aproximada de Metafísica, 981 b 28-29. (retornar ao texto)

(25) “A filosofia da práxis é o ‘historicismo’ absoluto, a mundialização e a terrestridade absoluta do pensamento, um humanismo absoluto da história”, Cadernos do Cárcere, ed. R. Paris, t. III, trad. P. Fulchignoni, G. Granel e N. Negri, Paris, Gallimard/NRF, “Biblioteca de filosofia”, 1978, Caderno 11, § 27, p. 235. “O imanentismo hegeliano torna-se historicismo, mas não um historicismo absoluto senão com a filosofia da práxis, historicismo absoluto ou humanismo absoluto”, Cadernos do Cárcere, ed. R. Paris, t. IV, trad. F. Bouillot e G. Granel, Paris, Gallimard/NRF, “Biblioteca de filosofia”, 1990, Caderno 15, § 61, p. 176. (retornar ao texto)

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Inclusão 05/01/2020: